Sábado, 19 de Abril de 2025

Cientistas criam ‘nugget’ em laboratório sem usar carne de frango

Inovação pode ajudar a combater a fome e reduzir impactos ambientais, mas ainda enfrenta desafios técnicos
2025-04-17 às 17:53

Pesquisadores da Universidade de Tóquio deram um passo inédito na ciência alimentar ao criar, pela primeira vez, um “nugget” de frango feito inteiramente em laboratório. O feito, liderado pelo engenheiro de sistemas biohíbridos Shoji Takeuchi, resultou em um pedaço de carne com sete centímetros de comprimento e 11 gramas de peso, aproximando-se do tamanho de um nugget tradicional.

A inovação está no método: os cientistas desenvolveram um biorreator equipado com mais de mil fibras ocas semipermeáveis, que funcionam como vasos sanguíneos artificiais. Essas fibras fornecem oxigênio e nutrientes essenciais para que as células musculares cresçam em um tecido espesso e estruturado, superando o principal desafio do cultivo de carne em laboratório — manter células vivas em cortes maiores, algo que até então limitava a produção a fragmentos pequenos, semelhantes à carne moída.

O resultado é um pedaço único de carne de frango, com textura e estrutura mais próximas das carnes convencionais, considerado um marco técnico por especialistas internacionais. Até então, produtos de carne cultivada disponíveis no mercado eram compostos por pequenos fragmentos unidos por aglutinantes ou impressão 3D, sem replicar cortes inteiros.

Potencial para combater a fome e reduzir impactos ambientais

A carne cultivada em laboratório é vista como uma alternativa promissora para enfrentar a insegurança alimentar, especialmente em regiões onde a produção de carne convencional é limitada. Além disso, ela pode contribuir significativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa, já que a pecuária tradicional é responsável por parcela expressiva dessas emissões globais.

Estudos apontam que a produção de carne cultivada pode consumir até 96% menos água, emitir até 96% menos gases de efeito estufa e utilizar 99% menos terra, em comparação com a pecuária convencional. Isso também elimina a necessidade de abate de animais e reduz o uso de antibióticos, contribuindo para o bem-estar animal e a segurança alimentar.

No Brasil, por exemplo, a produção de carne bovina emite mais do que o dobro do limite de gases de efeito estufa necessário para cumprir metas ambientais internacionais. A adoção de carnes cultivadas poderia ajudar o país e o mundo a avançar em direção a sistemas alimentares mais sustentáveis.

Desafios e próximos passos

Apesar do avanço, o “nugget” criado ainda não está pronto para o consumo: foi produzido com materiais não alimentares e não foi provado pela equipe. Os pesquisadores negociam com empresas para desenvolver a tecnologia em escala comercial, com expectativa de que produtos similares possam chegar ao mercado em cinco a dez anos.