Sábado, 04 de Maio de 2024

D’P Agro: Agronegócio – De vilão a mocinho

2023-07-16 às 15:51

Cada vez mais atentos às discussões sobre sustentabilidade, produtores rurais de Ponta Grossa e dos Campos Gerais têm atuado para preservar o meio ambiente e mudar a imagem que a sociedade tem do agronegócio

por Michelle de Geus

O agronegócio é um dos setores mais importantes de uma sociedade, contribuindo para a movimentação da economia, a geração de empregos e a produção de alimentos. Mas, durante décadas, ele foi considerado um dos grandes vilões do meio ambiente. Essa mentalidade, contudo, está começando a mudar. A legislação brasileira atual incentiva os produtores rurais a explorarem racionalmente a terra e a contribuírem para a preservação de rios e florestas nativas. Além disso, a tecnologia tem permitido que a produtividade aumente e, ao mesmo tempo, torne as lavoures cada vez mais sustentáveis. Tudo isso, aliado à própria consciência dos agricultores, que estão mais e mais preocupados com o bem-estar ambiental, tem provocado uma revolução na forma como o agronegócio vê a si mesmo e é visto pelos outros.

O professor do curso de Agronomia e diretor administrativo da Fazenda Escola Capão da Onça (FESCON), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Orcial Ceolin Bortolotto, lembra que o agronegócio cresceu muito nos últimos 15 anos e que, com essa maior exposição, ficou mais vulnerável a ataques. “Um dos principais pontos é a questão ideológica, que distorce a análise dos fatos e denigre a imagem da atividade, inclusive colocando em conflito o agronegócio e a agricultura familiar”, avalia, citando o abuso de defensivos agrícolas como exemplo de informação distorcida divulgada para a população. “A temperatura um pouco mais baixa acaba sendo uma vantagem para a nossa região no manejo de pragas. Por isso, o uso de defensivos agrícolas é muito menor aqui do que em outros lugares”, exemplifica.

“Um dos principais pontos é a questão ideológica, que distorce a análise dos fatos e denigre a imagem do agronegócio” – Orcial Ceolin Bortolotto, diretor administrativo da Fazenda Escola Capão da Onça

Bortolotto aponta que o agronegócio está constantemente buscando alternativas menos agressivas ao meio ambiente para produzir de forma mais sustentável. “Além de cultivares com maior resistência a pragas e doenças, nós observamos o desenvolvimento de insumos biológicos que têm apresentado resultados muito interessantes e reduzido a necessidade de defensivos químicos na lavoura”, afirma. “Da mesma forma, também estão sendo usados fungos e bactérias que auxiliam na redução de doenças do solo e permitem que a planta consiga extrair melhor os nutrientes”, acrescenta, destacando que o uso de ferramentas biológicas tem crescido cerca de 30% ao ano no Brasil e que elas devem se tornar mais comuns nos próximos dez a 15 anos. “Dentro do agronegócio, as empresas vêm trabalhando de forma exaustiva e assertiva para o desenvolvimento de novas tecnologias, e isso demanda tempo”, esclarece.

Entre as novas tecnologias que colaboram para uma agricultura mais sustentável, Bortolotto cita o uso de drones, que está cada vez mais popular nas propriedades rurais. “Eles ganharam maior capacidade de cobertura, mais velocidade e controle localizado, evitando a deriva de insumos agrícolas. Hoje os drones auxiliam no monitoramento de lavouras, na averiguação de doenças, na aplicação de defensivos agrícolas e até na semeadura”, cita, apontando outras tecnologias que promovem a preservação ambiental dentro do agronegócio, como o uso de energia solar e energia eólica.

