Segunda-feira, 23 de Junho de 2025

Artigo: “Viciados em BNDES”, por Oliveiros Marques

2025-06-22 às 16:50

Um amigo me mandou neste domingo o link de uma matéria publicada em um portal de notícias. A reportagem mostrava que o chamado “Rei do Ovo” teria sugado mais de R$ 150 milhões do BNDES — boa parte durante os governos do PT — para construir sua poedeira bilionária. Ou seja, usou dinheiro público para comprar seu ingresso na lista da Forbes.

E agora, esse cidadão tem a cara de pau de vir a público dizer que não consegue contratar trabalhadores porque estariam “viciados em Bolsa Família”. Canalha. Canalha. Canalha. É o mínimo que se pode dizer. Isso é mentira. O que talvez os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras não queiram é se submeter aos salários miseráveis pagos pelas empresas desse sujeito — abaixo da média nacional.

Mas a canalhice não para por aí. Ela exala o racismo multidimensional dessa elite branca calhorda que comanda o País desde antes da República. O que ele realmente não quer — e essa é a grande verdade — é a distribuição de renda. Porque, se houver renda para o povo, ele não pode mais arrochar salários. E aí fica mais difícil manter a reprodução da sua fortuna — construída com alavancagem de dinheiro público, empréstimos subsidiados e financiamentos pagos por toda a sociedade brasileira.

E Ricardo Faria não é um caso isolado. Muitos, especialmente — mas não só — no agronegócio, são viciados em recursos públicos, inclusive a fundo perdido. E ainda posam de empreendedores de sucesso. Uma canalha insuportável que, no fundo, odeia pobres. Inclusive os “novos ricos” da grilagem de terras no Centro-Oeste e na fronteira agrícola do Norte: antes pobres, deram calote em banco público, mexeram em cercas e construíram fortunas.

Só há uma saída para ensinar essa gente a ter compromisso com o Brasil — e não apenas com suas fortunas: apertar a torneira do financiamento público. Estabelecer critérios rigorosos, metas claras, medições contínuas. Projetos financiados devem ser acompanhados do início ao fim, com objetivos concretos de geração de emprego, renda e sustentabilidade.

Vejamos uma situação hipotética: um desses canalhas bate à porta do BNDES pedindo empréstimo subsidiado para comprar bens de capitais. Máquinas. A promessa? Aumentar a produção e, com isso, contratar mais gente. Mas no meio do caminho, com uma artimanha gerencial, o tal “empresário meritocrático” usa o recurso para comprar imóveis. E voilà: em poucos anos, ingressa em um outro ramo de negócios e transforma aqueles imóveis — comprados com dinheiro público subsidiado — no núcleo de um novo império imobiliário. Algo está muito errado.

Portanto, contra o vício do BNDES, só há um remédio: apertar a torneira e escutar a chiadeira.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político