Terça-feira, 19 de Novembro de 2024

Arte da Jornada: ‘Enfrentar a perda de um animal de estimação’, por Leticia Scheifer

2024-10-24 às 13:28

Meu cachorro Chico ficou pouco tempo com a nossa família, mas foi uma fonte de alegria durante o período que esteve conosco. Adotamos ele após um resgate – ele tinha sido abandonado em uma rodovia, em uma caixa com seus irmãos. Toda a ninhada morreu de cinomose, mas o Chico foi o que resistiu por mais tempo.

Para muitas pessoas, os animais de estimação são companheiros fiéis, que oferecem amor incondicional e uma sensação de conforto e pertencimento. Quando esses animais morrem, o vazio deixado pode ser devastador, e os sentimentos de tristeza, solidão e até mesmo culpa podem surgir.

O impacto psicológico dessa perda pode variar de pessoa para pessoa, dependendo do nível de apego ao animal e das circunstâncias em torno da morte. Lembro que a ausência da rotina diária de cuidar do Chico, como passeios, alimentação e momentos de brincadeira, aumentavam esse sentimento.

Meu cachorro Chico, que morreu em 2022

Passar por isso já é doloroso por si só, mas há também a dificuldade de lidar com a validação social do luto por um animal de estimação. Muitas vezes, as pessoas não reconhecem plenamente a dor sentida por essa perda, e os enlutados podem sentir vergonha ou hesitação em expressar sua tristeza, temendo não serem compreendidos.

Esse julgamento social pode prolongar o sofrimento, fazendo com que a pessoa reprima suas emoções ou não busque o apoio necessário, o que pode intensificar o impacto psicológico da perda. Em alguns casos, pessoas próximas até recomendam que você adote outro bicho, como se fossem descartáveis, causando revolta.

Para viver o processo do luto, é essencial que a pessoa se permita sentir a tristeza e que busque formas de honrar a memória de seu animal. Participar de grupos de apoio ou conversar com amigos e familiares que compreendam a profundidade da perda pode ajudar no processo de cura. Ter um álbum de fotos (digital ou não), fazer um pequeno rito de passagem ou escrever cartas podem ser fundamentais nesse momento.

Nós, por exemplo, viajamos para a cidade de São Francisco do Sul (SC), e lá espalhamos as cinzas dele no mar. Pareceu apropriado que o santo que inspirou seu nome, e também é padroeiro dos animais, nos apoiasse nesse momento difícil. A ressignificação da relação com o animal e o reconhecimento da importância dele na vida de quem ficou pode aliviar a dor com o tempo, permitindo que o luto seja processado de forma saudável.

Arte da Jornada

por Leticia Scheifer

Leticia Scheifer é jornalista e psicóloga. Possui pós-graduação em Arteterapia e também em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial. Atua como terapeuta em Ponta Grossa e no formato online, com especialidade em adolescentes e adultos nas áreas de ansiedade, luto, depressão e pessoas LGBT. Gosta de cinema, bichos e café.