Por Camila Souza
Uma mãe procurou atendimento médico nesta semana para a filha de 7 anos, estudante de uma escola municipal do bairro Cará-Cará, em Ponta Grossa, após a menina relatar dores e desconforto. Durante a consulta na última segunda-feira (18), na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Uvaranas, a criança contou à equipe de saúde que um colega de turma teria introduzido um lápis e o dedo em sua região íntima enquanto ela dormia no horário de descanso na escola. A situação mobilizou atendimentos em diferentes unidades de saúde e foi comunicada a órgãos públicos do município. Por envolver uma criança e se tratar de um tema sensível, todas as fontes ouvidas pela reportagem não serão identificadas.
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De acordo com a mãe, a filha inicialmente disse que não estava se sentindo bem e por isso foi levada ao atendimento médico da UPA. Na conversa com a assistente social da unidade, a menina acabou revelando o que havia acontecido dentro da escola. A mãe contou que, na terça-feira (19), a criança voltou a sentir dores e apresentou sangramento ao urinar. Por esse motivo, foi levada ao Centro de Atendimento à Criança (CAC) e, em seguida, ao Hospital Universitário Materno Infantil (Humai), onde passou por exames.
Segundo a mãe, os médicos constataram que houve apenas lesões externas. “E felizmente só machucou a parte da frente que está um pouco inchada. Graças a Deus, não machucou nada por dentro dela”, disse a mãe aliviada. Entretanto, a mãe ressaltou que a filha está traumatizada e precisará de acompanhamento psicológico, além de não querer voltar para a escola por causa da situação.
A mãe relatou ainda que a filha disse ter relatado o ocorrido a uma professora no momento do descanso, mas que a professora teria dito que “era pra ela não ligar pra ele [o colega]”. Ainda segundo o relato, a professora teria informado que passaria a situação à direção. A mãe afirmou que procurou a diretora da escola que disse não estar ciente do caso, mas se comprometeu a resolver.
Por fim, a mãe disse que aguarda um retorno do Conselho Tutelar, pois considera que não é natural que uma situação assim aconteça dentro de uma escola. Ademais, a mãe informou que até o momento, não está recebendo apoio algum de órgãos competentes.
Após os relatos da mãe da aluna, a equipe de jornalismo também questionou a comunidade escolar que responderam aos questionamentos levantados pela reportagem. Sobre a informação de que a situação teria ocorrido durante o horário de descanso, a escola afirmou que não havia alunos dormindo, mas sim assistindo televisão. A comunidade ressaltou que não existe momento de ‘soninho’ na rotina escolar.
A mãe havia dito que a filha contou para uma professora o que aconteceu e que teria ouvido da profissional que não deveria se preocupar. A direção negou esse relato. Segundo a escola, a aluna não comunicou nada à professora presente no descanso nem à professora regente, e por isso não houve orientação nesse sentido. A instituição reforçou que a docente sequer tem lembrança de a menina estar próxima do aluno apontado como envolvido.
Em relação à percepção da professora durante o momento, a escola declarou que não foi notado nenhum comportamento fora do comum. Conforme informações, a aluna participou normalmente das atividades na tarde de segunda-feira, inclusive de brincadeiras de folclore com os colegas, sem apresentar queixas.
Sobre o contato da mãe com a direção, a comunidade escolar confirmou que a gestora não tinha conhecimento prévio do caso justamente porque a situação não foi comunicada sequer à professora no dia. A comunidade ainda disse que a direção foi procurada na terça-feira, quando a mãe relatou ter encontrado sangue nas roupas íntimas da filha. Na ocasião, a menina teria contado que um colega a cutucou com um lápis. A escola informou que assim que teve conhecimento do caso pela mãe, ouviu toda a equipe, que negou ter presenciado qualquer situação semelhante, e assumiu o compromisso de acompanhar a família, inclusive com a possibilidade de encaminhar à Secretaria Municipal de Educação e a outros órgãos competentes. A família teria concordado com os encaminhamentos e deixado a escola de forma tranquila.
Em nota, a escola ressaltou ainda que antes mesmo de poder investigar ou acionar os órgãos oficiais, o caso foi exposto em redes sociais e em veículos de comunicação, sem o devido cuidado e sem preservar a imagem da criança.
Segundo a escola, a repercussão tem gerado tristeza e preocupação entre professores e funcionários, que estariam sendo alvo de comentários ofensivos, difamatórios e até ameaças. A escola disse que sua prioridade sempre foi a proteção e o cuidado dos estudantes, que permanecem sob supervisão da equipe durante grande parte do dia.
A instituição também afirmou estar preocupada com a falta de apoio recebida diante dos ataques sofridos e pediu que a comunidade evite julgamentos precipitados, respeite a imagem das crianças e confie no processo adequado de investigação.
A equipe de jornalismo do D’Ponta questionou a Prefeitura à fim de compreender se essa situação é do conhecimento da Secretaria Municipal de Educação e o que tem sido feito. Em nota, a Secretaria informou que o Conselho Tutelar foi acionado e que a situação está em apuração. Além disso, disse que “Como medida imediata, a equipe de assistência social da Secretaria está em contato permanente com as famílias envolvidas no caso e também esteve presente na referida escola”, finaliza.
A UPA Uvaranas, onde a criança recebeu o primeiro atendimento, confirmou que a paciente passou por avaliação médica e acolhimento social, acompanhada da responsável. A unidade informou ainda que o Serviço Social apurou as informações e encaminhou um relatório ao Conselho Tutelar. Em respeito à privacidade da paciente, não foram divulgados mais detalhes sobre o atendimento.
Já o Conselho Tutelar da região Sul declarou que tem conhecimento da situação, mas a conselheira responsável não estava disponível no momento do contato da reportagem. O órgão se comprometeu a confirmar, assim que possível, se recebeu oficialmente o relatório da UPA. A matéria seguirá sendo atualizada conforme novos encaminhamentos sejam informados.
*Matéria atualizada em 22 de agosto às 19h50.