O bem maior

O produtor rural Edimilson Roberto Rickli, presidente do Sindicato Rural de Prudentópolis, lembra que, até o início da década de 90, não havia muita preocupação com a destruição do meio ambiente ou a mudança climática. “A partir da conferência Eco 92, que o governo brasileiro sediou no Rio de Janeiro [RJ], o mundo voltou os olhos para o Brasil e houve uma pressão internacional muito grande para que o país se tornasse o grande preservador do meio ambiente mundial”, explica. “Com toda essa questão, criou-se a imagem de que o produtor rural é um destruidor da natureza, que ele contamina o solo e destrói os rios, o que é uma grande mentira”, acrescenta, lembrando que o principal interessado na preservação do meio ambiente é o próprio produtor rural. “O maior bem do produtor rural é a sua terra. A colheitadeira e o trator desvalorizam, mas a terra, não. A terra, quanto mais se preserva, mais produz. E hoje nós temos que produzir mais e melhor no mesmo espaço.”

“O maior bem do produtor rural é a sua terra. A colheitadeira e o trator desvalorizam, mas a terra, não” – Edimilson Roberto Rickli, presidente do Sindicato Rural de Prudentópolis

Segundo Rickli, um dos fatores que mudaram a forma como o produtor se relaciona com o meio ambiente foi a aprovação do Novo Código Florestal, em 2012, que regularizou as áreas produtivas e instituiu a chamada Reserva Legal de 20% da propriedade. “Vamos dizer que a pessoa compra um imóvel no valor de R$ 10 milhões, mas ela só pode explorar no máximo 80% dele. Então, fazendo uma comparação, seriam R$ 2 milhões que iriam para a preservação do meio ambiente”, cita, acrescentando que é necessário pagar tributos sobre a área preservada. “Em Prudentópolis, dificilmente uma propriedade chega a explorar mais do que 70% da área. O restante é preservado, e o produtor é responsável por qualquer dano ambiental na sua propriedade”, explica.

O produtor reforça que, independente da criação de leis, o próprio agricultor é o principal interessado na preservação do meio ambiente e afirma que as populações do meio urbano, incluindo pesquisadores acadêmicos, formadores de opinião e políticos, precisam mudar o pensamento em relação ao agronegócio. “O produtor rural não é um destruidor do meio ambiente; é um preservador. Ele explora racionalmente a terra, de forma inteligente e sustentável, sem degradar a natureza e levando comida de qualidade para a população”, enfatiza.

Orgulho nacional

“O agronegócio trabalha para que não haja contaminação do meio ambiente. Nós precisamos e desejamos isso”, garante Maurício Terasawa, diretor e melhorista de soja da FT Sementes. Ele lembra que os agricultores contribuem para a sustentabilidade de várias formas, seja na preservação das florestas e matas ciliares ou prevenindo a erosão do solo com o plantio direto. “O manejo florestal dos Campos Gerais é um dos mais respeitados e orgulho nacional. Nós somos a terra do plantio direto e referência mundial em conservação do solo”, observa.

Terasawa argumenta que os agricultores dos Campos Gerais são conscientes da necessidade de preservação do meio ambiente e defensores da biodiversidade. “O que eles precisam para contribuir ainda mais com a sustentabilidade é segurança para plantar e colher os frutos de seu trabalho”, defende, citando que casos de invasão de terras produtivas e furto de maquinários ou animais trazem insegurança para os produtores e afastam a população da zona rural. “O agricultor deve ser respeitado dentro dos limites da propriedade dele; deve estar livre de invasões de terra e roubos de maquinários. É preciso ter paz no campo para que possamos produzir com tranquilidade e da forma mais consciente possível”, menciona.

“O agro gera uma cadeia de riquezas, gera desenvolvimento econômico e contribui para o crescimento da sociedade como um todo”
Maurício Terasawa, diretor e melhorista de soja da FT Sementes

 

Terasawa acrescenta que, mais do que produzir alimentos, o agronegócio modifica o perfil econômico e a cultura de uma cidade em todas as regiões onde está instalado. Ele explica que o trabalho nas áreas rurais costuma atrair uma população que, muitas vezes, não tem condições de ter uma alimentação adequada e uma educação de qualidade, mas que melhoram em sua qualidade de vida e ganham novas oportunidades nas fazendas. “O agro gera uma cadeia de riquezas, gera desenvolvimento econômico e contribui para o crescimento da sociedade como um todo”, conclui.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #295