Sábado, 27 de Julho de 2024

Chefe da Embrapa expõe potencial do Agro em live Sindicato Rural de PG

2022-08-26 às 13:18

O chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, explanou sobre o potencial do Agro, durante live do Quinta com Café, promovida pelo Sindicato Rural de Ponta Grossa, na noite de quinta (25). Transmitidas pelo YouTube, toda quinta-feira, às 18h, as lives do Quinta com Café são apresentadas pelo presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, Gustavo Ribas Netto.

Spadotti, nomeado para o cargo de chefe-geral da Embrapa Territorial (Campinas – SP), em janeiro deste ano, para um mandato de dois anos, abordou o papel da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). De 43 unidades descentralizadas, a Embrapa Territorial é a única criada por decreto presidencial.

“O Brasil precisava de um instrumento estratégico, de Estado, para a compreensão da dinâmica da produção agropecuária e pensar nosso agro com inteligência, gestão e monitoramento, pensando sempre no binômio: competitividade e sustentabilidade”, explica.

Cabe à Embrapa, portanto, analisar a dinâmica de produção para antever cenários futuros. “Compreender como o agro está acontecendo no exato momento, para que possamos defender os interesses da nossa classe, mostrar o papel que o agro tem para a economia, para a sociedade e também para a biodiversidade. Mas, principalmente, evocar que é possível, sim, aqui no Brasil, produzir e preservar”, defende.

Pelo cruzamento de dados – mapas, números e fatos, a Embrapa cria informação para ajudar a formular a tomada de decisões, tanto por entidades públicas quanto empresas privadas.

Sustentabilidade

Ao comentar o movimento americano “Farms here, Forests there” (“Fazendas aqui, florestas lá”) – que reflete a competividade na agricultura e produção madeireira nos EUA, Spadotti frisa que essa defesa vem de uma associação de produtores de milho americanos.

“Eles dizem, com todas as letras, que não querem que o governo americano subsidie a produção agrícola deles. Eles preferem que o governo americano invista em estratégias para impedir o desenvolvimento agropecuário em outros países, para que as preservações e proteções das florestas nativas, das vegetações nativas, ocorram em outros países e não nos EUA. Esse foi o grande lobby dessa associação de produtores de milho”, expõe.

Segundo Spadotti, isso já acontece: enquanto a produção agropecuária ocupa 30,2% da área territorial brasileira, nos EUA, abrange mais de 70% do território. “A agricultura – lavouras temporárias, permanentes e fruticultura – ocupa só 7,8% do nosso território, enquanto nos EUA é o contrário: eles usam para a produção agropecuária mais de 70% do território. Esse ‘farms here’ já acontece. O que eles querem é que nós mantenhamos desse jeito por aqui, sem qualquer possibilidade de expandirmos nossos cultivos”, aponta.

Spadotti salienta o papel das universidades e dos institutos federais na pesquisa para ampliar a produtividade sem, necessariamente, expandir a área de cultivo, com a aplicação de tecnologias como a ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta) e a fixação biológica de nitrogênio, por exemplo. “As universidades pesquisam a ciência agropecuária e geram novos produtos tecnológicos. As entidades de extensão, as cooperativas, levam essa tecnologia para o produtor, que adota essas tecnologias em sua propriedade rural. Isso faz com que tenhamos coisas incríveis para qualquer país do mundo, como é o caso do sistema de plantio direto, que possibilitou a extensão do cultivo da safrinha, por exemplo”, argumenta.

O chefe-geral da Embrapa Territorial analisa que, se o Brasil mantivesse a produtividade da década de 1970 – quando ocorreu a criação desse órgão – seriam necessários mais 200 milhões de hectares para produzir a mesma quantidade de alimentos, o que equivale ao dobro da atual área de cultivo.

“Esse é o papel da tecnologia no efeito poupa-terra. Graças ao aumento da produtividade, e não da expansão de área cultivada, é que conseguimos transformar o Brasil em um importador para um dos grandes exportadores do mundo, utilizando 7,8% do nosso território para a produção agrícola”, ressalta.

Áreas de conservação

“Quando somamos Unidades de Conservação e Terras Indígenas, por meio de geoprocessamento, descontamos as sobreposições entre elas, temos 30,3% do Brasil em áreas protegidas e boa parte delas no bioma Amazônia”, pontua Spadotti.

Contudo, as áreas de proteção não se restringem à Amazônia – o bioma mais pressionado, que tem a maior biodiversidade do planeta, a maior riqueza mineral. Estão presentes também no Pampa, no Pantanal, na Caatinga, no Cerrado e na Mata Atlântica. “[Por isso] é lá que investimos mais na preservação do território”, justifica.

“Se pegarmos os grandes países do mundo, com mais de 2 milhões de km², na média, eles protegem 11% de seus territórios. Ou seja, nós protegemos três vezes mais que eles, só em áreas protegidas. A média do mundo é de 15%. Ou seja, protegemos o dobro”, estima.

Spadotti ressalta que o Brasil, além de proteger uma área maior, protege biomas com qualidade, ao passo que países como a Austrália, China e Argélia preservam áreas de deserto; os EUA, o Norte do Alasca e a Argentina, a Cordilheira dos Andes, por exemplo. “O relatório Protect Planet Report diz, em sua página 32, que o Brasil tem a maior rede terrestre de áreas protegidas do mundo. O mundo reconhece isso, mas aqui não temos esse tipo de informação”, afirma.

Colapso na produção alimentícia

Spadotti argumenta que, com o potencial de ampliação de acesso da população a alimentos diversificados e o próprio aumento populacional, a demanda de produção tem crescido numa proporção que outros países não vão conseguir acompanhar. “Países tradicionais não têm uma capacidade de expandir tanto a sua produção agropecuária como o Brasil tem”, diz.

Segundo o chefe-geral da Embrapa Territorial, o Brasil possui três grandes chances de aumentar sua produção agropecuária: o aumento da área cultivada; o aumento da produtividade e o aumento da intensificação do uso da terra.

“Tudo isso passa pela ciência: o aumento da área, com inteligência territorial, com zoneamento de risco climático, com zoneamento ecológico-econômico, a produtividade das culturas e o aumento da produtividade dos sistemas”, explica.

Isso representa, para o país, o potencial de seguir alimentando, a preços competitivos, nossos 210 milhões de habitantes e conseguir um excedente para atender a uma população mundial crescente. “Hoje, alimentamos cerca de 1 bilhão de pessoas, mundo afora, com nossos alimentos, aqui gerados pelo Brasil. Temos potencial de aumentar isso ainda mais e é o que a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) espera de nós”, afirma.

“A FAO coloca que o aumento da produção global, cerca de 40% desse aumento tem que vir do Brasil. É uma meta ambiciosa, mas tenho certeza de que nossos produtores vão encarar esse desafio e conseguir produzir cada vez mais alimentos, fibras e energia, não só com quantidade, mas também com qualidade e competitividade, para colocarmos nossos produtos em qualquer porto do mundo inteiro”, acredita.

Confira a live do Sindicato Rural de Ponta Grossa na íntegra: