Domingo, 18 de Maio de 2025

Economista do IDR-PR destaca expansão da agroindústria ligada ao turismo rural, em live do Sindicato Rural de PG

2022-09-30 às 11:49

A economista doméstica Flávia Leão, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), abordou a potencialidades da agroindústria dentro do turismo rural, durante live do Quinta com Café, promovida pelo Sindicato Rural de Ponta Grossa, na noite de quinta (29). Transmitidas pelo YouTube, toda quinta-feira, às 18h, as lives do Quinta com Café são apresentadas pelo presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, Gustavo Ribas Netto.

O IDR, antigamente conhecido como Emater, é um órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná. Segundo Flávia, o casamento entre a agroindústria e o turismo rural tem dado muitos resultados positivos. Ela explica que o que caracteriza uma agroindústria não é o tamanho, mas sua categorização como agricultura familiar.

Sobre o mercado de laticínios, que tem ganhado destaque ultimamente, Flávia ressalta que não foi algo que surgiu da noite para o dia, mas foi fruto de um longo processo, tendo em vista que o Paraná é o segundo maior produtor de leite do país. “Nos surpreendemos muito, porque é um trabalho que já existia, mas que de uns tempos para cá está se tornando mais visível, com os queijos paranaenses se destacando em concursos de nível internacional. Ficamos muito orgulhosos disso”, frisa a economista, que é mineira e trabalha no IDR há quatro anos.

“Como boa mineira, amo trabalhar com queijo e fico muito feliz que os queijos paranaenses estão apresentando ótima qualidade”, enaltece. Segundo Flávia, esse destaque que o queijo paranaense tem obtido agrega valor ao beneficiamento e transformação do leite, o que tem levado ao reconhecimento de várias queijarias.

“O IDR hoje promove a Rota do Queijo Paranaense. Temos já 30 queijarias cadastradas”, conta. Lançada em dezembro de 2021, a Rota do Queijo Paranaense inclui queijarias certificadas e que abrem suas propriedades para o turismo rural. Na nossa região, fazem parte da Rota do Queijo Paranaense a Queijaria Cornelia, em Arapoti, e a Colônia Witmarsun e a Queijaria Família Baptista, em Palmeira. A maior parte das queijarias paranaenses se concentra na mesorregião Sudoeste. Você pode acessar a lista completa de empreendimentos da Rota aqui.

Segundo Flávia, logo deve entrar na lista da Rota do Queijo o Vilarejo Holandês Het Dorp, de Carambeí. O local tem recebido muitos visitantes, que se encantam com a beleza de seu lavandário, que tem servido de cenário para ensaios fotográficos. O vilarejo faz parte da Rota da Lavanda, mas também se destaca por sua queijaria artesanal. “Inclusive, ele faz queijo com sabor de lavanda, o que é bem interessante”, observa a economista doméstica.

As queijarias recebem assistência técnica do IDR e passam por um processo de cadastro, para garantir que os locais estão aptos e prontos para acolher turistas. O IDR elabora o material de divulgação da Rota para que o turista entre em contato com o local de sua preferência para visitar.

O IDR também contribui para a divulgação dessas agroindústrias de transformação do leite ao inscrever as queijarias em eventos de exposição de turismo, onde elas têm a oportunidade de divulgar seus produtos e o roteiro da propriedade disponível para visitação turística. “Estivemos no Salão de Turismo dos Campos Gerais, onde esses queijos foram expostos. Não só o queijo, mas vários produtos da agroindústria foram expostos, com degustação. O público teve oportunidade de conhecer esse queijo com lavanda; teve o queijo gouda da Queijaria Cornelia, de Arapoti, que foi premiado o melhor queijo artesanal do Brasil. Tivemos também o queijo Purungo, de Palmeira, que está recebendo vários selos, certificados e premiações nos concursos”, enfatiza.

Um dos entraves ao desenvolvimento do turismo rural é o impedimento para que o produtor emita nota fiscal como atrativo turístico. “Precisamos de uma lei que ampare a agricultura familiar e o turismo como atividade da agricultura familiar. Falamos tanto em diversificação da atividade e a agroindústria e o turismo são interessantes, porque é raro uma propriedade da agricultura familiar ter uma dessas atividades como a principal fonte ou única fonte de renda”, avalia a economista doméstica do IDR.

Flávia observa que IDR tem estimulado ao agricultor familiar à diversificar a produção, através do turismo rural e da agroindústria, porque, apesar de não representarem a principal fonte de renda, não implicam a necessidade de abandonar as outras atividades para investir nessas áreas. “Mas ainda acaba esbarrando em certas questões burocráticas, infelizmente”, pondera.

