Terça-feira, 30 de Setembro de 2025

Grupos religiosos acusam prefeita Elizabeth de não respeitar o ‘estado laico’: “Ponta Grossa não pertence a uma única religião”

A chefe do Executivo municipal afirmou ser a autoridade máxima de Ponta Grossa e declarou que o município pertence ao 'senhor Jesus'
2025-09-29 às 18:10
Reprodução

Um grupo de terreiros de Umbanda, instituições sociais e o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Ponta Grossa divulgaram uma nota pública manifestando total repúdio à declaração da prefeita Elizabeth, que afirmou que a cidade “pertence ao Senhor Jesus”. A fala, segundo a nota, fere gravemente o princípio da laicidade do município, que assegura a liberdade de crença, culto e consciência para todos os cidadãos.

Os signatários da nota destacam que o Brasil é um país plural, composto por diversas tradições religiosas, como o catolicismo, o protestantismo, o kardecismo, o budismo, o islamismo, as religiões de matriz africana, as religiões indígenas, entre outras expressões de fé. Ressaltam que nenhuma autoridade pública pode usar seu cargo para privilegiar uma crença específica em detrimento de outras, sob risco de violar a Constituição Federal e desrespeitar o povo brasileiro.

A nota enfatiza que Ponta Grossa pertence a seu povo diverso e plural, não há uma única religião específica, e repudia qualquer discurso que desrespeite essa diversidade cultural e religiosa. O documento reafirma o compromisso dos signatários com a democracia, os direitos humanos e a liberdade religiosa, além de reivindicar o respeito a todas as religiões e àqueles que não professam nenhuma.

Os movimentos sociais ressaltam ser inadmissível ter que reafirmar esses princípios básicos em pleno século 21 e conclamam a população para lutarem por um município verdadeiramente laico e por uma sociedade que respeite todas as formas de fé. Assinam a nota: Terreiro de Umbanda Caboclo Ubirajara, Terreiro de Umbanda Caboclos da Lei, Terreiro de Umbanda Pai José de Aruanda, Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais e o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial.

Confira a nota na íntegra:

“Nós, abaixo-assinados, manifestamos nosso total repúdio à fala da prefeita Elizabeth, ao afirmar que a cidade “pertence ao Senhor Jesus”.

Tal declaração, vinda de uma autoridade pública, fere gravemente a laicidade do município, que garante a todos os cidadãos liberdade de crença, de culto e de consciência.

O Brasil é plural, constituído por diferentes tradições religiosas, como o catolicismo, o protestantismo, o espiritismo (kardecismo), o budismo, o islamismo, as religiões de matriz africana, as religiões indígenas e tantas outras expressões de fé. Nenhuma autoridade pública pode utilizar o cargo público para privilegiar uma crença em detrimento de outra, sob pena de violar a Constituição Federal e de desrespeitar o povo brasileiro.

É inadmissível que, em pleno século XXI, tenhamos que reafirmar algo tão básico. Ponta Grossa não pertence a uma única religião específica, mas sim ao seu povo diverso e plural.

Reafirmamos nosso compromisso com a democracia, com os direitos humanos e com a liberdade religiosa. Reivindicamos o respeito a todas as religiões e também ao direito de não professar nenhuma.

Não aceitaremos retrocessos nem discursos que desrespeitem a diversidade cultural e religiosa que nos constitui.”