há 14 horas
Oliveiros Marques

A Câmara dos Deputados, sob a presidência de Hugo Motta, virou objeto de deboche. Parlamentares tripudiam abertamente sobre a fragilidade com que a instituição vem sendo conduzida. Agora, é a vez de Alexandre Ramagem expor o Poder Legislativo Federal ao vexame. Condenado a mais de 16 anos de cadeia pela participação na tentativa de golpe de Estado - contra a mesma democracia que a Câmara deveria defender com unhas e dentes -, ele foge para os Estados Unidos e, ainda assim, ao que tudo indica, mantém suas rotinas parlamentares, incluindo participação em votações remotas nos últimos dois meses.
A fuga teria ocorrido em setembro, muito provavelmente pela fronteira em Roraima, de maneira clandestina, como é peculiar a um criminoso. Depois, passando pela Venezuela ou pela Guiana, teria seguido para os Estados Unidos, onde afirma estar sob a proteção do governo Trump, morando com a família em condomínio de luxo com aluguéis na casa dos R$ 30 mil mensais.
E é aqui que as coisas começam a fazer sentido. Quando se dizia que a defesa da PEC da Blindagem - ou da Bandidagem - também objetivava proteger políticos, era exatamente disso que se falava. O Supremo Tribunal Federal determinou, ao condenar Ramagem em setembro (mês da fuga), a perda do mandato do parlamentar carioca. Contudo, cabe à Mesa Diretora da Câmara, sob a presidência de Hugo Motta, cumprir a determinação, o que só deve ocorrer após o trânsito em julgado, ou seja, depois do julgamento de todos os recursos no Supremo.
Mas há um detalhe que precisa ser investigado com mais cuidado. Poderia um parlamentar em licença médica participar de votações, ainda que de forma remota? E mais: sendo, agora sabidamente, um condenado em fuga, teria validade sua participação em quaisquer atividades do Congresso Nacional? Confirmada sua presença, por exemplo, na votação do projeto de lei antifacção, não caberia a anulação daquela votação por fraude, já que contou com a participação de alguém que não poderia estar exercendo regularmente o mandato?
Por fim, a revelação da fuga de Ramagem, somada às escapulidas de Carla Zambelli e de Eduardo Bolsonaro, mais do que justificam a prisão de Jair Bolsonaro determinada no sábado pelo STF. Exibem, às claras, o modus operandi da quadrilha que atentou contra a democracia e que, mais uma vez, de maneira covarde e cínica, estaria disposta a usar as “tiazinhas do zap” como bucha de canhão.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político.