O turismo rural inclui também o chamado “agroturismo”, que possui um caráter mais técnico, porque o visitante descobre como se produz algo, seja numa queijaria, numa vinícola ou numa cervejaria. Nesses locais, o turista conhece o processo de produção e degusta o produto final. “Você pode ter a proposta da agroindústria que vende os produtos, mas também a que vende esse serviço de turismo”, diz.

Flávia aponta que o IDR formou um grupo de trabalho junto ao Sebrae, à Adetur, ao Paraná Turismo e à Prefeitura de Ponta Grossa, que tem atuado nos distritos de Itaiacoca e Guaragi, onde estão surgindo várias iniciativas de turismo rural aliadas à agroindústria. “As caminhadas na natureza e o café rural são iniciativas que o IDR apoia e que servem para divulgar o produto dessas famílias e, consequentemente, se há uma grande procura, vai acabar incentivando a regularização da agroindústria, para vender não só o serviço do café rural, mas os produtos que são servidos ali dentro”, ressalta.

Selos e certificados de procedência e fiscalização

O IDR indica sempre a regularização dos produtos da agroindústria, com selos e certificados. Para os produtos de origem vegetal, segundo Flávia, o processo é mais simples porque compete à Vigilância Sanitária do próprio município realizar a fiscalização. No caso de produtos de origem animal, a fiscalização é feita pelo Serviço de Inspeção Municipal (SIM); pelo Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIP/POA) – ligado à Adapar; ou pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), a depender do alcance de mercado que o produtor pretende ter: municipal, estadual ou federal.

O Selo Arte – concedido aos produtos fabricados de forma
artesanal e que atendem aos requisitos específicos como utilizar técnicas predominantemente manuais e possuir características tradicionais, regionais ou culturais – não possui efeitos de fiscalização, enfatiza a economista doméstica do IDR. Flávia pontua que aderir ao Selo Arte não dispensa a fiscalização dos órgãos sanitários e serviços de inspeção. “Ele serve para agregar valor ao seu produto e dizer que ele é artesanal, que é feito de forma diferente e tem valor histórico e cultural”, salienta.

Já o selo SUSAF (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte) é considerado por Flávia uma alternativa. “O município adere a esse sistema, então, a iniciativa tem que ser do município, do Serviço de Inspeção Municipal, junto com a Secretaria Municipal de Agricultura e é o município que vai falar aos produtores quem está apto ou não a aderir ao SUSAF”, explica. A vantagem é que a fiscalização é feita por um órgão municipal, mais próximo do produtor, que consegue vender para o estado inteiro.

O SIF e o SISBI (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal), por sua vez, são para fiscalização federal, exercida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Produtos identificados pelo selo SIF podem ser vendidos em todo o Brasil e serem exportados.

O selo de Indicação Geográfica (IG) reconhece da origem e procedência de um produto ou serviço com características locais, o que confere reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado. Exemplos regionais são o mel de Ortigueira (IG-Ortigueira), a erva-mate de São Mateus do Sul (IG-Mathe), o queijo colonial de Witmarsum (IG-Colônia de Witmarsum) e a bala de banana de Antonina (IG-Antonina). O Sebrae apresenta uma lista completa das IGs brasileiras.

O selo IG é conferido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). “Você sabe que aquele mel é único daquela região, por algum critério territorial ou por alguma técnica que as pessoas utilizam. É um processo muito longo e detalhado, porque é preciso provar que aquele produto tem um diferencial”, explica Flávia. Em Palmeira, o queijo Purungo está em processo de obtenção do selo de Indicação Geográfica.

RDC 429

O IDR presta assessoramento ao agricultor familiar na rotulagem de produtos conforme os parâmetros da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 429/2020, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa resolução traz novas regras para rotulagem de alimentos, que vai começar a valer a partir de 9 de outubro, não apenas para a agricultura familiar, mas para todos os produtos do mercado.

“Para os agricultores familiares, teremos um prazo estendido até 9 de outubro de 2024 para nos adequarmos a todas as normas, justamente pensando nessa nova apresentação, pois, com a pandemia, os consumidores ficaram mais exigentes e agora precisamos trazer as informações corretas sobre os alimentos, bem na frente, sobre as taxas de açúcar e gordura; não pode falar que o produto é artesanal se não for”, afirma.

Confira a live do Sindicato Rural de PG na íntegra: