Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

D’P Agro Entrevista: Willem Berend Bouwman, presidente da cooperativa Castrolanda

2022-04-02 às 10:32

Em 2021, a Castrolanda atingiu o maior faturamento de sua história – R$ 5,9 bilhões. Para entender como a cooperativa vem batendo recordes em plena pandemia, conversamos com o presidente Willem Berend Bouwman, que também fala sobre gestão, relação com o cooperado e futuro

 

Em 2021, a Castrolanda atingiu a marca de R$ 5,9 bilhões de faturamento, o maior valor registrado em 70 anos de história e 31,1% mais alto que o acumulado no ano anterior. Até mesmo o resultado líquido apresentou números expressivos, com as sobras fechando o período em R$ 145 milhões e retornando aos associados de acordo com a participação nas áreas de negócios. O recorde é reflexo de ações praticadas ao longo do ano por cooperados, colaboradores e toda a comunidade que envolve o sistema produtivo e social da cooperativa.

Na visão do presidente da Castrolanda, Willem Berend Bouwman, o novo modelo de gestão adotado pela cooperativa, o foco na sustentabilidade e a eficiência operacional também ajudam a entender os resultados positivos. Ele assumiu a presidência da cooperativa no início de 2020 e, desde então, vem trabalhando para melhorar processos, treinar pessoas e aprimorar o atendimento ao cooperado.

Os números mostram que as estratégias foram acertadas. Bouwman, no entanto, afirma que quer ir além e tornar a cooperativa uma facilitadora do desenvolvimento de pessoas. Na entrevista a seguir, ele conta que almeja deixar como legado de sua gestão o cuidado com o associado, para que este tenha a oportunidade de permanecer no campo e de lá trazer o sustento para a sua família. O presidente lembra ainda os tempos de infância, quando acompanhava o pai até a Castrolanda para buscar ração e insumos agrícolas, conta como a cooperativa evoluiu nos últimos anos e fala do futuro.

 

Qual foi o primeiro contato do senhor com a Castrolanda?

Eu sou nascido em Castro e sempre morei na colônia [Castrolanda]. Então, desde muito pequeno, com cinco ou seis anos, eu já vinha com o meu pai na fábrica buscar ração para os animais, insumos agrícolas. Desde aquela época, a gente tem caminhado junto com a cooperativa. Mais tarde, eu mesmo já vinha com trator buscar ração e insumos para a propriedade.

 

O senhor assumiu a presidência da Castrolanda no início de 2020. O que mudou de lá para cá?

Quando assumimos a gestão da Castrolanda, tínhamos o nosso plano estratégico já desenhado e seguimos empenhados em arrumar a casa. A cooperativa cresceu muito nos últimos seis, sete anos, e nós precisávamos arrumar a base para que ela pudesse voltar a crescer. O nosso foco interno continua sendo melhorar processos, treinar pessoas e o atendimento ao cooperado. Como diretoria, gestão, conselho, também estamos nos aproximando mais do produtor, falando mais a linguagem dele e tentando entender as suas dificuldades. Também temos algumas ações para que a gestão consiga entender os fatos e o que está acontecendo nas propriedades rurais.

 

Naquela época, que desejos o senhor tinha para a cooperativa? E, entre os planos que tinha para a sua gestão, qual mais se orgulha de ter realizado?

Eu acho que ainda tem muita coisa para fazermos. Eu sempre comento que a cooperativa é a extensão da propriedade. Então, a cooperativa deve entender as dificuldades que o cooperado tem, para que, em conjunto com outros associados, consiga resolver esses problemas. Já avançamos em alguns, mas eu entendo que ainda tem muita coisa para fazer. Nós temos ido longe na prestação de serviço na área agrícola e apoiado muito o nosso suinocultor, por exemplo. Então, são ações pontuais que temos feito para servir de apoio para que o nosso associado se preocupe apenas com a produção e nós, com a expertise da cooperativa, possamos ajudar nas dificuldades que ele tem.

“Estamos nos aproximando mais do produtor, falando mais a linguagem dele e tentando entender as suas dificuldades”

 

Nos últimos anos, qual foi o maior desafio que a cooperativa enfrentou?

O ano de 2020 foi turbulento por causa da pandemia do Coronavírus. Poucos setores escaparam da crise. Sofremos impactos na logística de todo mundo e foi necessário realinhar muitos dos nossos processos. Mesmo com a crise financeira que vivia, e ainda vive, o nosso país, fechamos aquele ano com recordes. De lá para cá, vivemos momentos muito fortes nesses dias de incerteza. Garantir solidez financeira é até mais importante do que garantir resultados. E, nesse ponto, a Castrolanda está mais forte do que nunca.

 

A Castrolanda vem batendo recordes de faturamento. A que o senhor atribui esses resultados?

Esses marcos são reflexos de ações praticadas ao longo do ano por cooperados, colaboradores e toda a comunidade que envolve o sistema produtivo e social da Castrolanda. Os números refletem os caminhos de sustentabilidade e estabilidade dos negócios, construídos com base no nosso planejamento estratégico. Isso preparou a cooperativa para se tornar ainda mais competitiva em várias áreas de atuação. As ações apostaram no redesenho de alguns processos e na consolidação da diversificação dos negócios, que trouxeram mais agilidade, assertividade e segurança nas ações.

 

Como a Castrolanda tem trabalhado o seu modelo de gestão?

Focamos em alguns pontos-chave, como a eficiência operacional e a governança de nossos processos. Formalizamos as principais rotinas de liderança, conectando colaboradores de diferentes níveis, o que serve como guia para a resolução de desafios. Conseguimos evitar retrabalhos e capturar a sinergia dos processos e pessoas. Quando fortalecemos os nossos pilares, como é o caso da governança, nos aproximamos ainda mais dos nossos objetivos frente ao mercado e à sociedade. Esses processos já nos renderam reconhecimento nacional, como o Prêmio SomosCoop em Excelência em Gestão.

 

“Garantir solidez financeira é até mais importante do que garantir resultados. E, nesse ponto, a Castrolanda está mais forte do que nunca”

 

Como enxerga a relação entre a cooperativa e os cooperados hoje?

A relação da cooperativa com os cooperados é baseada na transparência. Os nossos conselhos de Administração, Fiscal e Estratégico têm papel fundamental para destacar os interesses dos associados. A Castrolanda é muito sólida e queremos passar essa segurança para o cooperado. Seguimos com as nossas atividades, absorvemos as produções, nossas fábricas seguem em pleno funcionamento e o cenário atual, apesar de muito difícil, acabou não afetando de forma intensa o nosso setor.

 

Na visão do senhor, qual é a importância do cooperativismo nos Campos Gerais?

Sabemos que um futuro melhor depende das nossas atitudes no presente. O cooperativismo, uma ferramenta mais que centenária no Brasil, é um dos motores das economias locais, é ele quem incrementa o PIB [Produto Interno Bruto]. Alguns estudos mostram que o cooperativismo contribui com cerca de 5,6 a 6,2% a mais na quantidade de postos de trabalhos formais, incrementando o PIB per capita dos municípios. Além disso, promove ganhos na qualidade de vida das pessoas, e assim conseguimos influenciar e desenvolver as nossas comunidades. O nosso objetivo é mostrar como as cooperativas e os valores cooperativistas estão inseridos na sociedade e na vida de todos.

 

Como o senhor avalia o agronegócio na região? Acredita que há espaço para a diversificação de culturas e a valorização dos pequenos produtores?

Somos privilegiados. Estamos inseridos em uma região com altos níveis de produtividade, o que nos permite continuar com prosperidade. Guiados pelo nosso Planejamento Estratégico – Horizonte (2019-2024), queremos garantir resultados efetivos e diretrizes que permitam consolidar a nossa atuação e corroborar com o avanço de toda a cadeia. Há sempre espaço para novos produtores que compartilham dos nossos valores. Por aqui trabalhamos diariamente para trazer somente o melhor para o agronegócio. Estamos sempre atentos ao potencial das culturas e necessidades dos negócios.

 

“Os nossos conselhos têm papel fundamental para destacar os interesses dos associados. A Castrolanda é muito sólida e queremos passar essa segurança para o cooperado”

 

Um dos principais temas discutidos na agricultura é a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Que projetos a Castrolanda desenvolve nesse sentido?

Na Castrolanda, o desenvolvimento sustentável é uma das premissas para aliar produtos e serviços de qualidade, respeito e preservação dos recursos ambientais, valorização das pessoas e crescimento econômico. Nós implementamos ações que visam o desenvolvimento tanto do meio ambiente quanto da comunidade.

Na área ambiental, destacamos os nossos mais de 3.500 hectares de área florestal, sendo que cerca de 55% desse total é composto apenas por florestas nativas. As florestas plantadas representam 1.632 hectares e estão distribuídas em 19 fazendas localizadas majoritariamente nos municípios de Castro e Piraí do Sul. Também estamos em processo de construção do bosque Trilha dos Pioneiros dentro da colônia Castrolanda, onde plantamos mudas de araucárias.

A nossa área de biomassa é responsável pelo abastecimento contínuo das unidades fabris por meio do cavaco, que gera menos gases de efeito estufa se comparado a outras fontes energéticas.

Na governança, o nosso modelo de gestão se tornou cada vez mais sólido ao longo dos últimos anos, assim como a área de compliance, e recebemos premiações e citações importantes em nível estadual e nacional.

Dos programas de responsabilidade social, destacamos o ‘Crescer e Cooperar’, das cooperativas escolares; e o ‘Cooperar para os ODS’, que visa trazer mais impacto socioambiental positivo e alinhar os projetos apoiados pela Castrolanda com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável [ODS].

 

Que marcas o senhor gostaria de deixar na gestão da cooperativa? Como enxerga a Castrolanda do futuro?

O que eu enxergo para a cooperativa é que ela possa ser uma facilitadora, principalmente de desenvolvimento de pessoas. Em primeiro lugar, do seu associado, para que ele tenha a oportunidade de permanecer no campo e consiga trazer sustentabilidade para a sua família. A cooperativa tem como desafio essas propriedades de menor tamanho: como vamos fazer para que o associado permaneça lá e consiga produzir mais renda nessa mesma área e conseguir sustentabilidade? Do lado do nosso colaborador, como cooperativa, também queremos deixar um legado. Queremos os nossos colaboradores treinados e desenvolvidos; que eles enxerguem na cooperativa uma oportunidade de crescimento profissional e pessoal. Nas nossas regiões de atuação, esperamos que a cooperativa seja de fato um diferencial, que possamos trazer desenvolvimento para a sociedade conectada diretamente com a cooperativa e para quem está mais distante também, e que seja uma alavanca de desenvolvimento em toda as suas regiões de atuação.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #289 Março/Abril de 2022.