O autoproclamado imperador do mundo dá mostras cotidianas de enxergar o Brasil não mais como parceiro comercial – como historicamente sempre fomos em relação aos Estados Unidos – mas como um inimigo. Extremista, tal como os seus puxa-sacos ao sul do Equador, ignora que governa um país e trata de ideologizar suas relações externas, atacando outras nações. Não por ver nelas concorrentes em potencial, mas por puro preconceito e por interesses abertamente imperialistas.
Em defesa das empresas que lhe são aliadas, ataca a Suprema Corte brasileira. Busca constranger autoridades do Judiciário como se tivesse legitimidade para se intrometer em procedimentos judiciais internos. Tudo isso para permitir que essas corporações sigam lucrando no Brasil, mesmo desrespeitando nossas leis – algumas, inclusive, atuando como ferramentas da extrema-direita na disseminação de fake news e mensagens criminosas.
Expulsa brasileiros que viviam nos Estados Unidos, trabalhando, formando famílias, contribuindo para a economia local. Tratados como seres descartáveis, medidos em arrobas, são embarcados algemados em aviões, como se fossem animais. Pelo prazer de mostrar o seu desprezo por tudo o que não seja espelho.
Ameaça o Brasil com barreiras tarifárias e insinua sanções pela nossa participação nos BRICS – uma demonstração explícita de seu projeto de dominação global, ao ver os países em desenvolvimento buscarem se libertar das amarras do padrão dólar.
É evidente que interesses econômicos estão por trás de cada uma dessas iniciativas. E esse comportamento deveria acender um alerta urgente na comunidade de inteligência brasileira, especialmente diante do processo eleitoral que se aproxima. A eleição de 2026 já começou – e a movimentação de Trump não é desinteressada. Terras raras e posicionamento geopolítico brasileiros devem estar no radar trumpista.
Não é plausível que o Brasil siga acreditando que os Estados Unidos não possam vir a querer interferir em nosso processo democrático. Ou pior: que já não estejam fazendo isso. Aliás, já o fizeram em outros momentos históricos. As autoridades brasileiras precisam estar atentas à movimentação de possíveis agentes de inteligência norte-americanos em nosso território.
É fundamental observar com rigor o comportamento de certos agentes públicos, entidades supostamente do “terceiro setor”, e novos atores que possam surgir. A contrainteligência brasileira precisa agir. Caso contrário, corremos o risco de testemunhar uma intervenção estrangeira no nosso processo democrático como nunca antes.
As declarações de Trump em defesa dos golpistas no Brasil, assim como a presença do filho do inelegível em território norte-americano, são sinais claros de que algo já pode estar em curso. Não se trata de teoria da conspiração. Eu vivi uma situação semelhante em um país latino-americano em 2019 – e quando, os candidatos de interesse dos Estados Unidos foram derrotados, veio um golpe de Estado.
Por Oliveiros Marques
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