Terça-feira, 19 de Novembro de 2024

Arte da Jornada: ‘Capturando o efêmero: o diário como espelho da mudança’, por Leticia Scheifer

2024-09-26 às 11:33
Virginia Woolf, Susan Sontag e Sylvia Plath, além de autoras, escreveram diários por toda a vida

Joan Didion, escritora norte-americana, começa seu livro O Álbum Branco afirmando: “Contamos histórias para poder viver”. Os efeitos da escrita na saúde mental são documentados há anos. A escrita nos ajuda a regular as emoções, praticar a empatia e nos dá autonomia para processar eventos marcantes em nossas vidas.

Escrever um diário é uma prática que nos ensina, melhor do que qualquer outra, a arte da solidão. Mostra-nos como estar presentes conosco mesmos, testemunhar nossa experiência e habitar plenamente nossas vidas interiores. Por meio dele, podemos criar nossa própria cápsula do tempo: estão ali lutas criativas, dilemas emocionais e sentimentos avassaladores que, como tudo na vida, irão passar.

É importante registrar e externalizar as ondas intensas que vivemos justamente para entender que elas não duram para sempre. Nada escrito em um diário deve ser tomado como uma verdade universal. Um diário é um registro de pensamentos e vida interior, que são invariavelmente transitórios.

Somos criaturas frequentemente de mau-humor e turbulência mental. O que achamos que acreditamos em determinado momento pode ser profundamente diferente de nossas crenças uma década depois. Na verdade, pode mudar em um ano ou, às vezes, até em um dia.

Por isso, o diário é recomendado no processo terapêutico. Ele serve como um monumento vivo à nossa própria fluidez. É um lembrete de que nossos eus presentes não são confiáveis em prever nossos valores futuros, e de que mudamos com frequência ao longo de nossas vidas.

Arte da Jornada

por Leticia Scheifer

Leticia Scheifer é jornalista e psicóloga. Possui pós-graduação em Arteterapia e também em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial. Atua como terapeuta em Ponta Grossa e no formato online, com especialidade em adolescentes e adultos nas áreas de ansiedade, luto, depressão e pessoas LGBT. Gosta de cinema, bichos e café.