Segunda-feira, 18 de Agosto de 2025

FAS de Curitiba incentiva pessoas em situação de rua a retomarem estudos; educação amplia chances no mercado de trabalho

2025-08-18 às 15:34
Foto: Divulgação

A Fundação de Ação Social (FAS) tem incentivado pessoas em situação de rua de Curitiba a retomarem os estudos por meio de exames de equivalência e do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). O objetivo é melhorar a escolaridade, fortalecer o currículo e ampliar as chances de inserção no mercado de trabalho.

Este ano, em duas oportunidades, 20 homens atendidos no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP) Doutor Faivre, que funciona no Centro Intersetorial de Atenção a Pessoas em Situação de Rua, a FAS SOS, fizeram a prova de equivalência aplicada pela Secretaria Municipal da Educação (SME). Dezessete deles foram aprovados e poderão receber os certificados nesta terça-feira (19/8).

O exame, voltado a jovens e adultos alfabetizados com mais de 15 anos, garante o certificado de conclusão do ensino fundamental até o 5º ano.

O presidente da FAS, Renan de Oliveira Rodrigues, destaca que a educação é um dos pilares fundamentais no atendimento à população em situação de rua em Curitiba. “Essa iniciativa incentiva a retomada dos estudos e cria novas oportunidades de inclusão social. Mais que um certificado, é uma porta aberta para o resgate da autoestima e para que cada pessoa escreva uma nova história”, afirma.

Sonho de fazer faculdade

Entre os aprovados nos exames de equivalência está o carioca Admilson da Costa, 40 anos, que havia estudado até o 3º ano do ensino fundamental e, incentivado pela FAS, decidiu voltar a estudar. No dia 27 de julho, fez a prova e foi aprovado. Ele receberá o certificado de conclusão do 5ª ano.

“Quero estudar mais. Se despertar minha inteligência, ainda pretendo fazer uma faculdade, de gastronomia, que é o que eu amo”, contou. “Posso trabalhar e estudar ao mesmo tempo”, complementou.

Admilson, que sonha ter uma panificadora, já participou de cursos de gastronomia ofertados pela Prefeitura e hoje trabalha por dia como ajudante de cozinha em um restaurante da cidade.

“O trabalho da FAS é cheio de riqueza. A gente chega destruído e é acolhido. A droga e a rua destroem o ser humano, mas aqui a gente tem acolhimento de mãe”, diz. Admilson conta que um de seus incentivos para mudar de vida é o filho de 12 anos que vive no Rio de Janeiro.

Mercado de trabalho

A educadora social Elenir Lúcio Araújo, que acompanha Admilson no Centro POP Doutor Faivre, por meio do projeto Conectando Vidas, explica que a escolaridade era um dos principais obstáculos para sua reinserção profissional.

“Ele sempre achou que não iria conseguir, mas fez a prova rápido e foi aprovado. Hoje todas as empresas pedem, no mínimo, o ensino fundamental, e esse foi um passo essencial. Eu acredito que ele vai superar as vulnerabilidades dele”, afirma.

Outro exemplo é Oliver Luiz Broetto, 48 anos, natural de Dois Vizinhos, no Sudoeste do Paraná. Ele que ficou em situação de rua em momentos diferentes, desde 2004, participou no último dia 3 do Encceja. “Já me inscrevi outras vezes, mas agora fiz a prova. Com essa volta aos estudos, penso até em fazer concurso público”, diz o homem que gosta de leitura e é um dos frequentadores mis assíduos da biblioteca da FAS SOS.

Um novo exame de equivalência já está agendado, desta vez em parceria com a Secretaria de Estado da Educação. Ele deverá ser aplicado nos próximos dias 1º e 2 de outubro. Dessa vez a prova será oferecida para quem quer ter certificado de conclusão do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

Legislação

O exame de equivalência da rede municipal está normatizado pela Portaria nº 9, de 11 de março de 2025. A gerente da Educação para Jovens e Adultos da secretaria, Maria Gorete Stival Paula, explica que o teste possibilita que jovens e adultos que não concluíram os anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) na idade adequada possam obter a certificação de conclusão, por meio de uma avaliação. A iniciativa atende também pessoas que perderam os documentos escolares.

“A iniciativa faz parte da modalidade Educação de Jovens e Adultos e representa um importante instrumento de reconhecimento dos saberes construídos ao longo da vida. A ação no Centro POP Doutor Faivre é um gesto de escuta, respeito e cuidado com as pessoas que buscam a possibilidade de recomeçar, com dignidade, reconhecimento e acesso a direitos”, explica Gorete.

da assessoria