Segunda-feira, 21 de Abril de 2025

Artigo: ‘Morro dos Cavalos: os indignos e os indignados’, por João Barbiero

2025-04-08 às 13:53

Certa vez, parafraseando Darcy Ribeiro, o ensaísta uruguaio Eduardo Galeano disparou uma frase polêmica: “o mundo é dividido, sobretudo, entre indignos e indignados, e já sabes: os indignos são os que mandam.” Foi pensando na frase de Galeano que terminei de assistir o vídeo desnecessário e gratuito que o presidente da Fiesc, Mario Cesar Aguiar, publicou atribuindo a culpa da tragédia do Morro dos Cavalos ao Governo Lula.

Há várias camadas de incoerência na manifestação pobre do empresário que, querendo se mostrar indignado, acabou provando ser indigno do espaço que ocupa.

Em primeiro lugar, a crueldade em se usar uma tragédia desse tamanho para fins políticos. Misturando alhos com bugalhos, o presidente da Fiesc desprezou o sentimento de um estado que ainda está em luto.

Em segundo lugar, e considerando a pretensa incapacidade intelectual do povo catarinense em fazer juízo sobre o acidente, o mandatário incauto quis transformar um incidente de imprudência e/ou fatalidade no trânsito em uma questão de estado. É um menosprezo sem tamanho com a inteligência das pessoas.

Em terceiro lugar, o vídeo parece até um chiste, uma brincadeira de mau gosto, vindo de quem durante quase uma década esteve calado, dormindo em berço esplêndido, enquanto o ronco de jetskis e motocicletas atormentavam o eleitor catarinense cada vez mais desiludido com o voto dado em vão ao ladrão de joias, que nada fez pelas estradas do Estado.

Por fim, e tragicamente, a Fiesc mostra que está indo no mesmo caminho perigoso e raivoso do Governador do Estado. Jorginho já havia se saído mal quando desprezou os atingidos pelas cheias em Balneário Camboriú no início do ano. Agora o presidente da Fiesc emula esse espírito e resolve também entrar em um debate usando uma tragédia da pior forma possível, para fazer politicagem contra seus desafetos políticos.

Não há nenhum problema em empresários se envolverem com política. Desde que paguem seus impostos e estejam elegíveis, há um estrada aberta para isso. Basta se candidatar e colocar o nome ao escrutínio popular. Entretanto, usar a entidade como palanque para esse tipo de manifestação, mostra que alguns não são minimante dignos do espaço que ocupam.

João Barbiero é advogado e comunicador