REVISTA D’PONTA—A história do rádio como meio de comunicação começa um pouco antes. Ainda que as primeiras transmissões sejam datadas dos idos de 1900, o formato como concebemos hoje – com transmissão de voz e não somente de sinais – ocorreu em 1921. No Brasil, o rádio foi apresentado na Exposição do Centenário da Independência, em 1923, quando empresários norte-americanos instalaram uma estação no Corcovado. A primeira transmissão tocou a ópera “O Guarani” – a tradicional abertura da “Voz do Brasil” – e um pronunciamento do então presidente Epitácio Pessoa.
A primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, da Academia Brasileira de Ciências, transmitia óperas, poesia e informações sobre o circuito cultural da então capital do país. A massificação e profissionalização se iniciou a partir de 1927, com a possibilidade de transmissão de sons de aparelhos que tocavam discos diretamente ao microfone. É a fase dos programas de auditório, radionovelas e humorísticos.
O pioneirismo da radiodifusão em Ponta Grossa é marcado, a partir de 1940, pela inauguração da PRJ-2, Rádio Clube Ponta-grossense, pelos empresários Abílio Holzmann e Manoel Machuca. “Ela acompanha e registra, juntamente com os veículos impressos [“O Progresso” (1907), nomeado “Diário dos Campos” em 1913, e, algumas décadas depois, também o “Jornal da Manhã” (1954)] o cotidiano de uma cidade que cresce rápido nas primeiras décadas do século XX”, explica o professor Sérgio Luiz Gadini, docente do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UEPG (PPGJor). “É o rádio que marca a vida da Princesa dos Campos Gerais com informação, entretenimento e debatendo os problemas urbanos vivenciados pela população”, acrescenta.
Quatro décadas depois, em 1980, surge a primeira FM: Lagoa Dourada, que chegou a ter um hiato e a renascer como webradio antes de voltar a operar em 2020. A digitalização da TV permitiu que, a partir de 2017, as cinco emissoras AM de Ponta Grossa migrassem para o FM e pudessem ser sintonizadas em tablets e celulares, com vistas ao incremento de audiência e faturamento.
Das 12 emissoras sintonizadas no espectro radiofônico ponta-grossense, uma é comunitária (Princesa FM); uma é educativa (Cescage FM); e as demais são comerciais: as locais – Lagoa Dourada, Mundi, MZ, Sant’Ana e Clube – e as que fazem parte de redes – Aleluia, Mix, T, Massa, Jovem Pan e CBN. Do AM, migraram Sant’Ana, Clube, Central (hoje Massa), CBN e Difusora, extinta em 2020.
O rádio, na visão de Gadini, não só sobrevive como se sobressai como um veículo de relevante alcance e credibilidade. “A presença do rádio na vida cotidiana de moradores de qualquer lugar do mundo ainda tem referência na produção cultural que se propaga por ondas sonoras ou redes digitais”, aponta.
Conheça, nas próximas páginas, os donos das vozes que fazem o rádio acontecer em Ponta Grossa.
“O rádio acompanhou a evolução e cresceu no conceito do povo e dos anunciantes” (Nilson de Oliveira, da Mundi FM)
Um dos grandes veteranos do rádio ponta-grossense, Nilson de Oliveira começou na Rede de Alto-Falantes (RAF), a convite de Carlos Afonso Buck, na virada de 1959 para 1960. Ainda em 1960, foi servir ao Governo em Brasília (DF) e, no retorno, começou definitivamente no rádio, na Difusora AM. Além da locução, dirigiu algumas emissoras e, há 20 anos, passou a gerir a antiga Rádio Central do Paraná – que passou a ser afiliada da Massa FM a partir de 2017. “Nilson de Oliveira LTDA.” é também a razão social da Mundi FM, onde apresenta de segunda a sexta o programa que leva seu nome, ao lado de Marcelo Franco e Lucas Franco, com eventuais participações dos filhos Sandro Alex e Marcelo Rangel, também radialistas.
“O rádio foi inovando através dos tempos. Seu formato original era música, esporte e notícia. O rádio foi conservador, mas tinha a sua parte eclética, com muitas brincadeiras, perguntas e respostas. Telefone no ar, sempre interagindo com os ouvintes. Essa era a parte gostosa”, relembra, mencionando que sente falta do lado mais romântico do rádio, com as novelas radiofonizadas, os conselhos e a leitura de cartas e de poesias, que tocavam a alma dos ouvintes.
Para ele, cada dia no ar é divertido e marcante, como se fosse a primeira vez. “Foi muito prazeroso trabalhar ao lado do Omar Cardoso”, relembra, citando o astrólogo Omar Cardoso (1921-1978), que apresentava suas previsões no “Bom Dia, Mesmo”, na Bandeirantes de São Paulo, com retransmissão para uma centena de emissoras. Nilson também lembra com saudade quando apresentou grandes nomes, como Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Agnaldo Timóteo e o presidente Humberto Alencar Castelo Branco.
Ao lado de Luiz Fernando Fedeger, apresentou, na Concha Acústica da praça Barão do Rio Branco, em Ponta Grossa, a Campanha de Ouro Para o Bem do Brasil, em 1964. A campanha, iniciada pelos Diários Associados, visava arrecadar recursos para saldar a dívida externa. Também apresentou um show em praça pública, para mais de 30 mil pessoas, a convite do então general-comandante da ID 5ª (Infantaria Divisionária da 5ª Divisão de Infantaria, atualmente 5ª Brigada de Cavalaria Blindada).
“No rádio, aprendemos muito com o radiojornalismo sério, integrando o povo. É a primeira linha do aprendizado, porque ali você acaba aprendendo nem que você não queira. Você se aprimora em um serviço público que você tem nas obrigações diárias. As redes sociais têm a sua parte de contribuição nas tarefas cotidianas”, analisa.
