Numa tarde de terapias do Ambulatório Encantar, especializado no atendimento a crianças com atraso no desenvolvimento e Transtorno do Espectro Autista (TEA), três mães puderam acompanhar seus filhos em uma oficina de culinária conduzida pelas fonoaudiólogas Luana Passos e Thayrine Souza. Foi uma tarde doce, de brigadeiro e marshmallows, recheada de muitos sinais de afeto e amor puro.
A oficina de culinária é um instrumento utilizado para estimular o paladar das crianças, que muitas vezes têm dificuldade em experimentar novos sabores. Às vésperas do dia das mães, a terapia se tornou um momento de compartilhar sorrisos e sabores entre mães e filhos. Chamava a atenção o carinho das crianças e a alegria em poder compartilhar o momento.
Viviane Feliz Alexandre Pacheco estava acompanhada pelo filho Gustavo, de 12 anos, um dos gêmeos atendidos no Encantar. O irmão, Vítor, participava de outra atividade no ambulatório e além dos gêmeos, Viviane tem um filho mais novo, de sete anos, também com diagnóstico de autismo. Ao receber a mãe na cozinha em que faziam o brigadeiro, os olhos de Gustavo brilhavam e as demonstrações de carinho eram intensas.
Foto: Ricardo Marajó/SECOM
“Quando a gente teve o diagnóstico de autismo dos gêmeos, aos três anos de idade, me disseram que meu filho não verbal nunca falaria pra mim o que é o amor. Mas hoje eu posso afirmar que ele mostra com o olhar que enxerga minha alma e não tem como não se emocionar, tamanho é o carinho e amor que transborda”, declarou com olhos carregados de lágrimas Viviane Pacheco.
As três mães compartilham o atendimento no Encantar com seus filhos, cada um com um tipo de terapia para seu caso, e foram unânimes em dizer que o maior desafio da maternidade de crianças autistas é conscientizar a sociedade sobre as características únicas de seus filhos.
“A minha maior dificuldade é fazer a sociedade entender o que é o autismo” diz Marília Fellipe Lenzi Costeira, mãe de Daniel, de sete anos, autista, e Samuel, de cinco anos. Segundo ela, é comum as pessoas dizerem que seu filho não parece autista, como se estivesse estampada essa condição em seu rosto.
“É muito difícil sair, passear e conviver com pessoas que não entendem que eles têm um jeito e um tempo só deles”, conta a Marília.
Foto: Ricardo Marajó/SECOM
Viviane Pacheco concorda com a impressão da companheira de terapias do Encantar.
“A gente tem que explicar todos os dias que autismo não tem cara. A sociedade precisa se aprimorar com relação à informação sobre o TEA, porque antigamente tudo era tratado como esquizofrenia e hoje há muita informação sobre o autismo e não há razão para o preconceito”, defende Viviane.
Para elas, a rotina com as crianças é um aprendizado permanente, que ganhou força com o apoio que recebem dos profissionais do Encantar, como médico neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, entre outros.
Enquanto as crianças são atendidas, as mães participam de grupo de suporte, onde conhecem a realidade de outras famílias e podem trocar experiências entre pais e os profissionais da instituição, que oferecem apoio para a rotina em casa, na escola e na vida social.
“O apoio dos profissionais do Encantar mudou a minha vida e do meu filho. Porque eles nos dão ferramentas para a evolução das crianças”, revela Marília.
Nilceia Soares de Oliveira é mãe de João Guilherme, de sete anos, e de Emanuel, de quatro anos. Só João Guilherme tem o diagnóstico de TEA e é não verbal. Segundo a mãe, as terapias do Encantar têm ajudado a família na rotina de casa e escola, inclusive na relação entre os irmãos.
Foto: Ricardo Marajó/SECOM
“Tá sendo muito importante pra ele as terapias, porque como ele é não verbal, estamos aprendendo a aplicar técnicas que o ajudam a se comunicar e a evolução é visível”, diz Nilceia.
O Ambulatório Encantar está em nova sede desde o dia 28 de março, no centro de Curitiba, com mais espaço para terapias e atividades com as crianças e pais. O novo prédio mais do que triplicou a área de atendimento, saindo de 758,7 m² da sede anterior para 2,7 mil m² na sede atual.
Aos poucos, a Secretaria Municipal da Saúde vai ampliar as ações intersetoriais e atividades para os pais, como oficinas de geração de renda e bem estar, pensando na saúde mental do cuidador.
Com os novos auditórios e salas de aulas serão oferecidas ações de formação, tanto para as questões que envolvem o TEA, quanto da saúde mental infanto-juvenil como um todo.
Outra novidade será um ambulatório para o atendimento das crianças com TDAH e um ambulatório para estimulação precoce.
da assessoria