Sexta-feira, 03 de Maio de 2024

Ponto de Vista: Ministério da Agricultura estuda soluções para problemas de armazenamento de safra

2024-01-27 às 18:34

Direto de Brasília, em bate-papo exclusivo ao Ponto de Vista, programa apresentado por João Barbiero na Rede T de rádios do Paraná, na manhã deste sábado (27), o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro falou sobre o que o governo planeja para melhorar as condições e infraestrutura de armazenamento de produção agrícola no Brasil.

O ministro reconhece que o produtor, muitas vezes, se sente pressionado a vender por não ter onde estocar adequadamente a produção. “Se você vende pressionado, você vende mal. Se a tua safra está armazenada, está chegando a próxima e você não tem onde pôr, vende por qualquer preço”, pontua.

“O Brasil fica tão feliz quando bate recorde de produção. Tivemos, nos últimos 50 anos, um incremento de área de 140%. Da criação da Embrapa, nos anos 1970, a 2023, 40 milhões de hectares foram incorporados ao sistema de produção de alimentos no Brasil. Mas o crescimento da produção e da produtividade foi de 580%. A gente comemora safra recorde, mas não se preocupava onde colocar esse produto, até que, então, o governo da presidente Dilma criou o Programa de Construção de Armazéns (PCA), um programa com juros bastante atrativos, 15 anos para pagar. Não é fácil pagar um armazém, porque é um investimento muito caro e que fica muito ocioso, porque acabou a safra, ele fica parado”, afirma.

Conforme o ministro, o PCA deu tanto resultado que acabou com o déficit de armazenamento naquele período, de modo que os governos que sucederam Dilma Rousseff acabaram por suspendê-lo – e, consequentemente, o déficit ressurgiu. A produção continuou a bater recordes e a capacidade de armazenagem, com a descontinuidade do PCA, deixou de acompanhá-la na mesma proporção. O programa, iniciado em 2013, atingiu capacidade de armazenamento de uma safra em 2015.

“Imediatamente, voltamos, a partir de janeiro [de 2023], com o presidente Lula, o Programa de Construção de Armazéns, junto ao BNDES, financiando linhas dolarizadas e linhas em reais. São armazéns para médios produtores, com juros de 7% ao ano, com 10 anos para pagar. Para os demais produtores, 10,5% ao ano e 10 anos para pagar”, diz.

Segundo o ministro, o programa tem tido grande procura, com destaque para cooperativas paranaenses. “Nunca tinha visto armazém de fundo chato ser usado para armazenar a produção paranaense. No ano passado, foi usado. Ainda estamos procurando flexibilizar e colocar mais recursos, para que possamos garantir a estocagem da safra; programas que deem fluxo de caixa para os produtores, para que eles não fiquem necessitados de vender a safra para pagar seu custeio, a qualquer preço, e mais: que ela esteja bem guardada, bem armazenada”, diz. Fávaro ressalta, ainda, que a construção de armazéns gera “efeitos colaterais do bem”, como a geração de empregos na indústria metalúrgica, na de equipamentos, de secadores e de termostáticos e na construção civil, por exemplo.

O Ministério da Agricultura também deu início ao Programa de Conversão de Pastagens Degradadas para a Agricultura e Pastagem Intensiva, que pode incorporar outros 40 milhões de hectares ao sistema produtivo, o que equivaleria a “praticamente dobrar tudo aquilo que foi feito nos últimos 50 anos, nos próximos 10 ou 15”. “Conhecimento técnico nós temos, gente vocacionada, homens e mulheres que sabem trabalhar com a terra nesse país, indústria de equipamentos, máquinas, fertilizantes, insumos. Está tudo instalado, para todos os lados há revendas, concessionárias. Está tudo pronto. Agora é só crescer, fazer mais. Mas aí tem que fazer mais armazéns, mais rodovias, mais ferrovias, mais portos. Por isso que o presidente Lula lança as coisas simultaneamente: ao mesmo tempo que lança o programa de conversão de pastagens, lança o PAC”, diz.

Leite

“Precisamos contextualizar essa ‘crise do leite’. Várias ações já foram tomadas. Mas a primeira constatação, o que é muito fácil de compreender, é que essa é uma cadeia produtiva muito importante, que gera emprego em todos os 5.568 municípios brasileiros. Não existe um município sem um produtor de leite. É primário, é fundamental, desde o sitiozinho que produz para consumo próprio e vende o excedente. Em segundo lugar, é bastante estruturado em torno de cooperativas. Em terceiro, há uma desigualdade gigante de tecnologia. Quando chego em Castro e conheço uma fazenda de produção de leite onde, neste instante, tem três vacas sendo ordenhadas por robô, que não precisa a mão humana sequer entrar no curral e sabe a hora a partir do movimento fisiológico a hora de comer, de beber água, de ruminar, de tirar o leite, ela se encaminha para o lugar certo e o robô tira, com altíssima tecnologia e altíssima tecnologia; [não tem como] comparar com a imensa maioria dos produtores, que ainda tiram leite às 4h da manhã, com um banquinho de uma perna só”, diz.

O gap de tecnologia que há entre esses dois tipos de produtores, na avaliação do ministro, retira o pequeno produtor de condições justas de competitividade, uma vez que é mais rentável a produção massiva de quem conseguiu mecanizar o processo em relação a quem ainda faz a ordenha manual.

“Atrelado a isso, vem o problema da importação de leite em pó do Mercosul. Alguns chegaram a sugerir ao presidente Lula que quebrasse o pacto e barrasse a importação de leite em pó do Mercosul. Isso seria acabar com o Mercosul. É importante lembrar que o Brasil é superavitário no Mercosul e nós vendemos tecnologia da linha branca – geladeira, fogão, televisão, carros. Se quebrarmos esse pacto, quem vai vender geladeira, fogão para a Argentina e para o Uruguai será a China e o desemprego vem para a indústria brasileira. O que temos que fazer é resolver o problema do produtor de leite brasileiro. Barrar a importação de produtos lácteos de todos os outros países, com taxação na Camex (Câmara de Comércio Exterior), não foi suficiente. Uma medida de incentivo fiscal à compra por cooperativas de leite in natura, não leite em pó, ninguém exporta água e a exportação é toda feita em leite em pó. Mas isso requer também um período de carência, pela legislação, de 90 dias, que terminou agora no mês de janeiro e deve surtir efeitos imediatos. Além disso, teve o endividamento: linha de crédito, com juros bastante reduzidos para produtores. Isso também já foi feito e está disponível via BNDES, dois anos de carência e quatro para pagar. E tem um grupo de trabalho pelo Ministério da Agricultura (MAPA), pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Indústria e Comércio e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para pensar em políticas estruturantes para tirar esse gap entre os produtores”, conclui.

Confira a íntegra da entrevista:

Ponto de Vista

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.