Segunda-feira, 28 de Abril de 2025

Artigo: “Há algo muito estranho no mundo do futebol.bet”, por Oliveiros Marques

2025-04-27 às 11:22

O futebol não é apenas uma paixão nacional. Também é um produto consumido por milhões de homens e mulheres em todo o território brasileiro. São ingressos comprados a preço de ouro — o que, por si só, tem afastado os pobres dos estádios, promovendo um branqueamento das arquibancadas. É a compra de camisetas, originais ou não, todas estampadas com marcas de patrocinadores. É a audiência nas transmissões de canais pagos — seja no gatonet ou não, e lá estão os anúncios sendo exibidos. E também é o consumo de programas esportivos nas rádios, na TV e nos portais de notícias. Todas essas atividades contribuindo para o movimento de bilhões de reais.

Portanto, não dá mais para tratar essa indústria como algo intocável. Ela impacta financeira e emocionalmente a vida de milhões de brasileiros e brasileiras. E os sinais de que há algo podre nesse reino são cada vez mais evidentes. Não é necessário nem o VAR para verificar.

Um pênalti claro não marcado altera o resultado de um espetáculo para o qual você pagou ingresso ou assinatura para assistir. Uma expulsão ou um cartão amarelo errado, a mesma coisa. Nessas situações, quem consome o produto está sendo lesado. É, sim, caso de direito do consumidor sendo desrespeitado.

Os chamados “erros de arbitragem” estão se espalhando pelos estádios do país. O que acontece hoje no futebol brasileiro é um escândalo. É, sim, caso de polícia — Polícia Federal, para ser mais exato. E não estou falando só de manipulação de apostas. O buraco pode ser ainda mais fundo.

Por isso, penso que os encaminhamentos da CPI das bets possam ser insuficientes. Limitar o acesso às plataformas de apostas online, travar gastos com cartão de crédito, restringir propagandas e tornar mais rigoroso o cadastro de apostadores são medidas positivas — mas paliativas.

A chegada dessas plataformas de apostas pode ser uma coincidência. Mas o fato é que, de uma hora para outra, a qualidade da arbitragem — que já não era grande coisa — despencou. E como as regras do futebol permitem muita margem para subjetividade, tem gente deitando e rolando nos “erros”, seja no gramado natural ou no sintético. E não adianta depois as entidades que organizam o futebol reconhecerem os equívocos. O estrago já foi feito. Nenhum resultado volta atrás. Nenhuma expulsão é anulada. Nenhum pênalti é remarcado.

É preciso meter a mão nessa cumbuca. Porque há, sim, coisas a serem encontradas. E disso não restam dúvidas.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político