Logo após a decisão que tornou réus Jair Bolsonaro e alguns de seus principais aliados na tentativa de derrubar o Estado Democrático de Direito, a infantaria golpista virou suas baionetas para a aprovação de um projeto que busca conceder anistia aos criminosos do 8 de janeiro. Detalhe: ainda nem sabemos quem são todos eles, pois muitos julgamentos seguem em curso.
Mas tenho uma triste notícia para a horda: esse projeto não vai passar. As tiazinhas do zap – verdadeiras “bois de piranha” -, assim como financiadores, executores e os autores intelectuais, vão cumprir suas penas. E digo isso com convicção, por alguns fatores que impedirão o avanço dessa esperteza.
Primeiro, a quem interessa essa anistia? A um setor relevante da sociedade brasileira ou a um núcleo familiar? Está na cara que o apelo se restringe à família Bolsonaro e ao seu círculo íntimo, que se beneficia diretamente e depende dessa relação. Pesquisas já mostraram que o tema não tem apelo popular.
Agora, imaginemos o deputado Hugo Motta, um parlamentar jovem, de um pequeno estado, carimbando sua biografia com uma esculhambação dessas: ser o presidente da Câmara dos Deputados que aprovou o “liberou geral” contra a democracia? Não creio que esteja em seu horizonte começar sua trajetória nacional com essa pecha. Logo, não contaria com o empenho dele para esse projeto andar.
E, talvez o ponto mais determinante: anistiar Bolsonaro – porque a real preocupação aqui não são as tiazinhas do zap, mas sim livrar o ex-presidente da cadeia – significa trazê-lo de volta ao jogo eleitoral. Agora pense: como os possíveis candidatos do centrão enxergam essa possibilidade? Com certeza, fazem as contas. E o resultado coloca Bolsonaro na disputa até 2030, adiando os sonhos presidenciais dessa turma para, no mínimo, 2034. Porque mesmo perdendo as eleições de 2026, ele apresentará novamente a candidatura nas eleições seguintes. Não esqueçamos que a simples candidatura já monetiza.
Muitos dos que hoje sonham em ser presidente provavelmente já terão abandonado a política até lá. Por isso, não se surpreenda ao ver esses mesmos personagens se movendo contra a anistia. Para eles, essa jogada não passa de um verdadeiro tiro no pé.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político