Quarta-feira, 30 de Abril de 2025

Cardeal Becciu desiste oficialmente do conclave após pressão do Vaticano

Ex-braço direito do Papa Francisco, condenado por peculato, acata decisão e não participará da eleição do novo pontífice
2025-04-29 às 14:24

O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu, de 76 anos, anunciou nesta terça-feira (29) que não participará do conclave que elegerá o próximo papa, acatando oficialmente a decisão da Igreja Católica que o vetou do processo. A decisão encerra dias de polêmica e pressão nos bastidores do Vaticano, após Becciu ter tentado reverter sua exclusão e insistido em seu direito de voto, mesmo após condenação judicial e perda dos direitos ligados ao cardinalato.

Em comunicado divulgado por seu advogado, Becciu declarou: “Tendo em mente o bem da Igreja, que servi e continuarei a servir com fidelidade e amor, bem como contribuir à comunhão e à serenidade do Conclave, decidi obedecer, como sempre fiz, à vontade do Papa Francisco de não entrar em Conclave, permanecendo convencido de minha inocência”.

A exclusão de Becciu do conclave foi formalizada por meio de dois documentos assinados pelo Papa Francisco, apresentados ao cardeal pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin. As cartas, datadas de 2023 e março de 2025, reafirmam a decisão do pontífice de impedir a participação de Becciu na escolha do novo papa, apesar de o religioso alegar que seus direitos como cardeal seriam vitalícios.

A polêmica ganhou força após a morte do Papa Francisco, quando Becciu viajou a Roma e pressionou para ser admitido no conclave. Sua presença chegou a paralisar os debates entre cardeais, tornando-se o principal tema das reuniões prévias à eleição do novo pontífice.

Becciu, que já foi um dos homens mais poderosos do Vaticano e chegou a ser apontado como possível sucessor de Francisco, caiu em desgraça após ser investigado e condenado por envolvimento em um escândalo financeiro. Em dezembro de 2023, o Tribunal do Vaticano o sentenciou a cinco anos e meio de prisão por peculato e abuso de poder, além de inabilitação perpétua para cargos públicos. Ele recorreu da decisão e permanece em liberdade.

O caso que levou à sua condenação envolve a compra de um imóvel de luxo em Londres, no valor de mais de US$ 200 milhões, com recursos que deveriam ter sido destinados a obras de caridade. Como chefe de gabinete do papa à época, Becciu assinou o acordo e também foi acusado de desviar recursos para beneficiar sua diocese natal na Sardenha e familiares.