Sábado, 07 de Junho de 2025

Saúde contratou consultoria de quase R$ 200 mil por falta de metodologia, diz secretária

2025-06-06 às 17:06
Foto 1: Assessoria PMPG/Arquivo / Foto 2: Edu Vaz/ D’Ponta News

Os apresentadores do programa ‘Manhã Total’ da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM), João Barbiero e Eduardo Vaz, entrevistaram nesta sexta-feira (6) a secretária de Saúde de Ponta Grossa e presidente da Fundação Municipal de Saúde (FMS), Lilian Brandalise. A gestora esclareceu dúvidas dos ouvintes e comentou sobre o contrato de consultoria firmado junto à FMS, tema que tem gerado questionamentos e apurações por parte do Conselho Municipal de Saúde (CMS).

O contrato, no valor anual de R$ 198.558,00, foi firmado por meio de dispensa de licitação com a médica Maria Emi Shimazaki, que prestará serviços de consultoria técnica. Os pagamentos mensais previstos somam R$16.546,50, incluindo despesas com hospedagem e alimentação. A contratação foi noticiada pelo portal D’Ponta News.

Conselho investiga contrato de quase R$ 200 mil da Saúde de PG

Durante a entrevista, Lilian justificou a contratação afirmando que conhece a consultora há anos e que a profissional já atuou como consultora no âmbito estadual. “A cada passo que o SUS dá, ele se torna mais complexo na sua existência e organização”, afirmou. Ela destacou que a atenção primária deve ser a porta principal do Sistema Único de Saúde (SUS) e que isso exige conhecimento, metodologia e tecnologia.

“É na atenção primária que você precisa ter uma equipe que entende o que está fazendo, qual a sua missão naquela Unidade Básica de Saúde. Precisa de metodologia de trabalho e tecnologia. Não se trabalha com achismo, saúde se trabalha com evidências, ciência e método”, afirma.

Ela disse ainda que a cidade conta com bons profissionais e estrutura na saúde. “Ponta Grossa tem uma estrutura invejável em termos de saúde. Aos longos dos anos foi se construindo essas estruturas que dão acesso à população. Temos equipes muito bem preparadas e estudadas, com mestrado, doutorado e especialização. Porém, o que falta em Ponta Grossa é uma gestão, um método”, disse.

Segundo ela, a articulação entre os setores da saúde é falha. “As nossas equipes não se conversam e eu preciso que a atenção primária, saúde mental e os nossos hospitais se conversem”, exemplifica.

Problemas nas UBSs
A secretária também comentou sobre falhas nos atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Um ouvinte relatou dificuldade em conseguir consulta imediata e mencionou que os agendamentos são apenas para um ou três meses. Lilian reconheceu a queixa. “É justamente esse processo que a gente precisa mudar e a população tem razão nesse sentido e precisamos melhorar isso”, concorda.

Ela contou que nesta semana foi realizada uma reunião com os médicos das UBSs para discutir esses problemas e apresentar o perfil epidemiológico do município. “Estamos trabalhando para isso, para que a gente trabalhe na unidade básica de saúde”.

Lilian também comentou sobre a presença de “hiperutilizadores” nas UBSs. “Hoje nas UBSs a gente tem algo em torno de 60% de pessoas que vão quase que semanalmente ou pessoas que vão de duas a três vezes na semana. Chamamos essas pessoas de hiperutilizadores”, disse, acrescentando que esse comportamento tira a vaga de outros pacientes.

Ela mencionou ainda as reclamações sobre o acolhimento nas UBSs, que é o primeiro atendimento. “Esse é o primeiro ponto na atenção da pessoa. Quem recebe precisa saber para onde direcionar as pessoas. É nesse sentido que eu digo para você que é necessário trabalhar o método. A equipe tem que ter método de trabalho”, reforça.

Outro ouvinte mencionou estar há mais de cinco anos na fila por atendimento em especialidades. Lilian respondeu que essa responsabilidade não cabe apenas ao estado. “Esse problema não é só do estado e sim também do município. O paciente é do município e quem precisa cuidar desde o nascimento até a morte somos nós”.

Ela comentou sobre a discussão comum de que especialidades e hospitais seriam responsabilidade do estado. “Se eu não disser para o estado qual é a minha fragilidade, como ele vai me auxiliar? Como vai mandar mais leitos?”. Ela reconheceu que um dos principais problemas é a fila de espera por especialidades.

A demora na realização de exames também foi discutida. Lilian explicou que depende do tipo de exame e citou que hemogramas demoravam até um mês para ficarem prontos na atenção primária, algo que foi questionado internamente. Também destacou a prioridade para gestantes, que antes aguardavam na fila de exames laboratoriais. “Isso não pode acontecer, elas precisam ter prioridade. Trabalhamos isso com a equipe de laboratório e isso melhorou”.

Gestão plena
Durante a campanha eleitoral de 2024, a então prefeita e candidata à reeleição na época, Elizabeth Schmidt (União), incluiu em seu plano de governo a proposta de implantar a gestão plena dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) em Ponta Grossa. A medida daria ao município autonomia para administrar diretamente os recursos de média e alta complexidade repassados pelo Ministério da Saúde, firmando contratos com hospitais e organizando toda a rede de exames.

Na época das eleições municipais de 2024,  a então prefeita que na época era candidata à reeleição para à Prefeitura, Elizabeth Schmidt, colocou em seu plano de governo uma proposta de gestão plena e dos recursos enviados pelo SUS. Com isso, Ponta Grossa passaria a ter autonomia total na gestão do orçamento enviado pelo Ministério da Saúde.

Veja a entrevista na íntegra: