A idade média dos deputados e deputadas federais brasileiros é inferior a 50 anos. Isso significa que, se bem administrada, há mais futuro político pela frente do que passado a ser lembrado. Por isso, é difícil compreender a ânsia de parte dessa legislatura em autoimplodir suas carreiras. É verdade que o instinto de autodestruição parece ser quase natural entre congressistas – já vimos isso em outros momentos -, mas os atuais estão se superando.
A aprovação da chamada PEC da Blindagem, que busca criar um escudo protetor sobretudo contra ações judiciais da Suprema Corte, provocadas pelo Ministério Público e amparadas em investigações da Polícia Federal, soa como um desatino aos olhos do eleitor médio. O recado é claro: parlamentares – e agora também presidentes de partido, que não receberam mandato algum do povo brasileiro – seriam cidadãos melhores do que os outros 213 milhões de brasileiros e brasileiras.
Essa postura passa um sinal péssimo de uma instituição já fragilizada na percepção popular. Apenas dois em cada dez brasileiros avaliam como ótima ou boa a atuação de deputados e senadores, segundo a última pesquisa Datafolha. Depois de aprovarem o aumento do número de parlamentares, avançar agora com a PEC da Blindagem é oferecer munição para que essa imagem piore ainda mais.
Pior: o eleitor percebe claramente que, enquanto votam benefícios para si próprios, os parlamentares adiam ou utilizam como moeda de troca a votação de medidas realmente relevantes, como a isenção da tarifa de energia elétrica para famílias de baixa renda ou a isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês.
E em nome do que – ou de quem – adotam tal postura? Comentaristas políticos afirmam que a preocupação estaria nas investigações sobre as emendas parlamentares. Mas todos, absolutamente todos, têm receio de que uma investigação revele irregularidades? É difícil acreditar. Parece mais plausível supor que uma parcela significativa esteja sendo tragada de graça para um espiral negativo, que cedo ou tarde será cobrado nas urnas.
Basta imaginar uma situação: um candidato a deputado federal, com base eleitoral localizada, identifica que o atual ocupante que tem votos naquela região votou a favor de privilégios para políticos. Qual seria o impacto de uma campanha baseada nessa denúncia? Certamente, o estrago não seria pequeno – e, imagino, isso tenda a se espalhar pelo país.
Não há dúvidas de que os parlamentares que votaram a favor da PEC da Blindagem enfrentarão um obstáculo considerável em suas tentativas de reeleição. Terão que se explicar muito. E, para a maioria, apenas porque serviram de voto para dar vitória àqueles que, de fato, serão os principais beneficiados pelas mudanças aprovadas.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
*Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Portal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos termos e problemas brasileiros e mundiais que refletem as diversas tendências do pensamento