Ainda pendente de confirmação no dia 6 sobre o que restará do tarifaço imposto ao Brasil pelo governo Trump, em articulação com a família Bolsonaro, já é possível identificar quem saiu fortalecido em sua imagem pública – e quem, ao contrário, perdeu com os movimentos feitos e as medidas anunciadas.
Em primeiro lugar, é inquestionável que a articulação de Eduardo Bolsonaro, em parceria com o neto do último presidente da ditadura militar – o general João Batista de Oliveira Figueiredo, que, quando ocupava a Presidência sem nunca ter sido eleito, dizia preferir cavalos a gente – foi um imenso tiro no pé.
De um lado, os movimentos aloprados, golpistas e egoístas tramados por eles serviram para consolidar, entre amplos setores que já haviam apoiado ou que ainda apoiavam o bolsonarismo, a percepção de que a “família” do slogan de campanha se reduz, única e exclusivamente, à família Bolsonaro. A família dos produtores rurais, dos empresários e dos desavisados trabalhadores e trabalhadoras que idolatravam Bolsonaro simplesmente não importa para eles. O desespero de gritar Trump, salva o meu pai ajudou sobremaneira a iniciar a construção de um novo bloco na centro-direita e na direita – formado por aqueles que preferem ver o diabo a ter de ouvir falar em Bolsonaro.
De outro lado, a chantagem patrocinada pelos Bolsonaros acabou servindo de combustível para reacender um sentimento de pertencimento nacional que vai muito além da camisa amarela da seleção. Um sentimento que ultrapassa os palcos dos estádios, os anos de Copa do Mundo, as manifestações articuladas da classe média-alta branca e bem-nascida – com a adesão, por vezes, de setores mais pobres, instados por lideranças religiosas -, e se instala, agora, no cotidiano das pessoas comuns. The Brazilian people come first começa a ganhar vida real.
Ou seja: os donos plenipotenciários da marca Bolsonaro, sem um milímetro de dúvida, perderam. As articulações alopradas serviram, inclusive, para reforçar junto à Suprema Corte a imagem de que é preciso garantir à sociedade brasileira o direito de não ter Jair Bolsonaro solto nas ruas pelos próximos 40 anos – e de que goze também do direito de companhia de uma familiar, por ora, do seu filho Bananinha.
Mas não foram apenas os Bolsonaros que saíram derrotados. Perderam também os governadores dublês de candidatos presidenciais. A postura de todos eles – Tarcísio, Ratinho, Caiado, Zema – e também de um ex-governador, Ciro Gomes, demonstrou que nenhum têm estatura política para liderar o país. Diante do maior ataque à soberania brasileira em toda a sua história, esses senhores simplesmente se “acadelaram”, escancarando sua vassalagem e cumplicidade com um movimento golpista que ainda tenta, em vão, abalar o Estado Democrático de Direito em nossa nação.
E o problema não é o fato de qual lugar ocupam na régua ideológica. É o papel de quinta-coluna que escolheram assumir frente a um ataque direto às nossas instituições. Aplaudir ou silenciar, tergiversar, buscar culpados onde não há culpa, apenas para proteger os verdadeiros criminosos – que, como está claro, são os membros da família Bolsonaro, que fazem questão de publicizar essa culpa – é agir da mesma forma. Esses políticos não defenderam os setores econômicos nem os empregos brasileiros; optaram por defender a impunidade de Bolsonaro. Trocaram a liberdade de um povo inteiro pela possível liberdade do chefe de uma organização criminosa.
Mas, do ponto de vista político, há sim vencedores nesse processo. Aqueles que se mostraram patriotas, líderes e defensores do direito de autodeterminação do povo brasileiro. Ainda é cedo, mas a história próxima – e a futura – mostrará que Lula e seu campo político-social saíram como os grandes vencedores desse embate. Lula teve a grandeza de enfrentar a maior economia do mundo e o maior poderio bélico do planeta com altivez, sem arroubos nem bravatas. Nomeou os interlocutores certos – e não há dúvida de que Geraldo Alckmin sairá maior disso tudo -, construiu roteiros de negociação e disputa de narrativas muito sólidos e mostrou ao mundo o que muitos esperavam desde 2023: o CARA voltou.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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