Quarta-feira, 20 de Agosto de 2025

Artigo: ‘Amanhã seremos nós’, por Oliveiros Marques

2025-08-20 às 09:09

As manobras marítimas dos Estados Unidos próximas à costa venezuelana deveriam nos preocupar muito mais do que parecem mostrar as páginas e telas da imprensa brasileira. Sob o pretexto de combater o narcotráfico, o imperador Trump ameaça diretamente a nação governada por Nicolás Maduro. Para além da desculpa das drogas, está a velha narrativa norte-americana de que na Venezuela vigora um regime ditatorial.

Concordemos ou não com as medidas adotadas por Maduro, com a condução do processo eleitoral ou com a dura realidade socioeconômica enfrentada pelo povo venezuelano – marcada por uma diáspora dramática , é difícil afirmar que tenhamos elementos objetivos para julgar a situação com precisão. Afinal, enxergamos de fora, e muitas vezes apenas através de um olhar enviesado a partir do Brasil.

Por isso, não temos o direito de simplesmente acreditar na narrativa apresentada pelo governo Trump. Até porque, no caso dele, a mentira é quase uma patologia. O método é sempre o mesmo: repetir falsidades inúmeras vezes, em diversos canais, até que se cristalizem como supostas verdades. E exemplos para desconfiar não nos faltam, vindos do hemisfério norte. Basta lembrar: juravam que havia armas atômicas no Iraque. Invadiram, destruíram uma nação, massacraram seu povo… e não encontraram absolutamente nada.

A estratégia trumpista para a América Latina me parece óbvia: manter a Pátria Grande sob constante ameaça, usando a retórica do combate ao narcotráfico – uma preocupação que convive com a sua absoluta incompetência para controlar suas próprias fronteiras e lidar com milhões de usuários em seu território. Hoje, o alvo é a Venezuela; amanhã, será o Peru, a Bolívia, ou qualquer país que não se subordine à lógica pós-neocolonial de Trump, agora em busca do ouro e da prata da vez: os minerais raros.

É fato que o Brasil já acumula uma lista de contenciosos a resolver com os Estados Unidos, em especial pelo tarifaço criminosamente orquestrado pela família Bolsonaro para tentar livrar o inelegível da prisão. Mas não podemos deixar para depois uma manifestação contundente, articulada com os demais países latino-americanos, condenando essas manobras de guerra. Que não tentem exportar para cá as suas obsessões bélicas – nós já temos problemas suficientes com os nossos próprios conflitos internos.

A loucura reinante na cabeça do presidente bilionário, somada à moral imperialista de seu país e de suas forças armadas, não descarta, sob hipótese alguma, a possibilidade de uma intervenção armada em nosso continente. Para transformar esse território aqui em um novo Iraque ou em uma nova Ucrânia, na cabeça dessa gente, bastam dois palitos.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político

 

*Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Portal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos termos e problemas brasileiros e mundiais que refletem as diversas tendências do pensamento.