Enquanto Charles Darwin desenvolvia suas ideias sobre a seleção natural, em 1838, uma dúvida pessoal também o inquietava. Aos 29 anos, em meio à intensa vida acadêmica e científica, o naturalista britânico se perguntava se o casamento seria compatível com sua dedicação ao trabalho. A resposta veio de forma prática. Ele elaborou duas listas sobre os prós e contras de se casar, como revelou a BBC News Brasil.
Na lista que intitulou ‘Se casar’, Darwin escreveu com honestidade características que via como vantagens:
Logo depois refletiu sobre o custo emocional dessas vantagens. “Essas coisas são boas para a saúde, mas uma terrível perda de tempo”, escreveu. E completou com um desabafo “Meu Deus, é intolerável pensar em passar a vida inteira como uma abelha castrada, trabalhando, trabalhando, e, no fim das contas, nada”.
Apesar disso, se imaginava casado “Uma esposa amável e gentil em um sofá, com uma boa lareira, livros e música, talvez”, considerou.
Quando listou os motivos para não se casar, Darwin foi ainda mais direto:
Mesmo com mais argumentos contrários, a decisão final veio em uma anotação conclusiva “Case-se Q.E.D.” (sigla latina para “como ficou demonstrado”).
Ainda assim, hesitou. Questionava-se se deveria casar logo ou esperar mais. O medo era de que o casamento trouxesse brigas, gastos e uma vida social forçada. “Nunca aprenderia francês, nem veria o continente, nem iria à América, nem voaria de balão, nem faria uma viagem sozinho para o País de Gales, pobre escravo”, escreveu.
Mas voltou a mudar o tom “Anima-te. Não se pode viver essa vida solitária, com uma velhice entorpecida, sem amigos, com frio e sem filhos”. E finalizou “Não se preocupe, confie no acaso. Há muitos escravos felizes”, concluiu.
Em 11 de novembro daquele ano, escreveu em seu diário que havia sido “o dia dos dias” porque sua prima Emma Wedgwood aceitou seu pedido de casamento. As famílias já eram próximas e viam Emma como a parceira ideal para Charles. Ainda assim, ela ficou surpresa com o pedido, achando que era apenas mais uma prima para ele.
A série ‘Grandes Esposas’, da BBC, lembra que para uma mulher daquela época as opções eram limitadas. Emma não tinha os mesmos privilégios de liberdade que Darwin imaginava perder. Para ela, casar-se com um homem respeitado, ainda que excêntrico, era uma escolha racional e segura.
Seis meses depois, eles se casaram. O casamento durou 43 anos e gerou dez filhos. Juntos, construíram uma relação de afeto, cumplicidade e parceria que perdurou até a morte de Darwin, em 1882.