Na visão do radialista, a importância do rádio se mantém intacta. “O rádio acompanhou a evolução e cresceu no conceito do povo e dos anunciantes. Estabeleceu recordes de audiência, é respeitado, tem credibilidade, é prestigiado. É uma tradição que não morre e que se inscreveu na história como o veículo de maior aceitação popular no mundo. Sua marca de audiência continua sendo expressiva”, avalia.
“O papel do rádio é fundamental. É aquele veículo que pega de primeira uma situação de ajuda, de contribuição para a sociedade” (Osires Nadal, da Lagoa Dourada FM)
Outro veterano do rádio ponta-grossense, Osires Nadal foi carinhosamente apelidado de Ziroca nos seus primórdios no rádio, entre os 12 e 13 anos, nos idos de 1957, quando se mudou de Uvaranas e foi morar na rua XV de Novembro, ao lado da Rádio Clube. Atualmente, está no ar, às 11h e às 19h, nas duas edições diárias do Esporte Lagoa Dourada.
Ainda criança, Nadal participou do Garoto Nescafé, programa de auditório da Clube, comandado por Luiz Frederico Daitschmann e Barros Júnior. Ali conheceu João Alberto Gaspar e pediu que ele o ensinasse a trabalhar no rádio. Começou como rádio-escuta, depois atuou como plantonista, repórter, apresentador e narrador, além de trabalhar no comercial, com a venda de espaço para patrocinadores. Com o tempo, consagrou-se como locutor esportivo, cargo que ocupa até hoje.
A tecnologia, na visão de Nadal, facilitou bastante a cobertura esportiva, pois não é mais necessário puxar cabo de microfone nem solicitar linha telefônica no estádio, sendo tudo feito pela internet, com equipamentos próprios. Para fazer suas transmissões ao vivo a distancia, ele o aplicativo Aires Studio, que é instalado no celular e adaptado ao microfone, e que transmite a locução para o receptor da emissora. “Os microfones também mudaram de qualidade, assim como os fones, os chamados auriculares, que passaram daqueles fones enormes para pequenos. A coisa mudou, e mudou para melhor”, avalia.
Homenageado pela FIFA na Copa do Catar, em 2022, Nadal já cobriu 12 Copas do Mundo: o Tri em 1970, a Copa da Espanha (1982) e todas as subsequentes. Nesses 67 anos de experiência, viveu momentos marcantes. Em 13 de dezembro de 1981, cobriu em Tóquio, no Japão, a vitória do Flamengo sobre o Liverpool, por 3 a 0, no Mundial de Clubes, depois de se preparar seis meses para isso. “Foi um momento de muita alegria e a prova de que, quando você quer e pode fazer, você vai lá e faz”, diz.
Em 1965, passou 15 dias em Santos (SP) para entrevistar Pelé. Conviveu com ele na Vila Belmiro nesse período e conheceu a casa do Rei do Futebol e sua família. “Convivi, aprendi e fiz uma belíssima entrevista com ele”, relembra, mencionando, porém, que essa entrevista teve um contratempo nos bastidores. “Voltei para o hotel feliz da vida, mas, quando cheguei, a fita do gravador tinha enrolado toda e eu tinha perdido a entrevista”, conta. Osires, humildemente, procurou Pelé no dia seguinte para regravar e o encontrou jogando bilhar com o elenco do Santos. Deu tão certo que Pelé gravou até a abertura do programa: “Alô, amigos da Parada Esportiva do Ziroca, aqui é Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.”
Nadal atribui a si mesmo a criação e consolidação do horário das 11h como o horário do esporte no rádio em Ponta Grossa, pois antes era às 18h ou 18h30. A faixa matutina compreende o horário que o público habitual do noticiário esportivo vinha para casa no intervalo do almoço. “Todo mundo esperava o horário das 11h para a Parada Esportiva do Ziroca”, aponta.
A presença e velocidade do rádio, na visão do radialista, mantêm o veículo relevante. “O papel do rádio é fundamental. É um grande veículo, que ainda tem a interação com o público e é aquele que pega de primeira uma situação de ajuda, de contribuição para a sociedade”, opina.
“Uma vez, recebi uma carta com um conteúdo muito pesado. Naquele momento, senti que o rádio salvou uma vida” (Tavinho Luck, da Rede T)
Responsável por imortalizar o personagem Véio Nordo, hoje veiculado no Boteco do Véio, na Rede T, Tavinho Luck começou no rádio na década de 1990, na 94 FM de Itararé (SP), pelas mãos do radialista J. Carvalho, que era amigo de seu pai e o apresentou à rádio. “O proprietário, Nelson Ribas, apostou na minha contratação. Éramos vizinhos, e eu estudava com os seus filhos, que são meus amigos até hoje. A primeira música que apresentei foi ‘Nos bailes da vida’, de Milton Nascimento. Eu disse: ‘O não tão famoso Milton Nascimento’. Estava tremendo e sem fôlego [risos]”, relembra, sobre a primeira experiência.
No rádio, Tavinho, que sempre teve um pé no humor, aprendeu que a alegria deve existir todos os dias, independente do que aconteça. “Espero que se lembrem de mim como uma voz amiga, terapêutica, que personificou uma alma bondosa, justa e íntegra”, aponta.
E, por falar em alegria, o radialista afirma que vive momentos divertidos ao vivo todos os dias. Os mais marcantes, porém, ocorrem quando mais cativa a audiência e a confiança dos ouvintes. “Como quando alguém fala comigo e chora, se emociona ou conta algo muito pessoal. Uma vez, recebi uma carta com um conteúdo muito pesado, e o que estava escrito não aconteceu por acaso: a pessoa estava ouvindo o meu programa através de um rádio próximo que estava ligado. Naquele momento, senti que o rádio salvou uma vida”, afirma.
Na visão do radialista, o rádio de alta performance não passou por mudanças muito drásticas. “Inteligência, boa voz, empatia com o público, energia nas palavras, comentários e escolhas musicais sempre foram essenciais. Ou é bom ou é ruim, seja na década de 60 ou no rádio atual”, avalia.
Se a tecnologia conflita ou contribui com o rádio no quesito interação, Tavinho atribui ao rádio importância e valor maiores que de qualquer rede social. “Ter mil curtidas? Bem, neste momento, só em uma das 26 cidades paranaenses onde a Rádio T está presente, tenho 50 mil pessoas me ouvindo. Os veículos tradicionais, como o rádio, compõem uma força invisível poderosíssima. Você não compra uma boa emissora de rádio por menos de R$ 10 milhões, mas pode criar um Facebook de graça”, opina.
Entre as principais qualidades do rádio, Tavinho destaca o alcance e a acessibilidade. “O rádio é rápido e influente. Ele entra em todos os lugares e é fácil de acessar. Não há barreiras nem distrações. Uma emissora por vez. Um locutor por vez. Uma música por vez. Agora, tente se concentrar em um post de rede social… Comercialmente e em termos de entretenimento, nada supera essas combinações”, avalia.
“O rádio absorveu todas as novas tecnologias e se mantém em constante atualização” (Nelson Ribeiro, o “Chocolate”, da Clube FM)
Outro dos veteranos do rádio ponta-grossense, Nelson Ribeiro, mais conhecido como “Chocolate”, começou aos 15 anos, no final de 1969, na Rádio Sant’Ana, levado por amigos do bairro Olarias, que, segundo ele, possui a maior concentração de profissionais ligados à comunicação em Ponta Grossa. Hoje ele apresenta, de segunda a sábado, o Primeira Mão, na Clube FM, às 6h da manhã.
Chocolate está entre os que vivenciaram a evolução da tecnologia do analógico para o digital, intensificada nos últimos anos. Quando começou, eram “equipamentos rústicos, maioria em metal bem sólido, mesas de som ainda operadas por válvulas e gravações em fitas magnéticas colocadas em gravadores que ocupavam bastante espaço”. “A potência dos transmissores era muito reduzida, o que produzia ruídos nas transmissões, que tinham pouco alcance”, relembra, a respeito do AM.
Em 55 anos no meio radiofônico, Chocolate considera difícil destacar um só momento marcante. “Atuei em todas as emissoras da cidade e no mínimo mais de duas vezes em cada uma delas”, relata. Nesse tempo, já fez de tudo. “Fui atendente de telefone dos ouvintes para programas musicais, sonoplasta, programador musical, repórter policial, político e esportivo, comentarista e apresentador de programas de entretenimento e noticiários”, aponta.
Como repórter policial, destaca a cobertura da Chacina de Carambeí (1989), quando três pessoas foram assassinadas e quatro ficaram gravemente feridas, todas da mesma família, no feriado de Carnaval. O caso, até hoje sem solução, teve forte repercussão na imprensa da época. “Naquela ocasião, eu fui requisitado por emissoras de grandes centros para reportar detalhes da investigação”, menciona.
Chocolate afirma que fez a primeira transmissão radiofônica com celular da cidade. O caso ocorreu a bordo de um motoplanador pilotado pelo comandante Luiz Carlos Scariotte, que recepcionou, via rádio, o comandante da Esquadrilha da Fumaça, numa apresentação em Ponta Grossa. “Fui o primeiro e único locutor a falar via satélite, quando a rádio Lagoa Dourada FM implantou esse sistema, que não durou muito, devido aos altos custos na época”, recorda também.
O profissional, que cursou apenas o primário no Grupo Escolar José Elias da Rocha, se considera autodidata. “Eu fiz o Ensino Médio, superior, mestrado, doutorado, tudo no rádio e nas redações de jornais, e continuo o aprendizado”, garante. O legado que visa transmitir é um modelo de comunicação perante os ouvintes, baseado em respeito, responsabilidade, descontração e uma linguagem coloquial, próxima do povo. “Jamais utilizei o rádio como ‘escada’ para fins políticos e eleitoreiros, para obter cargos públicos. Nunca tive filiação partidária”, ressalta.
Em relação ao cenário atual do rádio, Chocolate considera que o veículo absorveu todas as novas tecnologias e se mantém em constante atualização. “Só tenho a lamentar o desvirtuamento do rádio, que hoje, em sua maioria, é utilizado para atender a interesses de grupos, não leva em conta o profissionalismo e virou um terreno propício para a proliferação de aproveitadores oportunistas”, alfineta.
“Para muitos, o rádio é a única companhia, onde nos tornamos parte de muitas famílias” (Solange Rocha, da Sant’Ana FM)
Apresentadora do RS Notícias, Solange Rocha começou na TV, como assistente comercial da TV Esplanada, quando ainda era afiliada à Rede Bandeirantes. Em 1995, deixou o Canal 7 (RPC TV/Globo), abriu uma agência de publicidade e assumiu o departamento comercial da Rádio Central, que considera a sua melhor escola. Ali, profissionais de renome a inspiraram a cursar Jornalismo: Rogério Serman, Nelson Ribeiro (Chocolate), Abib Filho, Aroldo Martan, Marcelo Martins, Airton Santos e Nilson de Oliveira. “Sempre ouvi de veteranos: rádio vicia!”, conta. Naquela época, Solange se manteve na área comercial, mas já com pequenas participações na programação.
Segundo lembra a profissional, a Rádio Central, com Rogério Serman, liderava as manhãs com um modelo de informativo dinâmico, completo e com uma “credibilidade inquestionável” que se vendia por si só. De acordo com ela, grandes marcas fechavam contrato comercial antes mesmo de se instalar na cidade, para garantir espaço na programação. Na gestão do ex-prefeito Péricles de Holleben Melo (2001-2004), ela atuou como chefe de Captação de Recursos na TV Educativa. Exonerada, voltou para a Central, onde ficou até 2006.
Desde 2006, Solange trabalha na rádio Sant’Ana FM, emissora ligada à Diocese de Ponta Grossa, que tem como diferencial a evangelização, mas que possui uma programação muito eclética, que abrange diversos nichos. “Através das ondas do rádio, multidões se unem em oração e em momentos de reflexão que acolhem e acalentam. Para muitos, é a única companhia, onde nos tornamos parte de muitas famílias”, aponta.
Na visão da radialista, o rádio aproxima pessoas, faz companhia e abrange todo tipo de público, do mais simples ao mais refinado. “O rádio me proporcionou frequentar eventos sociais e ter proximidade com autoridades políticas e do meio artístico. Tive oportunidade de entrevistar muitos artistas famosos e cantores que ainda fazem sucesso no rádio”, destaca.
Solange acredita que a amplitude do público do rádio reforça o compromisso de informar com responsabilidade, ética e respeito, e, na relação com as fontes, acolher bem torna a entrevista mais espontânea e colaborativa. Para ela, a inovação tecnológica a partir da internet e das mudanças que ela promoveu estimula o profissional do rádio a sair do comodismo. “Sendo criativo, há espaço para todos, porque há público para todos”, opina. A jornalista avalia que o compromisso com a verdade diferencia os bons dos maus profissionais. No seu entender, os maus são aqueles que usam o rádio para disseminar o ódio, fazer autopromoção ou defender interesses pessoais e políticos.
“No rádio, eu sempre conheci novos radialistas, novas culturas, gente nova. Conheci muita gente boa, muitos radialistas que me ensinaram” (Jocelito Canto, da Estilo FM e O Repórter)
Conhecido nos Campos Gerais por sua atuação política, pelo trabalho social realizado junto à Garagem da Esperança e pelo programa O Repórter, Jocelito Canto está no ar pela Rádio Estilo FM, de Imbituva, desde 2023. Além disso, Canto se mantém à frente do programa O Repórter, que, com a extinção da rádio Difusora, passou a ser transmitido pelas redes sociais.
O comunicador relata que sonhava ser radialista desde criança, quando ouvia a Rádio Gaúcha na companhia da mãe, pelas manhãs, momento em que ouvia e falava como se participasse da transmissão. Fazia a mesma coisa ao ouvir os jogos do Internacional. “Na escola, eu me destacava muito, porque tive o privilégio de ter uma professora em casa, que era a minha avó. Quando entrei na escola, já sabia ler e escrever. Isso me ajudou bastante”, relembra.
Na adolescência, por volta dos 14 anos, Canto ganhou uma oportunidade na rádio Difusora, de Três Passos (RS). Começou na técnica, na mesa de áudio, e logo entrou para a locução. “Foi uma época de muito trabalho e dedicação. Ficava 15, 16 horas no rádio”, conta. Antes de chegar a Ponta Grossa, em 1992, passou também por emissoras de Santa Catarina e do sudoeste paranaense.
A evolução tecnológica mudou e facilitou o “fazer rádio”, opina o radialista. “Você tinha que correr, não tinha unidade móvel, tinha que fazer, às vezes, uma transmissão por telefone, usar uma maleta. Era difícil. Com gravador, a fita estragava, tinha que sempre cuidar”, aponta.
O aprendizado nas emissoras pelas quais passou é considerado por Canto o aspecto mais marcante de sua carreira. “Um ‘professor’ de rádio me ensinou que eu devia trocar de rádio sempre que pudesse, porque eu ia conhecer novos radialistas, novas culturas, gente nova. Foi o que eu fiz. Andei bastante, e é verdade: conheci muita gente boa, muitos radialistas que me ensinaram”, relata. De outro lado, ele também repassou esse aprendizado a muitos jovens que buscaram a mesma oportunidade que ele teve. “Tenho orgulho de ver tantos jovens que eu ajudei e que estão aí hoje. Só aqui em Ponta Grossa, em cada rádio, praticamente, tem um que eu dei oportunidade lá na Garagem”, enfatiza.
A Garagem da Esperança, aliás, é uma das grandes realizações de Canto – ainda em atividade e local onde transmite O Repórter. “Fizemos uma história de trabalho, de luta, que está de pé até hoje e que ajudou a muita gente”, afirma, mencionando que o seu legado é fazer um rádio sério, dinâmico, plural e com coragem de falar o que deve ser dito. “Eu sempre tive essa coragem de fazer o que os outros, às vezes, não fazem. Sempre fiz, sempre fui livre e dei liberdade para todo mundo falar, até para os adversários”, afirma.
Na avaliação do radialista, as redes sociais democratizaram a comunicação, mas não substituirão o rádio. “As redes sociais de hoje são o rádio de ontem, só que todo mundo tem acesso agora. Antigamente, eram os locutores que interagiam com a população. Hoje, todos têm um rádio na mão”, compara.
“Quando você fala num microfone, você exerce a empatia, pois se coloca no lugar da pessoa que está ouvindo” (Marcelo Rangel, da Mundi FM)
Desde os sete anos de idade, Marcelo Rangel Cruz de Oliveira era levado pelo pai, Nilson de Oliveira, para os estúdios da Difusora e da Clube e acompanhava, com admiração, o trabalho dele diante dos microfones. Já aos 16, na Mundi – ainda chamada Mundial – passou a exercer seu forte apelo entre os jovens, que inicialmente eram o segmento que a emissora visava.
Rangel lembra que lá atrás a magia de se comunicar pelo rádio era um exercício de imaginação, pois era necessário projetar o quanto as pessoas estava ouvindo e quais seriam suas reações, diferente de hoje, em que existe medição de audiência em tempo real com retorno imediato da recepção dos ouvintes. “O rádio é o veículo mais tradicional, mais simples – do ponto de vista tecnológico – e o mais atual”, afirma, acrescentando que a vantagem do veículo é permitir que o ouvinte execute outras atividades enquanto ouve a programação ou que a acompanhe em seu deslocamento diário, sem monopolizar a atenção. Para ele, o rádio foi o veículo que melhor se adaptou às tecnologias, pois conseguiu absorver as demais plataformas – vídeo, streaming, redes sociais – como adicionais.
Na visão do comunicador, o rádio preserva a sua força no meio tradicional, em especial no acompanhamento de notícias, mas isso porque também transformou o seu conteúdo ao longo do tempo, com as notícias, em primeiro lugar, depois a música e o entretenimento com humor. A evolução tecnológica, de acordo com ele, reforçou a ideia de companhia que o rádio proporciona, porque agilizou o contato direto do ouvinte com os locutores, num grau de interatividade que não se compara ao de outros meios, quando se fala de velocidade.
Entre os momentos inesquecíveis vivenciados ao vivo, Rangel cita a curiosidade de ter descoberto que passou no vestibular ao ler o próprio nome na lista de aprovados, que a rádio tradicionalmente divulgava em primeira mão. Mais tarde, no resultado das eleições de 2006, ele também noticiou a própria vitória para deputado estadual. Mas o momento mais inusitado foi promover o casamento de Daniele e Paulo, dois ouvintes do Toque Geral, em pleno shopping, num domingo de dezembro de 2004. O casal se conheceu através do programa, que mais tarde lançou um concurso que daria como prêmio um casamento com todas as despesas pagas.
Para o radialista, o trabalho com esse meio de comunicação é uma forma de exercer a empatia. “O locutor de rádio é uma pessoa que tem algumas qualidades interessantes, justamente pela sua profissão. Quando você coloca um fone de ouvido, fala num microfone e fica imaginando com quem você está conversando, você está exercitando muito a empatia, pois se coloca no lugar da pessoa que está ouvindo a sua opinião”, explica.
Rangel destaca que nunca esteve tão animado com o futuro do rádio quanto agora, pois, como um radialista experiente, já viu o rádio ser desacreditado e desvalorizado quando a TV viveu o seu auge de popularidade. “Hoje o rádio tem um valor muitas vezes até maior do que programas de renome da televisão aberta, porque o rádio não é só um veículo que está presente o tempo todo, em todos os lugares, mas é também um veículo de muita credibilidade”, defende.
“As ‘fake news’ e a desinformação causadas pela internet fortaleceram a credibilidade das rádios” (João Barbiero, da Lagoa Dourada FM e Rede T)
No ar de segunda a sexta no Manhã Total, pela Lagoa Dourada, e aos sábados, no Ponto de Vista, para todo o Paraná, pela Rede T, João Barbiero iniciou oficialmente como locutor de rádio há 25 anos. Mas a relação com o veículo já vinha da infância, pois a família possui, até hoje, uma emissora em São Domingos (SC). “Desde pequeno, eu convivo com o rádio”, afirma, acrescentando que entrou para o rádio em Ponta Grossa a convite de Nilson de Oliveira.
“Rádio é vida, é emoção constante, que narra, acima de tudo, a vida das pessoas e a realidade das coisas”, aponta o apresentador do Manhã Total, programa que se propõe a abordar uma variedade de assuntos, como prestação de serviço de utilidade pública, e do Ponto de Vista, que conversa com políticos, autoridades e especialistas sobre os temas de maior impacto, a cada semana, no cenário estadual e nacional.
Entre os pontos altos da carreira de Barbiero no rádio, ele destaca a entrevista exclusiva, feita em agosto de 2024, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A entrevista repercutiu nacional e internacionalmente, por ter sido a primeira vez que Lula admitiu não reconhecer a legitimidade da eleição de Maduro na Venezuela.
Um dos grandes desafios do trabalho atrás dos microfones, segundo o comunicador, é ter o ouvido sempre aberto para o outro. “O microfone é um desafio diário. A linha entre a arrogância e a humildade do locutor é muito tênue. Achar que você é o dono da razão, porque está atrás de um microfone, é um ledo e perigoso engano”, opina, mencionando que, na relação com os ouvintes e as fontes, a troca de experiências e o aprendizado são diários. “O grande desafio é conseguir captar os sentimentos do ouvinte e materializá-los no microfone”, acrescenta.
Em vez de reduzir a influência do rádio, as redes sociais acabaram por fortalecê-lo, opina Barbiero. “Diziam que isso acabaria com as rádios, mas foi o contrário, acabou por fortalecê-las. As ‘fake news’ e a desinformação causadas pela internet fortaleceram a credibilidade das rádios, que também tiveram que se adaptar ao vídeo”, afirma o comunicador, sempre habituado às câmeras, pois já foi proprietário e apresentador da extinta TV Vila Velha, onde comandou o JB Urgente, que também era transmitido pela Difusora AM nos anos 2000.
“O tempo passa, a tecnologia é aperfeiçoada, mas o rádio continua sendo o mais eficiente meio de comunicação” (Jorge Nunes, da Lagoa Dourada FM)
No ar de segunda a sexta, às 10h, ao lado do Professor Julio Cesar, o Professor Jorge Nunes comanda o 2 em Campo na Rádio Lagoa Dourada FM. A sua trajetória no meio radiofônico começou em 2004, na Rádio Central AM e, ao longo desses 20 anos, teve passagens pela Rádio Clube, Antena Sul, CBN e Difusora. Hoje, integra o elenco do grupo GTCOM, que reúne a Rede T de Rádios e a Lagoa Dourada FM. Entre 2013 e 2014, passou por um hiato no rádio, quando se afastou dos estúdios para atuar como diretor de futebol no Operário Ferroviário Esporte Clube (OFEC).
O cronista esportivo viveu há dez anos o que considera o momento mais emocionante de sua carreira. “O momento mais importante em minha carreira foi trabalhar na transmissão em 2015 no Couto Pereira quando o Operário venceu o Coritiba e sagrou-se campeão paranaense”, relata.
Dentro do rádio, Nunes afirma ter aprendido que a cooperação e o respeito ao espaço são cruciais. “Convivência, paciência, respeito, consideração, tudo isso é necessário para se fazer uma boa transmissão esportiva, já que as dificuldades sempre são muito grandes”, opina, acrescentando que a imparcialidade é outra importante marca. “Procuro sempre dar ênfase à verdade do jogo, custe o que custar, sem me preocupar muito em agradar”, afirma.
Quanto à importância das redes sociais na interação com o ouvinte, o comunicador é taxativo: “As redes sociais são uma faca de dois gumes, às vezes ajudam e outras vezes prejudicam demais”, avalia.
Nessas duas décadas de atuação, Nunes vê pouca diferença entre o modo como se fazia rádio antes e como se faz na atualidade. “Talvez hoje, com a tecnologia, seja mais dinâmico, embora sofra concorrência da TV e das redes sociais”, analisa, mas observando que o rádio é um meio incomparável e insubstituível. “Absolutamente nada substitui o rádio no que diz respeito à informação. O tempo passa, a tecnologia é aperfeiçoada, mas o rádio continua sendo o mais procurado e o mais eficiente meio de comunicação”, aponta.
“Quando uma pessoa vê uma notícia na internet, ela quer saber se é verdade. Se ela vê que a fonte da notícia é o rádio, ela sabe que tem credibilidade” (Sandro Alex, da Mundi FM)
Irmão de Marcelo Rangel e filho de Nilson de Oliveira, Sandro Alex Cruz de Oliveira tem o rádio no DNA. Ele conta com uma trajetória de quase quatro décadas na Mundi FM, desde a sua fundação, em 1986, onde se destacou com os programas Manhã é Show e Padrão de Qualidade.
O radialista considera justamente o ano de 1986 a data oficial de seu começo no rádio, por ser quando teve registro na Carteira de Trabalho, aos 14 anos, mas ele esteve no rádio desde sempre, acompanhando o trabalho do pai. “Comecei com os trabalhos que geralmente são dados aos estagiários, aos office-boys, em técnicas e profissões que já não existem mais. Eu era radioescuta, que era quem acompanhava outros veículos de comunicação, serviços de Telex e teletipo”, relembra.
Em seus quase 40 anos de comunicação, Sandro destaca que conheceu, através do rádio, muitos cantores, artistas e personalidades. “O que hoje nós chamamos de ‘influencer’ eu já vivia no rádio. Conheci os grandes nomes do rádio, eles também gostavam do meu trabalho. E o rádio me projetou para a vida pública e foi o caminho que eu segui”, afirma o atual secretário estadual de Infraestrutura e Logística.
Na visão do comunicador, o rádio se transformou, mas não perdeu a essência. “O que não mudou foi a origem, os princípios do rádio: ter velocidade na comunicação e uma interação direta com o ouvinte”, opina, mencionando que a tecnologia não só facilitou o desempenho do rádio como favoreceu a ampliação do alcance. “Quando uma pessoa vê uma notícia na internet, ela quer saber se é verdade. Se ela vê que a fonte da notícia é o rádio, ela sabe que tem credibilidade. Aí ela divulga muito mais. O rádio tem isso. A internet projeta o rádio pela credibilidade dele”, avalia.
Sandro acredita que o rádio o ensinou a ouvir as pessoas e a estar próximo delas, o que contribui para despertar o sentimento da audiência. Além disso, na posição de companheiro do ouvinte, ele busca transmitir mensagens de fé e otimismo. “Você dá sempre um alento a esse ouvinte e ensina que hoje é um novo dia e pode ser um grande dia. Todo grande comunicador transmite isso às pessoas”, diz. O locutor acredita até mesmo que a companhia do rádio pode ser um alívio para quem sofre com a solidão ou com a depressão. “O rádio é sempre um bom companheiro dessas pessoas, que acabam fazendo uma ‘amizade’ conosco”, opina.
Entre os momentos mais marcantes da vida atrás do microfone, Sandro destaca a companhia do pai. “Ele representa todo esse amor ao rádio. Falo em nome de todos os comunicadores que conhecem o meu pai e sabem que hoje ele é um dos grandes nomes do Paraná e do Brasil, ainda presente, com 82 anos, no rádio”, afirma.
“O legado que eu transfiro através do rádio é mostrar para as pessoas, para os ouvintes, que tem muita gente que quer fazer a diferença” (Ricardo Zampieri, da MZ FM)
“O rádio te aproxima muito mais dos problemas da sociedade”, destaca o radialista e vereador Ricardo Zampieri, no ar por mais de dez anos à frente do MZ Notícias. Zampieri iniciou no rádio como sonoplasta do programa apresentado por Daniela Esteves, pouco tempo depois que a MZ entrou no ar, entre 2009 e 2010, quando ainda tinha 14 anos. Aos poucos, foi fazendo participações no ar quando ela interagia com os ouvintes e, com a aprovação da audiência, passou a co-apresentar o programa, antes de ter um programa musical próprio. Algum tempo depois, Jocelito Canto o convidou para participar no noticiário, cuja apresentação ele assumiu quando Canto deixou a emissora. Em paralelo, continuou nos programas musicais.
Além do dia em que a MZ entrou no ar, em 1º de maio de 2009, Zampieri cita entre os momentos mais marcantes vividos atrás do microfone a vez que uma ouvinte mineira participou no ar, direto da Inglaterra, onde morava. Ela teria dito que o simples fato de sintonizar uma rádio brasileira a aproximava de casa. Na ocasião, a música “Ai, se eu te pego”, de Michel Teló, era sucesso internacional e a ouvinte relatou que as crianças cantavam a faixa na rua, mesmo sem saber o que significava. “Foi muito bacana para mostrar as barreiras que nós quebramos, o quanto nos aproximamos das pessoas através do meio de comunicação”, comenta.
Zampieri também avalia que essa proximidade mais pessoal com o ouvinte é o que diferencia uma rádio local ou regional de uma que retransmite programação em rede. “A interação com o ouvinte é diferente. Você fala de notícias locais, conversa com pessoas locais, aborda temas locais, tem participações com gente da tua gíria, do teu sotaque”, compara.
O comunicador revela ainda que só entrou na polícia conta do rádio. “Toda essa sensibilidade com as pessoas, esse contato comunitário, esse desejo de fazer mais, a motivação veio através do rádio”, destaca, citando que a reportagem radiofônica o colocou em contato com a comunidade e com a urgência que ela aguarda para a solução de suas demandas, motivo pelo qual ele estava à frente de seus pares na Câmara Municipal. “Quando eles iam saber a respeito de alguma informação, eu só não já sabia como já tinha também diretamente a opinião do eleitor”, frisa. “O legado que eu transfiro através do rádio é mostrar para as pessoas, para os ouvintes, que tem muita gente que quer fazer a diferença”, acrescenta.
Por ser mais jovem, Zampieri aponta que a transição de mídias físicas (discos, fitas, cartuchos, disquetes) para digitais “são histórias que o pessoal da velha guarda do rádio me contava”. A mudança que ele de fato observou foi a inserção das redes sociais. “Elas nada mais eram do que um complemento, uma interação a mais, além do telefone e SMS. Hoje, as redes sociais viraram a plataforma em si, viraram o próprio meio de comunicação”, opina, ressaltando que a MZ FM realiza lives que transmitem os programas da emissora. “Quem não se adaptou ficou para trás”, conclui.
“Prefiro falar mais sobre amor, sobre uma vida boa e tranquila, do que falar de tragédia ou de qualquer outro tipo de notícia” (Leandro Martins, da Rede T)
Locutor há 25 anos, Leandro Martins é filho de Márcio Martins, proprietário da Rede T de Rádios e vice-presidente da Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (AERP). Sob influência do pai, ele cresceu entre o estúdio, a sala de transmissor e a torre. Profissionalmente, começou em 2000, como locutor de cabine, fazendo a gravação de comerciais. Antes disso, foi operador de som nas gravações em estúdio.
O início da carreira de Martins coincidiu com a migração do disco de vinil para o CD e das fitas para o MD (mini-disc). Ele também testemunhou a inserção das mídias digitais no trabalho, ainda que o rádio permaneça como meio analógico. “Vi basicamente essa mudança não da transmissão analógica para o digital, mas da execução mesmo do rádio em estúdio, do analógico para o digital”, explica.
Entre os momentos mais tocantes desses 25 anos de microfone, o radialista destaca uma entrevista com o cantor Daniel. “Ele veio até o estúdio da Rádio T de Ponta Grossa. O Daniel é um ícone nacional, um cara que tanta gente ama. Ele começou a cantar uma música na rádio e foi um momento muito emocionante, aquele cara cantando do teu lado, com o violão, ali”, relata. A música em questão era “Nossa Senhora”, composição de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, regravada por Daniel.
Entre notícias boas e ruins, o comunicador relembra um momento de muita tristeza que ele precisou comunicar. “Tive de anunciar a morte de um colega, um amigo, um irmão, que é o querido Jauri Gomes. Acabei sabendo da notícia pela família e aí tive de ir ao rádio e anunciar que tínhamos perdido esse amigo”, relembra.
Martins afirma que tudo o que ele é, assim como tudo o que ele sabe, vem do rádio. “Não saberia fazer outra coisa. A minha vida é o rádio. Vivo do rádio, minha família vive do rádio e tudo o que aprendemos foi dentro do rádio”, aponta, observando que pretende deixar como legado a lembrança de uma comunicação divertida, leve, alegre. “Prefiro falar mais sobre amor, sobre uma vida boa e tranquila, do que falar de tragédia ou de qualquer outro tipo de notícia. Espero que, quando as pessoas lembrarem do que eu fiz no rádio, seja realmente essa amizade e carinho que temos pelos ouvintes”, destaca.
A resposta do ouvinte, antes feita por carta ou telefonema, foi agilizada pelas redes sociais e, principalmente, pelo WhatsApp, aponta o radialista. “O WhatsApp ajuda bastante essa rapidez da comunicação do ouvinte com o rádio. Mas o rádio, bem desde antes da internet, já tinha uma ótima comunicação com o ouvinte, seja por telefone, por carta e outras formas de entrar em contato com a rádio”, afirma.
Para o locutor da T, o rádio vai se manter relevante entre os principais meios de comunicação, pela vantagem de ser ágil, gratuito e portátil. “O rádio não depende de sinal de internet para funcionar, nem de energia elétrica. O rádio pode funcionar num radinho a pilha, por exemplo, com tranquilidade”, comenta, acrescentando que o veículo vai prevalecer, sobretudo, pela honestidade, seriedade e responsabilidade social.
“Procuramos sempre passar uma palavra de fé, levando uma mensagem de otimismo, uma mensagem de que, apesar de tudo, vale a pena viver” (Stéfano Júnior, da Sant’Ana FM)
“Onde tem um rádio ligado, não tem solidão”, dispara o locutor Stéfano Kubaski Júnior, locutor da rádio Sant’Ana no Desperte e no Manhã da 89 (ambos de segunda a sábado) e na Hora do Barulho (aos sábados). Stéfano quis trabalhar no rádio desde criança e começou na Difusora AM em janeiro de 1995. Em dezembro daquele ano, foi para a Sant’Ana, onde está até hoje. Para ele, uma das maiores mudanças foi tecnológica: os toca-discos, cartucheira e gravadores de rolo foram condensados em programas de computador que executam playlists.
A dedicação ao rádio vai além do estúdio, pois Stéfano também atua na área comercial e, apesar de chegar às 4h50 da manhã, tem dias que sai da emissora apenas no final da tarde. “Devemos fazer o que fazemos com amor e honestidade. Se fizer com honestidade, fará sempre, não uma vez só”, afirma.
Na visão do radialista, as redes sociais agilizaram a comunicação com o ouvinte. “No passado eu recebia muitas cartas, pessoas que escreviam do interior, e a carta levava uma semana para chegar. Hoje é rapidinho: a pessoa está trabalhando lá no interior, manda uma mensagem e, em poucos instantes, chega até a gente para interagir. Antes eram cartas, telefonemas, depois SMS. Hoje o que bomba é o WhatsApp”, compara.
De acordo com o comunicador, a importância do rádio se perpetua pela credibilidade, pela prestação de serviço e pela capacidade de divertir e informar. “O locutor falando, com o seu carisma, com o seu jeito, faz a diferença, mesmo com todas as redes sociais existentes”, opina, acrescentando que enxerga o rádio como um meio de troca de aprendizados. “Como a nossa programação tem informação, entretenimento e evangelização, procuramos sempre passar uma palavra de fé, levando uma mensagem de otimismo, uma mensagem de que, apesar de tudo, vale a pena viver”, conclui.
“Até medo de falar em público eu tinha. No rádio, você está falando para milhares de pessoas, mas hoje não tenho vergonha nenhuma” (Lenhador, da Rede T)
O comprimento da barba e as camisas xadrez renderam a Elcio Lara de Meira, apresentador do T & Você, o apelido Lenhador, apesar de ele já ter mudado o visual. O jornalista de 31 anos começou aos 15 numa rádio comunitária em Carambeí, por sugestão de seu professor de História. Nas aulas, cada aluno lia um parágrafo, e ele gostava de emular a voz de narrações como as do History Channel. O professor o chamou para conversar e, em vez de lhe dar uma bronca pela brincadeira, deu um conselho que mudou a vida do jovem aluno. O professor disse que ele tinha voz e entonação, e contou que o genro trabalhava na rádio comunitária e que poderia ajudá-lo. Elcio começou no período da tarde. “A grande piada entre os locutores é ‘Minha mãe falava: estude, estude, estude. Entendi errado e ouvi: estúdio, estúdio, estúdio’”, brinca.
Entre os momentos mais marcantes do trabalho junto ao microfone, Lenhador lembra o dia em que precisou fazer uma locução sozinho. Até aquele dia, ele dividia a apresentação de um programa, das 16h às 18h, com outro rapaz, que pediu que ele fosse mais cedo, às 14h, no dia seguinte, quando concluiu que Lenhador estava pronto e não tinha mais o que ensinar. “O tremor que eu senti, o medo de não saber falar direito, conversar meio travado… Lembro muito bem da sensação de iniciar”, recorda. Quando o primeiro programa sozinho terminou, recebeu muitas felicitações, ainda no MSN e Orkut.
Em relação às principais mudanças sofridas por esse meio de comunicação, Lenhador observa que a maior delas foi o fato de a voz totalmente empostada ter deixado de ser o padrão, permitindo que qualquer pessoa possa fazer rádio, desde que tenha dicção bem articulada e saiba improvisar. “Isso é bom, porque dá oportunidade para muita gente boa entrar no rádio, na comunicação”, avalia.
E, por falar em comunicação, Lenhador acredita que o rádio o ensinou a se expressar melhor, até mesmo nas relações interpessoais. “Até medo de falar em público eu tinha. No rádio, ali no estúdio, você sabe que está falando para milhares de pessoas, mas isso eu aprendi com o tempo e hoje não tenho vergonha nenhuma. Me sinto muito à vontade”, enfatiza. O legado que pretende deixar entre os seus ouvintes é o do humor leve, mas sem fazer caricatura ou personagem, tratando com leveza e bom humor as situações do cotidiano.
Quanto à presença do rádio nas redes sociais, em lives no TikTok, Instagram, YouTube ou Facebook, Lenhador acredita que a prioridade deve ser a de fazer o programa para quem ouve pelo rádio, pois não há retenção garantida nas redes sociais. “Na rede social, o cara assiste a 30 segundos e sai da live. Ou vê que a live está rolando e passa para o próximo conteúdo”, observa, mencionando também que a aproximação entre ouvinte e locutor via redes sociais é ambígua, pois não atrai tanta gente nova. Apesar disso, ele crê que elas ajudam a romper distâncias, pois o locutor passa a ser ouvido onde o sinal do rádio não alcança.
Por Edilson Kernicki
Publicado originalmente na edição 306 da Revista D’Ponta News.