Sexta-feira, 09 de Maio de 2025

Arte da Jornada: ‘ChatGPT pode ser seu terapeuta?’, por Leticia Scheifer

2025-05-08 às 10:35
Filme “Ela”, de Spike Jonze, previu a relação emocional dos humanos com a inteligência artificial

Notícias recentes apontam que 1 em cada 10 brasileiros faz terapia com chatbots, o que demonstra paradoxalmente nossa necessidade pelo vínculo e o quanto não queremos nos sentir vulneráveis. Como psicóloga, sinto a necessidade de esclarecer alguns pontos sobre essa prática.

O ChatGPT não oferece terapia, apenas informação. Pode ser um ótimo recurso complementar, mas deve ser visto como uma interação unilateral com um artigo ou vídeo, mesmo que pareça uma conversa.

Ou seja, o ChatGPT é treinado em companheirismo. Quanto mais você o usa, mais ele lhe dirá exatamente o que você quer ouvir, não o que você precisa ouvir. E terapia, muitas vezes, é sobre confrontar atitudes, pensamentos e sentimentos que temos.

O ChatGPT não foi projetado para se importar com você, com o que acontece com você ou com seu bem-estar emocional. Na verdade, ele foi projetado para fazer o oposto. Ele é criado por pessoas que buscam conhecer seus pensamentos e demônios mais íntimos para poderem lhe vender coisas.

O modelo do ChatGPT pode ser manipulado a qualquer momento para tentar induzi-lo a fazer coisas contra seus próprios interesses, se isso beneficiar as empresas de tecnologia que os administram. Se algo é gratuito, você é o produto.

Bilionários da tecnologia enxergam isso como uma grande oportunidade porque significa poder fazer o que quiserem e quando quiserem com você e seus dados. É um computador que lhe dirá para se machucar se achar que vai conseguir fazer com que você gaste dinheiro em uma arma, uma faca ou remédios. E isso é extremamente perigoso.

No caso de uma inteligência artificial, se ela for seu único recurso, a qualquer momento ela seguirá as regras da empresa que a criou. Alguns podem dizer que já tiveram experiências ruins com terapeutas e eu jamais duvidaria disso – existem profissionais medíocres em todas as áreas. Iniciar essa busca é se colocar no papel de questionar o que funciona para você, de falar sobre coisas desconfortáveis e se conectar com o desconhecido. Eu também acredito que há profissionais capacitados para te ajudar e que trabalham para serem melhores, que não vão usar suas informações contra você.

Arte da Jornada

por Leticia Scheifer

Leticia Scheifer é jornalista e psicóloga. Possui pós-graduação em Arteterapia e também em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial. Atua como terapeuta em Ponta Grossa e no formato online, com especialidade em adolescentes e adultos nas áreas de ansiedade, luto, depressão e pessoas LGBT. Gosta de cinema, bichos e café.