A poucos meses de completar 80 anos, morre em Washington uma senhora que veio ao planeta com a missão de garantir a concertação mundial. Apesar de ter falhado algumas vezes ao longo dessa trajetória, nunca antes se mostrara tão incapaz de reagir. Nunca fora tão desprezada, humilhada e violentada quanto neste 21 de junho. Os Estados Unidos tripudiaram sobre ela.
Trump, em sua postura de imperador do mundo, comete um crime gravíssimo ao contrariar diversas resoluções internacionais. A mais séria delas: a que proíbe ataques a instalações nucleares. O imbecil laranja sequer tinha autorização de seu Congresso para realizar o ataque contra o Irã. Mas, como imperador, julga-se autossuficiente.
Os Estados Unidos repetem o roteiro do Iraque. Baseados em falsas narrativas sobre armas nucleares, atacam o Irã — país signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares — apenas para fazer o jogo sujo de seu comparsa, o Israel de Benjamin Netanyahu. Vale lembrar: Israel nunca assinou o tratado, e os EUA abandonaram-no já no primeiro governo Trump.
Com esse ataque ao Irã, a mão que pairava sobre os Estados nacionais deixa de existir. O recado é claro: se eu quiser o seu petróleo, suas terras raras, seu lítio — qualquer riqueza do seu território — direi que você tem armas nucleares e o atacarei. E não nos esqueçamos: não há qualquer relatório da Agência Internacional de Energia Atômica que aponte enriquecimento de urânio em nível necessário para fins militares no Irã.
O único país no mundo que já utilizou armas nucleares — os EUA, contra Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial — não pode se arrogar o direito de regular a ordem global. Aliás, mesmo quando ainda eram signatários do Tratado de Não-Proliferação, jamais se empenharam em reduzir seu próprio arsenal. Cinicamente, sustentam um discurso que vale para os outros, mas não para si mesmos. E o objetivo é escancarado: manter-se como a maior potência militar do planeta, a ponto de ameaçar anexar o Canadá, tomar a Groelândia na mão grande, ou mudar o nome do Canal do Panamá.
É urgente a refundação de um novo pacto entre os países, para além da ONU — que se mostra, a cada dia, mais subserviente aos interesses norte-americanos. Um novo eixo precisa emergir no mundo, capaz de confrontar, de forma firme e definitiva, a postura imperial dos Estados Unidos.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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