Sempre que vamos estudar sobre plantas forrageiras, a alfafa (Medicago sativa) é citada como a “Rainha das Forrageiras”. Principalmente pela sua adaptação em diversas condições ambientais, essa leguminosa perene tem potencial de produção com elevados teores nutricionais, alta digestibilidade e palatabilidade.
É a mais antiga planta forrageira de que se tem conhecimento e uma das mais importantes em todo o mundo. Países como os Estados Unidos, Rússia, Canadá, Argentina, China e Austrália são os principais produtores.
No Brasil, o seu cultivo ainda é restrito. Estima-se que a área cultivada seja de 40 mil hectares e se concentre na região sul, dos quais 90% estão no Paraná e no Rio Grande do Sul, sendo esse último estado o maior produtor do país. Tem-se observado aumento no interesse por essa espécie também nas regiões sudeste e centro-oeste do país, em áreas mais extensas e tecnificadas.
A necessidade de proteína animal no mundo e a oportunidade de mercado
Estimativas mostram que a procura por proteína animal deverá crescer significativamente nos próximos anos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050 a população mundial chegará a 9,8 bilhões de habitantes no mundo. O que exige aumentar a produção alimentar em 70%. Nesse cenário, a busca por culturas multifacetadas, como a alfafa, pode representar uma excelente opção.
A demanda de países árabes (Arábia Saudita e Emirados Árabes) e países asiáticos (China, Japão e Coreia) buscou grandes quantidades de alfafa em outros países. Em 2016, a exportação de feno de alfafa mundial chegou a 8,5 milhões de toneladas. Países produtores de alfafa que fornecem o material para tais países, como Estados Unidos, Austrália, Espanha e, em menor quantidade, Itália, estão muito próximos de seu limite de possibilidades de exportação.
Essa procura pela exportação da alfafa em fardos de feno também já chegou ao Brasil. Porém, o desafio ainda é grande, pois as quantidades solicitadas são bem maiores do que a capacidade interna que temos cultivada hoje no país.
Alguns fatores limitantes para o cultivo da alfafa no Brasil
Os fatores limitantes para o aumento do cultivo da alfafa no Brasil estão relacionados ao desconhecimento de tecnologias de cultivo, à baixa fertilidade do solo de algumas regiões, ao manejo inadequado, a poucos produtos fitossanitários registrados para a cultura, e à baixa disponibilidade de sementes e cultivares adaptadas às condições tropicais.
Porém, esses fatores não são de grande limitação na região dos Campos Gerais. As condições de clima, solo e, principalmente, as tecnologias empregadas na produção de leite e forragens fazem da região um ótimo local para cultivo dessa forrageira de excelência.
O grande benefício na produção animal
A alfafa é uma das forrageiras com maior potencial para intensificar a produção de leite, por apresentar alta palatabilidade, altos teores de proteína e vitaminas, alta produção de massa seca e baixa sazonalidade de produção, visto que a cultivar mais utilizada no Brasil é a “Crioula”, genótipo adquirido por meio de seleção natural de plantas, ocorrida no Rio Grande do Sul, não possuir repouso invernal, apresentando crescimento da parte aérea o ano todo.
Em razão de sua alta qualidade como alimento volumoso, a inserção da alfafa nas dietas de rebanhos leiteiros, em alguns casos, permite diminuir a quantidade de concentrado proteico, como o farelo de soja, por exemplo, reduzindo, consequentemente, os custos de produção.
Não só falando de rebanhos leiteiros, mas também é muito utilizada em haras, na criação de cavalos.
Formas de utilização
Além de apresentar inúmeros benefícios de utilização, a alfafa permite diferentes formas de exploração da forragem, permitindo a sua conservação para garantir a disponibilidade de nutrientes e utilização em períodos do ano em que a sua produção é menor.
Existem diferentes formas de utilização. A principal e mais comum é na forma de fardos de feno, em que a massa forrageira passa por processo de desidratação a campo até atingir umidade próxima a 15%. O feno pode ser reprocessado, para a produção de pellets e cubos de alfafa, duas técnicas ainda não tão exploradas, mas que vêm chamando atenção, principalmente, dos criadores de cavalos.
Essa forrageira também pode ser conservada na forma de silagem pré-secada, sendo conservada por meio da fermentação anaeróbia de bactérias ácido láticas.
Algumas propriedades ainda utilizam a forrageira in natura para pastejo ou corte direto, mas nesse caso é interessante ter um bom manejo de entrada e saída dos animais, com horários de pastejo, em que os animais passam apenas algumas horas do dia pastejando no campo, pois a alfafa é uma forragem que não tolera pisoteio e pastejo intenso.
Considerações
Entre as inúmeras vantagens da alfafa como fonte de forrageira volumosa e proteica para os animais, o Brasil tem direcionado uma atenção um pouco maior para essa forrageira, entendendo e reconhecendo a sua alta capacidade de produção com qualidade, aliado ao ótimo custo-benefício de produção.
Este texto teve apoio do Eng. Agr. Felipe Dijkinga, e, como base, algumas citações dos livros Cultivo e Utilização da Alfafa nos Trópicos e Manejo da alfafa: do cultivo aos seus múltiplos usos.
Maryon Strack Dalle Carbonare é zootecnista pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), doutora pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisadora na área de Forragicultura, professora do curso de Agronomia da Unopar – Ponta Grossa e proprietária da MS.DC Consultoria.