O ex-sócio do Grupo Hygea, Gustavo Volpato Mello, afirmou em delação premiada que a empresa pagou propina ao vereador de Curitiba Pier Petruzziello (PP). Os pagamentos, segundo ele, aconteceram em contratos de saúde com as prefeituras de Colombo, São José dos Pinhais e Araucária, na região metropolitana. As informações são do G1, com base em depoimento obtido pela RPC, afiliada da TV Globo no Paraná.
De acordo com Gustavo, os pagamentos começaram por volta de 2014, quando ele passou a cuidar da parte financeira do grupo. Ele contou que começou a notar saques em dinheiro com descrições suspeitas e que tudo era feito por ordens de Tiago, então responsável pelas decisões.
Os valores sacados eram marcados com siglas das cidades e registrados como “participação nos lucros”. Gustavo disse que decidiu anotar tudo por segurança.
“Por exemplo, solicitava saque em espécie. Tiago assinava um cheque e dizia: ‘Saca lá pra mim e traz’. E todo cheque que ele fazia, ele botava a sigla do município […] Esses saques eram feitos não só no CNPJ da Hygea, eram várias empresas”, contou o delator. Segundo ele, parte do dinheiro era entregue diretamente a Petruzziello ou a um assessor do vereador. Alguns pagamentos ocorriam na empresa, outros eram levados até o destinatário.
No caso de Colombo, Gustavo disse que um contrato de R$ 8,4 milhões (entre 2013 e 2015) recebeu um aditivo de mais R$ 4,2 milhões. Parte do dinheiro teria sido entregue em envelopes para o vereador, que estava no primeiro mandato na época.
“Recordo sim. Esses saques eram muito próximos do percentual fixo do contrato, que era 10% […] O vereador tinha uma participação também financeira nesse contrato”, afirmou.
Em São José dos Pinhais, planilhas entregues por Gustavo mostrariam propina em pelo menos 11 contratos, que somavam mais de R$ 30 milhões. O mesmo esquema se repetia: saques em dinheiro vivo com entregas feitas por um assessor.
“Quando começou a aumentar o volume do contrato e, consequentemente, o valor em espécie, o Tiago já não queria fazer essa entrega também, aí que veio a opção do assessor do Pier fazer isso […] E a parte do Pier, ou o vereador passava pra pegar ou era entregue pro assessor”, disse.
Já em Araucária, os contratos ultrapassaram R$ 25 milhões. Gustavo contou que o vereador também intermediou os acordos e recebia uma quantia mensal, que ele ou o assessor buscavam na sede da empresa.
“Só vinha o valor pra ser sacado e tinha a anotação que era de Araucária […] Desde o primeiro contrato emergencial, houve esse favorecimento e, desde então, ele recebia uma quantia mensal”, contou.
Em 2017, a Câmara de Curitiba aprovou uma mudança na lei que permitiu que organizações sociais fossem contratadas para atuar na saúde pública. O projeto tramitou em regime de urgência a pedido de Pier, que na época era líder do prefeito na Câmara.
A mudança permitiu a contratação do Instituto Nacional de Ciências da Saúde (INCS) para administrar a UPA da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), com contrato mensal de R$ 1,5 milhão.
Segundo a delação, o vereador foi quem avisou aos empresários que o instituto tinha vencido a licitação.
“O vereador Pier ligou para avisar ao Tiago o resultado antes da publicação, então ele teve acesso direto ao resultado”, disse Gustavo.
A operação chamou a atenção da Polícia Civil, da Polícia Federal, da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). Em dezembro de 2024, foram cumpridos 16 mandados de busca em Curitiba, na região metropolitana e em cidades do interior de São Paulo.
Segundo a PF, o INCS teria usado dados falsos para desviar dinheiro do SUS, e a Hygea estaria envolvida nesse esquema.
Situação atual da investigação
O caso está agora com o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), que vai decidir se o processo seguirá com um juiz de primeira instância ou com um desembargador, já que há agentes públicos com foro privilegiado envolvidos.
O que diz o vereador Pier Petruzziello
Segue abaixo a nota de esclarecimento enviada pelo vereador Pier Petruzziello. A publicação se dá em atenção ao pedido do parlamentar de que o conteúdo fosse veiculado na íntegra:
“Estou indignado e revoltado com o vazamento de uma delação mentirosa e requentada, apresentada pelo criminoso confesso GUSTAVO VOLPATO MELO há quase 5 anos, com o objetivo de destruir minha reputação.
A delação não foi aceita pelo Ministério Público, que disse não existir provas. Nunca respondi a nenhum processo em minha vida. Jamais aceitaria qualquer tipo de propina. Tenho a consciência absolutamente tranquila e sigo trabalhando firme e forte pelo povo curitibano.
Lamento que a RPC, mesmo após os meus advogados terem mostrado pessoalmente os documentos que comprovam que a delação é mentirosa, esteja servindo como instrumento de manobra jurídica do criminoso confesso GUSTAVO VOLPATO MELO”, disse a nota encaminhada a equipe de jornalismo do D’Ponta News.
De acordo com o portal G1, o posicionamento dos citados até o fechamento da matéria foi:
Prefeitura de São José dos Pinhais: disse que não tem mais relação com a Hygea desde 2017 e não foi notificada.
Prefeitura de Colombo: confirmou contratos de 2013 a 2015, mas afirmou que não há vínculo com a empresa atualmente.
Prefeitura de Araucária: informou que a Hygea não presta mais serviços desde 2018.
Prefeitura de Curitiba: declarou que todos os contratos têm cláusulas anticorrupção e que o contrato com o INCS (2018-2022) foi fiscalizado.
TJ-PR: disse que não localizou processos com o nome da Hygea e que não comenta investigações em andamento.
Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba: reforçou que todos os contratos seguem normas legais e anticorrupção.
Matéria atualizada em 5 de junho às 10h47.