Sexta-feira, 18 de Julho de 2025

Ortopedista pediátrica orienta pais sobre primeiros passos e quedas em crianças

Médica fala sobre cuidados na infância, dor do crescimento, uso de andadores e alerta para riscos de doenças mais graves
2025-07-17 às 19:35
Edu Vaz/D’Ponta News

A médica Marcela de Andrade Balsano, especialista em ortopedia pediátrica, foi a entrevistada desta quinta-feira (17) no programa Manhã Total da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM). Durante a conversa, ela falou sobre os cuidados com os primeiros passos das crianças, além de questões posturais, quedas, dor do crescimento e até os riscos do uso excessivo de celular.

Marcela atua em uma área ainda majoritariamente masculina. “Quando consideramos 100% da ortopedia, 5% são mulheres”, afirmou. Em Ponta Grossa, ela destaca que há apenas duas ortopedistas mulheres, uma especializada em mão e ela em ortopedia pediátrica. “No Hospital Regional sou a primeira mulher formada pela residência em ortopedia e também a primeira a integrar o corpo clínico como plantonista”, disse.

A entrevista começou com uma dúvida comum entre os pais que é o hábito de algumas crianças andarem nas pontas dos pés. Segundo a médica, essa condição pode ocorrer de três formas diferentes. A primeira, considerada normal, é parte do processo natural de desenvolvimento, sem ligação com doenças neurológicas. “Não é que toda criança que anda nas pontas dos pés tem algum problema”, ressalta.

No entanto, ela explicou que em crianças com autismo essa prática pode ser mais comum devido ao processamento sensorial diferente. “Ela pisa com a ponta do pé não por uma alteração ortopédica, mas porque se sente mais confortável assim”, explica. Há também casos em que a criança tem encurtamentos musculares que justificam o padrão de marcha. Para isso, a avaliação especializada é fundamental. “A criança não é um mini adulto. Um ortopedista que trata adultos pode não conseguir fazer um diagnóstico adequado”, alerta.

A médica destaca que um profissional especializado tem mais preparo para reconhecer o que é esperado para a fase de crescimento e o que pode ser uma variação ou alteração ortopédica.

Sobre a chamada dor do crescimento, Marcela confirmou que o problema é real. Ela explicou que essas dores surgem geralmente entre os 4 e 12 anos e tendem a desaparecer por volta dos 13. “Geralmente é uma dor que a criança não consegue explicar bem. Aparece no fim da tarde, à noite, ou pode até acordar a criança durante a madrugada”, relatou. As dores costumam se localizar no meio da coxa, da perna ou do braço. “Quando é nas articulações como joelhos ou tornozelos, deve ser investigado com mais atenção”, alerta.

Ela lembra que nem toda dor pode ser considerada inofensiva. “Não dá para ignorar, pois pode sinalizar doenças silenciosas. Já tivemos casos de leucemia em que a primeira manifestação foram dores inespecíficas”, afirma.

Outro ponto abordado foi o uso de celulares e computadores por crianças. A ortopedista orienta que o uso seja limitado a no máximo duas horas por dia. “É importante que a tela esteja sempre na altura do olhar, para não forçar a coluna”, aconselha.

Quanto aos atendimentos mais frequentes no consultório, a médica contou que sua atuação é variada, mas fraturas são os casos mais comuns. “Criança brinca, cai e quebra, e isso acontece mesmo”, relata. Além disso, ela atende doenças ortopédicas que podem ser congênitas, como o pé torto, ou que surgem ao longo do desenvolvimento, como alterações posturais e marcha irregular. “Tenho percebido um aumento nos casos posturais”, afirma.

Sobre quedas, Marcela explicou que é normal a criança cair com frequência até os sete anos de idade. “É a fase em que estamos desenvolvendo o padrão de marcha e passando por uma maturação neurológica. Esperamos que a criança caia mais nos primeiros anos e depois vá reduzindo”, esclarece. No entanto, se as quedas forem excessivas, os pais devem procurar avaliação. “Pode haver um desbalanço na bacia ou na perna que justifique essas quedas repetidas”, disse.

Ela reforçou que os problemas ortopédicos costumam aparecer quando a criança começa a andar. “Pé muito para dentro ou para fora, joelhos desalinhados ou diferença no comprimento das pernas são sinais que precisam ser observados”, comenta. Também é importante avaliar quando a criança apresenta dificuldade para brincar ou correr como as outras.

De acordo com Marcela, o esperado é que a criança comece a andar entre os 11 meses e um ano e meio. “Cada criança tem seu tempo, mas se passar desse período, o ideal é fazer uma avaliação”, recomenda.

Ela também alertou sobre o uso de andadores. “Pular etapas como o engatinhar pode prejudicar o desenvolvimento. Além disso, o andador aumenta o risco de quedas e traumas. Há estudos que mostram que ele potencializa a chance de fraturas ou traumatismos cranianos”, alerta.

Sobre os calçados, a especialista indicou que os pais optem por modelos confortáveis e de solado reto, especialmente para crianças com pés chatos. “Calçado confortável é mais adequado do que aqueles que forçam o formato do pé”, disse.

Ela lembrou que andar e engatinhar são aprendizados fisiológicos e que os pais devem incentivar essas etapas. “Brincar com a criança de barriga para baixo ajuda a desenvolver o controle cervical e os movimentos de engatinhar ou ficar em pé”, cita.

A médica também comentou sobre a postura ao dormir. “O ideal é colocar a criança de barriga para cima e respeitar a posição natural do bebê. Às vezes os pais se assustam com a postura tipo sapinho, mas isso é normal e não precisa ser corrigido”, conclui.

Veja a entrevista na íntegra: