Quarta-feira, 12 de Março de 2025

Artigo: ‘A revolução feminina e preta’, por Oliveiros Marques

2025-03-09 às 09:40

Neste 8 de março, muito se falará sobre a situação da mulher no Brasil. É o momento em que a imprensa tradicional, por exemplo, abre mão de um pouco de seus nobres espaços para colocar luz sobre a realidade feminina no país, mesmo que o tema não receba as mesmas preocupações nos outros 364 dias do ano.

Contudo, penso que um recorte deste tema será pouco observado pelas páginas e telas dos grandes veículos: o de raça. E é sobre ele que farei a minha provocação de hoje. Não que eu não valorize a luta de todas as mulheres e a importância do movimento para os avanços que já alcançamos em nossa sociedade nos últimos anos. Mas penso que seja necessário destacar a realidade enfrentada pelas mulheres pretas e pardas brasileiras.

No Brasil, as mulheres negras (pretas e pardas) enfrentam desigualdades significativas em relação às mulheres brancas, especialmente no que se refere à pobreza e extrema pobreza. O analfabetismo pune três vezes mais as mulheres negras. O acesso à universidade é um caminho que, da mesma forma, ressalta o abismo enorme que separa negras e brancas. A diferença na expectativa de vida das mulheres negras é de mais de 5 anos a menos quando comparada às mulheres brancas. A taxa de homicídios, logo também de feminicídios, é 70% maior entre as mulheres negras quando comparadas às mulheres não negras.

Esses são alguns dados que evidenciam a persistente desigualdade social enfrentada pelas mulheres negras no Brasil. E aqui não cabe criar uma fricção entre mulheres negras e não negras. Esta realidade é fruto do acúmulo do machismo e do racismo impregnado em nossa sociedade. O quadro apresentado serve, metodologicamente, para destacar o urgente e necessário fortalecimento de políticas públicas direcionadas a reduzir essas disparidades.

E aqui entra um último dado que gostaria de apresentar, o qual indica claramente a dificuldade do avanço, e por onde imagino que deva haver um investimento na luta política das mulheres negras: as estruturas partidárias. Os partidos políticos no Brasil, além de contarem com algo em torno de apenas 20% de mulheres em seus cargos de direção, possuem um número pouco significativo de mulheres negras nessas posições.

Portanto, penso que o caminho para a mudança radical e qualitativa da realidade, da triste realidade de violência e discriminação enfrentada pelas mulheres negras brasileiras, exige políticas públicas que modifiquem o estado atual. Para isso, é preciso que os partidos patrocinem cada vez mais essas lutas dentro da institucionalidade – para reforçar a luta das mulheres no seio da sociedade –, o que só acontecerá com mais mulheres negras, pretas e pardas, comandando os partidos que compartilhem dessa visão de sociedade, que desejem e lutem por esse amanhã que já deveria ter sido ontem.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político