Domingo, 15 de Dezembro de 2024

Presidente da Ocepar ressalta o papel do cooperativismo no Paraná

2022-09-06 às 15:16

O presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, em participação no programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta terça (6), destacou o papel do cooperativismo, que ultrapassa o agronegócio e se estende, cada vez mais, para outros setores econômicos.

Despertar o cooperativismo dentro de uma comunidade, segundo Ricken, não é tão simples, porque atravessa todo um processo de educação, visto que o ser humano tende, naturalmente, à competitividade e concorrência. “O cooperativismo exige algo mais complexo: exige que as pessoas possam se entender naqueles objetivos que são comuns e trabalhar em conjunto”, diz.

No entender de Ricken, o modelo de cooperativismo no Paraná é avançado de tal modo que “não devemos nada a nenhum país de 1º Mundo”. Nesse sentido, ele aponta a Coamo, cooperativa com sede no município de Campo Mourão, de onde ele concedeu a entrevista, a distância. Na segunda (5), a cooperativa recebeu, em São Paulo, o prêmio de Excelência do Agronegócio, como a empresa mais importante do agronegócio no Brasil. “Tem milhares de cooperados e funciona assim de uma forma democrática, uma forma muito organizada. Imagina ter uma empresa com 20 mil sócios. Obviamente, é complexo, tem que ter sistemas de compliance bem desenvolvidos, uma liderança bem estabelecida e os cooperados com uma comunicação bem clara, objetiva”, pontua.

O presidente da Ocepar salienta que um dos Parques Industriais mais importantes do Paraná está situado em Ponta Grossa e que a região dos Campos Gerais, com Castro e Carambeí, desenvolvem o “cooperativismo mais autêntico”. Ele cita o projeto da Maltaria Campos Gerais, que é uma parceria entre Ponta Grossa e Castro e deve se tornar a maior maltaria do Brasil, com planta prevista para ser entregue em 2023, ocasião do bicentenário do município. “E é uma cooperativa. É viável, é possível e é um avanço muito grande na sociedade termos isso aqui no Paraná”, frisa.

Além do agro

Ricken destaca que, ainda que seja mais evidente no agronegócio, que concentra 85% das cooperativas, o cooperativismo está presente em sete ramos de atividades. As cooperativas de crédito – como Sicredi, Sicoob e Uniprime – são as instituições que envolvem o maior número de paranaenses ligados ao cooperativismo. Segundo o presidente da Ocepar, dos 3 milhões de paranaenses ligados às cooperativas, 2,5 milhões estão associados ao crédito. “Se você quiser provar do cooperativismo, pela livre admissão, você pode se associar a uma cooperativa de crédito”, ressalta.

Outro exemplo de atividade em que o cooperativismo se destaca é a medicina, com as Unimeds. “São cooperativas de médicos. Eles não são uma empresa de medicina, são uma cooperativa super bem organizada”, explica.

Nos transportes, os caminhoneiros começaram a se organizar em cooperativas, notadamente, a partir do desencadeamento da crise econômica. “Hoje, temos quase 40 cooperativas de transportadores autônomos no Paraná. Seguindo o exemplo das outras [cooperativas] está se organizando”, aponta.

Na infraestrutura, no passado, a eletrificação rural foi executada a partir de cooperativas. No consumo, o Paraná ainda é pequeno, em termos de cooperativismo. Ricken cita o exemplo do estado de São Paulo, onde existe a Coop. “A maior rede de supermercados  de São Paulo é uma cooperativa”, salienta. A Coop é uma rede de varejo colaborativo, criada há 67 anos, que possui 31 unidades de supermercados com drogarias distribuídas por toda SP; 29 Drogarias de rua e mais 20 drogarias anexadas em outros supermercados e três postos de combustível. A Coop é a maior Cooperativa de consumo da América Latina e a 18ª rede no ranking nacional de supermercados da ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados).

“Também no consumo, a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) trouxe o exemplo de cooperativismo de consumo da Inglaterra, porque foram os ingleses, que implantaram a ferrovia no Paraná. Hoje, não existe mais essas cooperativas, porque a ferrovia também já não mais existe em algumas regiões. A região de Ponta Grossa até é bem servida de ferrovias, mas o resto do Paraná não é”, comenta.

Ricken destaca que as cooperativas sempre nascem pequenas, mas que podem se desenvolver bastante. Cita como exemplo a origem do cooperativismo no Paraná, atribuído à vinda das colônias holandesas para a região de Castro e do antigo distrito – hoje município – de Carambeí. Em Castro, temos a Castrolanda Agrária e, em Carambeí, surgiu a Batavo – hoje Frísia – a cooperativa mais antiga do estado.

Avanço diante da crise

Ricken relembra que as cooperativas da agroindústria não puderam parar durante a pandemia de covid. “Imagina se uma agroindústria parasse, se a produção de alimentos parasse, seria o caos absoluto da sociedade, haveria um desabastecimento. A duras penas, nós continuamos no dia a dia fazendo o que sempre fazíamos”, pontua.

Segundo o presidente da Ocepar, o fato de não poder parar as atividades, especialmente no meio rural, levou ao incremento do cooperativismo.

Quanto à política, a Ocepar desenvolve, pela segunda eleição consecutiva, um programa de educação política para seu público interno, de 3 milhões de integrantes. A organização espera, em primeiro lugar, conscientizar as pessoas de que é importante votar naqueles candidatos que te representem.

O segundo ponto do projeto de educação política é prestigiar os parlamentares que efetivamente tenham apoiado o cooperativismo no Congresso Nacional. “Temos uma Frencoop em nível nacional. Aqui no Paraná 12 parlamentares participam disso de uma forma muito ativa e queremos prestigiar essas pessoas”, afirma. A Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) é formada por 268 deputados federais e 38 senadores com o propósito de defender o setor do cooperativismo agrário.

Ricken analisa que o senso comum acredita que o Executivo resolve tudo isoladamente e que o eleitor médio prioriza a votação para governador e presidente, quando deveria pensar com mais cuidado em quem vota para o Legislativo. “O acesso que temos à política se faz através do Congresso. Tudo passa pelo Congresso. O Executivo executa, até pode propor políticas. Mas, se não passar no Congresso, não funciona e nem pode pôr em desenvolvimento a política. No cooperativismo, vamos nos ater mais à formação de um Congresso brasileiro melhor estruturado”, reitera.

A deputada federal Aline Sleutjes, segundo Ricken, foi eleita em 2018 dentro desse programa de educação política da Ocepar. “Temos um grupo que interage conosco, independentemente de partido político, de uma forma muito construtiva”, opina.

O presidente da Ocepar aponta que a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mantém uma equipe de assessoramento no Congresso Nacional, a fim de ajudar os parlamentares na formulação das políticas. “O assessoramento no Congresso é muito formal. Se você não ajudar, os coitados não conseguem fazer. A Aline foi um exemplo disso. Estamos fazendo agora uma rodada de núcleos, são quatro reuniões, e nós queremos destacar o trabalho dessa gente”, avalia.

Para o Senado, a Ocepar também pretende que se eleja o candidato mais alinhado aos interesses do cooperativismo, independente da sigla partidária. “Queremos alguém ativo e que vá defender a classe do agronegócio no Paraná. Isso é fundamental. Tem muita coisa parada no Congresso, não está parado na Câmara, mas no Senado. Tem que mexer nisso e evoluir”, conclui.

Confira a entrevista de José Roberto Ricken na íntegra: