Por Camila Souza
Uma reunião foi realizada na manhã desta sexta-feira (22), entre membros da Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa (FMS), servidores e coordenadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O encontro teve o intuito de discutir a situação do Samu em Ponta Grossa e informar a categoria sobre os próximos passos junto ao Consórcio Intermunicipal Samu Campos Gerais (CimSamu). O encontro antecede, conforme informou a pasta, uma última assembleia marcada para 11 de setembro quando será definido o futuro dos servidores da cidade dentro do CimSamu. Nesta assembleia estarão presentes os representantes dos municípios integrados do consórcio, presidência, servidores e a Fundação de Saúde.
De acordo com relatos de profissionais que iremos manter preservada a identificação, Ponta Grossa já vive um processo de precarização na saúde. No início do Consórcio, a cidade chegou a ter mais ambulâncias sob gestão direta de servidores concursados. Hoje, o cenário mudou. Restam apenas duas ambulâncias de suporte básico, além de uma única ambulância de suporte avançado, responsável pelos casos mais graves, como paradas cardíacas, acidentes, AVCs, partos de risco e transferências de pacientes críticos, estas, com equipes de profissionais concursados.
A situação é considerada grave pelos servidores porque a única ambulância de suporte avançado que permanece em Ponta Grossa já não consegue atender simultaneamente todas as ocorrências da cidade, que concentra a maior demanda do consórcio. “Uma única ambulância avançada não dá conta”, afirmou um técnico em enfermagem socorrista. Conforme a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2024, Ponta Grossa tem 372 mil habitantes.
O servidor informou que no início do consórcio, a cidade contava com cinco ambulâncias de suporte básico, compostas por condutor-socorrista e técnico em enfermagem socorrista, além de uma ambulância de suporte avançado, que tinha equipe formada por médico-socorrista, enfermeiro socorrista e condutor-socorrista. Ele afirma que nos últimos dois anos, porém, três dessas unidades básicas foram repassadas ao consórcio e passaram a ser terceirizadas. Restaram duas ambulâncias básicas e apenas uma avançada. Essas últimas, que ainda são operadas por servidores concursados, podem ser entregues à gestão terceirizada, o que resultaria em 100% do atendimento sob responsabilidade de empresas contratadas.
A pressão pela terceirização teria se intensificado após a saída da prefeita Elizabeth Schmidt da presidência do consórcio neste ano. Servidores lembram que havia um termo de compromisso assinado por ela garantindo que os profissionais cedidos pelo município permaneceriam no CimSamu até dezembro de 2025, mas relatam que o acordo não estaria sendo respeitado. “O consórcio está acelerando, eles querem que a gente saia o mais rápido possível”, disse o técnico.
O profissional lembra que em uma assembleia realizada pelo consórcio anteriormente, a maioria dos municípios presentes foram favoráveis pela terceirização integral de Ponta Grossa.
O temor da categoria é que, com a terceirização, Ponta Grossa perca a única estrutura dedicada exclusivamente ao município em casos graves. “Se isso acontecer, Ponta Grossa ficará sem uma unidade dedicada exclusivamente ao município”, alertou o servidor.
Outro ponto levantado é o risco de substituição de equipes experientes por profissionais recém-formados contratados por salários mais baixos. “O município perde pela questão da mão de obra especializada e a experiência do tempo de trabalho. Tem colegas que atuam há mais de 15 anos”, explicou o servidor. “Eles vão contratar servidores novos, sem experiência. A empresa terceirizada visa lucros, a gente sabe disso. Então, ela contrata por um valor bem menor, pessoal recém-formado e sem experiência”, completou.
De acordo com os servidores, o argumento apresentado pelo consórcio é de que Ponta Grossa teria mais benefícios em relação aos municípios menores, já que conta com uma ambulância avançada exclusiva e não realiza transferências para outras cidades.
No entanto, a categoria destaca que essa previsão está na própria cartilha do SUS, que estabelece que municípios de maior porte devem receber mais recursos, justamente por atenderem a uma população maior. Por isso, segundo eles, não justifica a tentativa de terceirização.
A equipe de jornalismo questionou o CimSamu sobre a possível terceirização do Samu em Ponta Grossa, abordando diferentes aspectos. Foram levantadas dúvidas sobre a justificativa de que Ponta Grossa teria mais benefícios em relação aos municípios menores por contar com uma ambulância avançada, e sobre se essa movimentação teria se intensificado após a saída da prefeita Elizabeth da presidência em 2024. A equipe também buscou informações sobre o encontro marcado para o dia 11 de setembro entre o Consórcio e o município e quis saber se de fato há interesse em terceirizar, qual seria o motivo, o destino da ambulância avançada em caso de terceirização e quem seria responsável pela qualificação da nova equipe contratada.
Em resposta, o CimSamu explicou que a prestação de serviços já ocorre de forma terceirizada, embora ainda haja alguns profissionais concursados cedidos pelo município.
O consórcio informou que, após a Assembleia Geral realizada em 25 de julho, com a presença de 21 dos 28 municípios consorciados, decidiu-se pela padronização do serviço, de modo totalmente terceirizado, alinhando Ponta Grossa aos demais municípios. Segundo o CimSamu, a medida tem como objetivo garantir que todas as equipes e viaturas atuem de forma integrada e padronizada, assegurando o cumprimento das normas que regem o Samu.
O CimSamu reafirmou seu compromisso de garantir um serviço seguro e de qualidade à população dos Campos Gerais, com eficiência, equidade e transparência no processo de trabalho.
Apesar da resposta, nem todos os questionamentos foram esclarecidos. O consórcio não detalhou o que ocorrerá especificamente com a ambulância avançada de Ponta Grossa nem explicou quem será responsável pela qualificação da nova equipe contratada. Também não houve menção direta sobre o encontro marcado para setembro.
O CimSamu é responsável pelo gerenciamento do atendimento móvel de urgência em Ponta Grossa e em municípios da região. Criado em 2018 e em funcionamento desde 2019, o consórcio reúne 28 cidades das 3ª, 4ª e 21ª Regionais de Saúde, sendo Arapoti, Carambeí, Castro, Curiúva, Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Imbaú, Imbituva, Inácio Martins, Ipiranga, Irati, Ivaí, Jaguariaíva, Mallet, Ortigueira, Palmeira, Piraí do Sul, Ponta Grossa, Porto Amazonas, Rebouças, Reserva, Rio Azul, São João do Triunfo, Sengés, Teixeira Soares, Telêmaco Borba, Tibagi e Ventania.
Atualmente, a diretoria é composta pelo presidente Juca Sloboda (prefeito de Jaguariaíva), vice-Presidente Gerson Nunes (prefeito de Sengés), tesoureiro Rildo Leonardi (prefeito de Tibagi) e o secretário Edmundo Vier (prefeito de Inácio Martins).
Apesar da integração ao consórcio, Ponta Grossa ainda preserva parte de sua estrutura própria, com bases físicas nos bairros Nova Rússia, Oficinas e Uvaranas.