Quarta-feira, 01 de Outubro de 2025

Artigo: ‘Vitoriosos e derrotados da semana’, por Oliveiros Marques

2025-09-26 às 11:27

Não seria necessário acrescentar qualquer opinião para que se compreenda o significado e o impacto dos acontecimentos desta semana sobre o teatro político brasileiro neste momento. Os fatos, por si sós, já oferecem uma leitura clara. Ainda sim, penso ser útil sistematizar, em um único documento, os episódios recentes, para que possamos visualizar os resultados políticos alcançados a partir desses movimentos ocorridos nos cenários interno e externo durante esses últimos dias.

O principal movimento, sem qualquer dúvida, foi a performance do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU. O seu discurso de verdadeiro estadista e patriota, percorrendo os principais temas nacionais e globais, com objetividade, se posicionando politicamente de maneira muito clara e contundente sobre todos eles, foi, sem qualquer contestação, o ponto alto da semana.

Performance que foi coroada com a afirmação de Donald Trump de que, durante um econtro de 39 segundos nos corredores da sede da ONU, havia pintado uma “excelente química” entre ele e Lula. O recado estava dado: se os criminosos lesa-pátria – um, filho malcriado de golpista; o outro, neto de ditador – acreditavam que poderiam prolongar indefinidamente sua ofensiva contra o Brasil a partir das terras do Pateta, encontraram o freio.

Houve, porém, outros episódios que impuseram derrotas ao extremismo. A articulação conduzida por Aécio Neves e Michel Temer para travestir a anistia como debate sobre dosimetria de penas é reveladora: indica que a proposta de anistia ampla, que abriria caminho para Jair Bolsonaro disputar novamente eleições, não encontra respaldo na maioria — nem mesmo entre alguns aliados que até pouco tempo lhes pareciam fiéis.

Nesse mesmo sentido, o sepulcro construído pelo Senado Federal à proposta indecente da PEC da Bandidagem – que pretendia ser utilizada, é claro, como um possível atalho para a anistia desejada e oferecer um caminho pavimentado para o crime em direção ao Congresso Nacional – representou outra grande derrota aos setores mais extremados da política brasileira.

Inegavelmente foi uma semana de derrota acachapante para o extremismo político no Brasil. O que talvez justifique o anúncio de um possível recuo de Tarcísio de Freitas em relação à disputa presidencial.

Contudo, avaliar vitoriosos demanda que pensemos de uma forma menos cartesiana. É inegável a vitória do campo político próximo ao Lula. Mas há de se considerar uma possível vitória, mesmo que parcial, do campo interno ao Centrão que já havia desistido da família Bolsonaro e apenas busca garantir para o seu projeto o apoio dos eleitores bolsonaristas. Sim, de certo modo, eles também venceram.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político.

 

*Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Portal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos termos e problemas brasileiros e mundiais que refletem as diversas tendências do pensamento.