Terça-feira, 24 de Setembro de 2024

Sem aglomerações e contato com a população, saiba como deve ser o ‘novo normal’ da corrida eleitoral

2020-09-05 às 11:20

No próximo dia 15 de novembro, cerca de 240 mil ponta-grossenses deverão comparecer às urnas para escolher o próximo prefeito e vereadores do município. Nos próximos meses, os candidatos devem começar a divulgar suas propostas e planos de governo na tentativa de conquistar o voto do eleitor. Entretanto, essa deverá ser uma corrida eleitoral atípica.

Com a pandemia de COVID-19, candidatos e eleitores deverão evitar aglomerações e manter o distanciamento social para impedir a contaminação pelo coronavírus. Isso significa que comícios, visita aos bairros e o contato mais próximo com os cidadão deverá ser evitado até mesmo durante a campanha eleitoral. 

De acordo com o cientista político, Fabio Anibal Goiris, a política eleitoral está passando por uma mudança de paradigma. “Aquilo que era natural e normal, como o discurso de palanque e o tapinha nas costas, entra em defasagem e surgem novas de se fazer campanha eleitoral; desafiando partidos, candidatos, autoridades e eleitores”, enfatiza. Ele acredita que o ‘novo normal’ na corrida eleitoral se fundamenta na campanha virtual. 

Afinal, o que muda?

A maioria dos candidatos irá utilizar métodos mistos de campanha e podem ganhar força alguns pequenos movimentos de campanhas eleitorais tradicionais, prevê Fabio. “Os santinhos vão aparecer, embora, existam também os santinhos distribuídos na internet. É possível também que possam existir reuniões com grupos bem reduzidos e que guardem o distanciamento social, afiram a temperatura, usem máscaras e álcool em gel”, detalha. 

Para o cientista político, as eleições municipais de 2020 serão decididas nos últimos dias. “É provável que o eleitor chegue a escolher o seu candidato bem perto do dia da votação. Isto significa que os dias finais da campanha serão de grande intensidade, incluindo até o famoso ‘tapinha nas costas’”, comenta.

A vantagem é de quem estiver mais adaptado

Fabio acredita que uma campanha eleitoral focada nas redes sociais pode privilegiar políticos que estão mais adaptados a esse modelo. “Os candidatos que já participaram de eleições com foco maior nas redes sociais em anos anteriores podem ter certa vantagem sobre aqueles que estão aderindo agora à internet”, avalia.

Ele acrescenta ainda a campanha na internet tem a característica de que, em tese, esconder o candidato ‘mais pobre’. “Se fosse uma campanha de contato aberto pelas ruas e com os eleitores, os candidatos de maior potencial econômico estariam em diferenciação, ou seja, em abuso de poder econômico. Na internet, com os recursos existentes, isso não acontece”, destaca. 

Será uma eleição mais triste

De acordo com o cientista político, a ausência dos comícios tradicionais, das reuniões populares e dos meetings e showmícios, trará um esvaziamento das campanhas eleitorais. “Será uma eleição não necessariamente mais fria, mas, certamente mais triste”, avalia. 

Ele ressalta ainda que grandes nomes da democracia que foram eleitos com toda a emoção das campanhas tradicionais. “A América Latina guarda uma rica história política de eleições apoteóticas de grandes líderes como Perón, Evita, Getúlio, JK, Jango, Lula, Evo, Pepe Mujica, Cristina, Lugo e Tabaré Vásquez”, enumera.    

O perigo das fake news 

Uma campanha eleitoral mais focada nas redes sociais irá favorecer a distorção e manipulação das informações, alerta Fabio. “O WhatsApp e outros aplicativos trouxeram também a era das fake news, da desinformação conduzida eletronicamente e da despolitização. As notícias falsas ou mentiras eleitorais sempre existiram, mas, foram potencializadas com a comunicação virtual”, frisa. 

Ele acrescenta que as limitações de acesso à Internet no Brasil potencializam o problema. “Muita gente nem sequer tem acesso à internet, outras têm nas mãos aparelhos muito defasados. Isso prejudica a busca por mais informações e até para sanar dúvidas em relação a conteúdos falsos ou duvidosos. Neste quadro fica difícil ao eleitor brasileiro superar a ignorância política”, afirma. 

Ética acima de tudo

Ainda não existem estudos confiáveis que mostrem quais os melhores métodos a serem implementados numa campanha eleitoral. “O que se sabe é que não se pode negligenciar o poder de penetração popular e de convencimento da internet”, destaca Fabio. “Contudo, o que deve prevalecer numa campanha eleitoral, independentemente do grau de utilização da mídia eletrônica, é a preservação da ética na política, da ação afirmativa a favor da justiça social e da luta pela democracia como valor universal”, salienta.  

Aprendendo a ouvir

De acordo com o publicitário ponta-grossense, Guilherme Dias, o segredo para uma campanha de sucesso nas redes sociais é aprender a ouvir. “A internet é um ambiente onde a audiência manda e não o contrário. O candidato que passar menos tempo querendo se promover e mais tempo ouvindo o que a população tem a dizer e usando isso a seu favor vai ter um enorme diferencial competitivo nessas eleições”, garante. 

O publicitário indica que o candidato dedique pelo menos quatro horas do dia para responder mensagens no Facebook, directs no Instagram e olhar os comentários nos próprios posts e também no de adversos políticos. “Os comentários são uma fábrica de ideias e de temas que a população se interessa em discutir. Eles deviam aproveitar isso para trazer projetos para as suas campanhas”, aconselha.

Qual é o post ideal?

As postagens nas redes sociais devem ser diárias, orienta Guilherme, e não é preciso ter medo de mostrar a vida pessoal. “Pessoas conversam com pessoas. Então, o político deve mostrar como é a vida dele com a família, quais são os valores que ele defende na sua casa”, comenta. Ele destaca que esse tom pessoal aproxima o político do eleitorado e do público que ele deseja atingir.

Para o publicitário, as postagens devem ter em mente o público que será impactado por aquela mensagem. “O erro mais comum dos candidatos durante a campanha política é tentar agradar a todos. O político que vai se dar bem é aquele que souber escolher um único público e agradar esse público”, frisa. Ele acrescenta que ter um posicionamento firme traz como benefício um eleitor extremamente fiel e engajado.

Campanhas em redes sociais não são novidade 

A profissional de marketing ponta-grossense, Débora Alves Pepe Ferreira, lembra que o uso das redes sociais em campanhas políticas não é algo novo. “Assistimos a força que a internet teve em eventos políticos passados não tão distantes, começando pela campanha de Barack Obama, em 2008. Na sequência, somados aos aplicativos de mensagens instantâneas, aconteceu o fenômeno da eleição de Donald Trump, em 2016. O debate e a polarização dos opositores e defensores do Brexit em 2017, seguido pela própria eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, que teve sua campanha inteiramente apoiada em suas redes sociais”, argumenta. 

O que essas campanhas tiveram em comum, comenta Débora, é a aproximação com o eleitor baseada na interação. “O que cada estratégia de campanha conseguiu fazer, com muito êxito, foi identificar quem são seus grupos de interesse e disparar mensagens assertivas para impactá-los”, avalia. 

Débora lembra que apesar de ainda não haver uma regra definida do que pode ou não ser feito, os candidatos têm menos de três meses para colocar em prática ações que fortaleçam sua imagem e suas propostas de campanha.