Durante a entrevista coletiva que revelou detalhes da investigação sobre o atentado na creche Pró-Infância Aquarela, na cidade de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, o delegado responsável pelo inquérito, Jerônimo Marçal Ferreira, classificou como covarde o crime brutal do jovem de 18 anos. Ele assassinou três bebês e duas professoras, além de deixar outro bebê ferido, no dia 4 de maio.
De acordo com Ferreira, o autor da chacina deixou claro que escolheu as vítimas por conta da fragilidade. A investigação apontou que o alvo inicial do autor era pessoas que estudaram com ele ainda na época da escola, e por quem ele nutre um sentimento de raiva.
No entanto, o jovem mudou os planos do atentado porque não conseguiu adquirir uma arma de fogo. Com armas brancas, ele não teve coragem de atacar pessoas da mesma faixa etária. Os detalhes foram repassados à imprensa nesta sexta-feira (14).
Após algum tempo tendo convívio com conteúdos violentos (fotos e vídeos) e planejando o ataque, o delegado explica que o planejamento inicial era atacar os antigos colegas.
Para isso, o jovem tentou de diversas maneiras adquirir armas de fogo, mas não conseguiu. Foi então que decidiu usar armas brancas, que comprou pela internet e recebeu pelos Correios cinco dias antes do crime.
“A família chegou a ter contato com elas [armas], mas não sabia do que se tratava”. A definição da creche para a chacina foi feita no dia em que chegaram as armas – espécie de espada ou adaga. “Todas as pessoas do seu ciclo não tinham ideia, ele nunca tinha demonstrado isso [a ideia do massacre]”, complementa.
A investigação aprofundou detalhes da vida do jovem e também como ele se comportava na internet, identificando que o crime era premeditado desde o ano passado.
“Como ele não conseguiu [a arma de fogo], ele achou que não daria conta de enfrentar esses rapazes com arma branca. Isso mostra que, o ato dele por si só, o que ele fez, já seria covarde porque foi contra crianças e mulheres que não tinham condições de se defender. Mas isso mostra que foi um ato ainda mais covarde”, diz Ferreira.
“Ele não se garantia contra aquelas outras pessoas e ele pensou ‘então eu vou descontar essa minha raiva em pessoas que não têm nada a ver comigo, em pessoas inocentes que nunca fizeram nada para ninguém’. O que mostra que é um ato ainda mais covarde do que por si só ele seria”, analisa o delegado.
Ainda de acordo com as informações reveladas pelo delegado, familiares e amigos não perceberam as intenções do jovem nos dias que antecederam o atentado, mesmo quando as armas que ele usou para cometer o crime chegaram pelos Correios.
O delegado revelou também que o autor afirmou em depoimento que estava arrependido, o que não convenceu os policiais.
“Ele falou estar arrependido, mas eu não consegui aferir se era genuíno ou não, ou se era porque ‘agora eu sei que vou ser responsabilizado pelo que eu fiz’”, completa Ferreira.
O autor do atentado está no Presídio Regional de Chapecó, onde continuará preso, após permanecer oito dias internado no HRO (Hospital Regional do Oeste) para tratar lesões causadas por ele mesmo na hora do ataque, em tentativa de suicídio.
Ele foi autuado em flagrante por cinco homicídios e uma tentativa de homicídio – todos triplamente qualificados. A Polícia Civil irá encaminhar o inquérito ao Ministério Público ainda nesta sexta-feira.
O delegado Jerônimo Marçal Ferreira detalha a motivação e a escolha das vítimas a partir de 21 minutos: