Sábado, 19 de Abril de 2025

Governo Trump registra Erika Hilton com gênero masculino em visto diplomático

Deputada federal brasileira denuncia transfobia de Estado após ter identidade de gênero ignorada em visto para evento em Harvard; Itamaraty estuda resposta
2025-04-16 às 14:09

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), uma das primeiras parlamentares trans da Câmara dos Deputados, denunciou nesta quarta-feira (16) que o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, emitiu um visto diplomático registrando-a como do gênero masculino. O documento foi expedido para sua participação oficial na Brazil Conference at Harvard & MIT 2025, mas acabou levando a parlamentar a cancelar sua viagem em protesto.

Segundo Hilton, o consulado americano em Brasília ignorou sua certidão de nascimento retificada e passaporte brasileiro, ambos reconhecendo seu gênero feminino, e utilizou o “sexo biológico” masculino na emissão do visto. Em 2023, sob a administração anterior, ela havia recebido visto com a identificação correta, conforme sua autodeterminação de gênero.

A mudança foi atribuída a um decreto assinado por Trump em janeiro de 2025, que passou a não reconhecer pessoas transgênero em documentos oficiais dos EUA, restringindo as opções de gênero a masculino ou feminino e exigindo que o registro siga o sexo de nascimento. A medida faz parte de uma série de restrições impostas pela atual gestão americana a direitos da população LGBTQIA+.

Hilton classificou o episódio como “transfobia de Estado” e destacou que se trata também de um problema diplomático, já que houve desrespeito à documentação oficial brasileira. “É uma situação de violência, de desrespeito, de abuso, inclusive, do poder, porque viola um documento brasileiro. É uma expressão escancarada, perversa, cruel, do que é a transfobia de Estado praticada pelo governo americano”, afirmou.

A deputada acionou o Itamaraty e anunciou que levará o caso à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, cobrando uma resposta internacional à política adotada pelo governo Trump. Ela também defendeu que o governo brasileiro responda diplomaticamente ao ocorrido.

A decisão da embaixada americana gerou repercussão entre ativistas e autoridades brasileiras, que apontam para o agravamento das políticas excludentes e discriminatórias contra pessoas trans nos Estados Unidos. O Itamaraty ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso.