A proteção das nascentes nas áreas rurais do Paraná ajuda a garantir água nas propriedades, mesmo em período de seca. O trabalho é realizado, há mais de 20 anos, pelos extensionistas do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), em parceria com produtores e prefeituras. Desde o ano passado, o projeto vem cadastrando as nascentes protegidas, que já somam 2.562 em todo o Estado. A meta é dobrar esse número nos próximos três anos.
Benno Doetzer, coordenador da área de Sustentabilidade do IDR-Paraná, destaca que a ação tem um papel importante para a segurança hídrica na área rural, para garantir ao produtor e sua família água em quantidade suficiente e qualidade para o uso doméstico e na produção agropecuária.
Há anos que o trabalho de proteção das fontes é realizado, mas foi a partir da implantação do projeto de Geoprocessamento do IDR-Paraná que os extensionistas passaram a ter mais informações sobre as nascentes, como a localização (município e propriedade), volume e a qualidade da água captada, número de pessoas atendidas e a vazão de cada uma das fontes.
MANEJO CONSERVACIONISTA – Para Doetzer, esse trabalho é importante para o futuro do abastecimento das famílias rurais. “As intervenções realizadas nas nascentes melhoram a sua vazão, garantindo um abastecimento mais homogêneo. Obviamente que as situações de estresse hídrico interferem na disponibilidade do recurso, mas geralmente nascentes protegidas têm uma vazão maior”, explica ele. “Nesse caso, também se observa que o manejo de solo na bacia da nascente tem impacto direto sobre a vazão. O manejo conservacionista permite a retenção da água no perfil de solo e a recarga do lençol freático, garantindo vazões maiores, mesmo em épocas de baixas precipitações”, explicou Doetzer.
FONTES NO OESTE – No Oeste do Paraná, a redução do volume de chuvas chegou a 70% da média histórica nos meses de março e abril. É justamente nesta região que se concentra o maior número de nascentes protegidas pelos extensionistas – 865 no total.
De acordo com Ivan Decker Raupp, gerente regional do IDR-Paraná em Toledo, a proteção de nascente é uma prática que necessariamente precisa estar aliada à conservação de solos, adoção de boas práticas de produção agrícola e recomposição de mata ciliar.
“A nossa avaliação é que os agricultores da região Oeste, em geral, estão conscientes de que é preciso cuidar das fontes existentes nas propriedades para garantir água de qualidade, com regularidade e em quantidade suficiente. Mais ainda, que essas nascentes são indispensáveis não só para as atividades agropecuárias como também para o consumo das famílias”, observa.
Na opinião de Raupp, em virtude do valor das nascentes dentro de uma propriedade agrícola, elas devem ser tratadas com um cuidado especial que exige mais do que apenas a sua proteção.
“Os diagnósticos das nascentes de nossa região geralmente indicam ser necessária uma intervenção para protegê-las, com o plantio de árvores nativas, construção de cercas e curvas de nível para diminuir o assoreamento e aumentar a infiltração de águas de chuva, para que esta água possa ser utilizada pelos produtores, possibilitando a sua permanência na área rural”, observa Raupp.
TRABALHO E PAISAGEM – Ele acrescenta que o projeto também contribui com a recuperação dos recursos hídricos e preservação da estabilidade geológica, a biodiversidade e o fluxo de fauna e flora. “O projeto ajuda a proteger o solo, gera trabalho, mantém e amplia a beleza de uma paisagem, além de assegurar o bem-estar das populações”, conclui.
DIAGNÓSTICO – Antes de iniciar a proteção de uma fonte os extensionistas do IDR-Paraná avaliam a área onde ela está localizada. É feito um diagnóstico da nascente e do seu entorno. Posteriormente, os extensionistas orientam as famílias quanto aos procedimentos e materiais necessários para a proteção.
Em geral usa-se a tecnologia de solo-cimento, aliada à recomposição da vegetação nos arredores da fonte. O objetivo é proteger as nascentes com pedra, solo do local e cimento, como se a mina fosse lacrada. Com essas medidas, as fontes ficam guardadas, isoladas e protegidas dos elementos que provocam a contaminação por bactérias.
Normalmente os trabalhos são executados em regime de mutirão com a participação dos técnicos do IDR-Paraná, das prefeituras, agricultores e vizinhos, que já aprendem como realizar o trabalho e, posteriormente, protegem a nascente em suas propriedades.
NASCENTES – José Carlos Franção, de Formosa do Oeste, fez a proteção de uma nascente em sua propriedade em 2011 e ainda se beneficia do trabalho. “Eu digo que a proteção funcionou 100%. Com a escassez de água que a gente tem hoje aqui no Oeste a nossa nascente baixou um pouco, mas não secou. Temos conhecimento de nascentes que não foram tratadas e que hoje não se vê correr uma gota de água. Nós temos água na nossa propriedade, graça a Deus, de boa qualidade”, comemora o produtor.
Miguel Navarro, também de Formosa do Oeste, tem um sítio onde mantém dois aviários. Apesar da estiagem, não falta água para as aves.
“Eu fui um privilegiado porque fiz essa proteção há seis anos e hoje mantenho os meus aviários com a água das nascentes, sem precisar de poço artesiano. A gente precisa cada vez mais preservar as nascentes e a água para deixar para as futuras gerações”, afirma.
Imagem: Gabriel Ramos/Informações: AEN.