Terça-feira, 16 de Setembro de 2025

Artigo: ‘Nepal, Santa Catarina e os nepobabies da política’, por Rafael Guedes

2025-09-16 às 14:37
Crédito: Freepik

O cenário político catarinense, outrora um bastião de relativa estabilidade conservadora, vive um momento de profunda fragmentação e guerra interna. A disputa pelo protagonismo no PSD, escancarada pela troca de farpas entre o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, e o secretário Paulinho Bornhausen, é apenas a ponta do iceberg de uma crise maior que assola a extrema direita no estado.

O governador Jorginho Mello (PL) tenta a reeleição, mas não comanda a lealdade absoluta de sua base. João Rodrigues (PSD), por sua vez, investe pesado para roubar a cena e conquistar o Palácio Barriga Verde, usando sua máquina municipal e um discurso que tenta mimetizar o bolsonarismo. A fratura fica ainda mais exposta com a imposição, a todo custo, do nome de Carlos Bolsonaro para o Senado.

A candidatura de Carlos Bolsonaro é um tiro no pé da direita catarinense e um insulto à inteligência do eleitor. É a política do nepotismo em sua forma mais pura e descarada, a tentativa de transplantar para Santa Catarina um nome que não carrega nenhum legado próprio, mas apenas o sobrenome de um ex-presidente e futuro presidiário. A história, no entanto, tende a se repetir como farsa. O próprio Paulinho Bornhausen, que cresceu politicamente em parte por causa do apoio da família e que hoje critica Rodrigues, sabe bem o que é ter uma candidatura imposta rejeitada nas urnas, como ocorreu com sua campanha ao Senado nos anos 2000. Os catarinenses, tradicionalmente, resistem a herdeiros políticos que não construíram sua própria história.

Este cenário de ostentação dinástica e privilégio familiar não é um problema exclusivamente brasileiro. No Nepal, recentemente, a população se insurgiu contra a opulência e os privilégios dos filhos da elite política, que viajavam pelo mundo exibindo riquezas enquanto o país enfrentava graves crises econômicas. O povo nepalês foi às ruas para dizer “chega” à cultura do nepotismo e da herança de poder. Deixando, é claro, os excessos de lado, Santa Catarina pode estar madura para reagir ao mesmo cenário, rejeitando a imposição de um nome que representa tudo isso.

A eleição de 2026 em Santa Catarina não se definirá apenas por ideologias, mas por organização e capacidade de aproveitar os erros do adversário. A extrema direita, em sua arrogância, está cometendo um erro crasso: subestimar o eleitor catarinense, achando que ele aceitará passivamente uma candidatura nepotista e uma guerra fratricida sem consequências. A política catarinense pode ser mais do que uma disputa entre herdeiros e aventureiros políticos.

Por Rafael Guedes

 

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