há 7 horas
Giovanni Cardoso

Para contar a história a seguir, não citarei nomes. Calma: eles existem. São de carne e osso. Assinam contratos. Atendem celulares cifrados. Tomam café em gabinetes acarpetados. Porque, afinal, jabutis não sobem em árvores. Se lá estão, alguém os pendurou. Mas havia prometido a um amigo que buscaria evitar de nominar personagens. Uma forma de estimular a criatividade de nossos milhões de leitores.
Começa pequeno. Uma corretora modesta. Um “banco” do tamanho de um escritório. Um tamborete, por assim dizer. E, de repente - não mais que de repente -, vira uma potência do mercado financeiro brasileiro. Crescimento em linha reta. Em direção ao céu, ao paraíso. Crédito consignado a rodo. Operações lastreadas em papéis “milagrosos”. Rendimentos que fariam inveja a alquimista. Tudo muito bonito no folder. No prospecto, então, dava vontade de aplaudir.
A virada tem data. 2018. Daí em diante, cinco anos sem nuvens. Até 2022, prosperidade de calendário de mesa: cada mês, um recorde. Mérito? Claro. O mérito de administrar amizades. Circular por gabinetes nas alas azul e verde. Sorrir para câmeras. E saber a hora exata de dizer “tamu junto”.
Exemplo? Um fundo de previdência ligado a um grande estado do Sudeste. Dinheiro de aposentado, o melhor combustível para negócios “sérios”. Na gestão do atual governador - aquele que vocês sabem qual é, que patrocinou aquela chacina na favela (talvez querendo criar fumaça para o que já sabia que viria) -, mas que eu prometi não nominar, foram jorrados mais de R$ 2,6 bilhões em direção ao Master. Não é cachoeira. É transbordo. E não foi só do Palácio das Laranjeiras que veio guarda-chuva. Brasília também abriu os braços.
No Banco de Brasília, o BRB, surgem compras de carteiras com perfume de estelionato. Sabe aquele cheiro de queimado quando a tomada chia? Pois é. Fala-se em empresa de fachada para captar R$ 12 bilhões. Doze. Bilhões. Dinheiro público. Contribuinte do DF pagando a conta e recebendo, em troca, promissórias com purpurina.
Amigos na capital, aliás, não faltam aos controladores do Master. Quando a fumaça subiu, houve quem tentasse puxar o extintor pela política. A conversa correu pelos corredores: “dá para ligar no Banco Central?” Tentaram. O ruído chegou a ouvidos sensíveis no Congresso. Teve pressão, teve recado atravessado. Não adiantou. Ministério Público na cola. Polícia Federal na soleira. A porta abriu.
Resultado provisório - sublinhe “provisório”: presidente do banco preso. Diretor do BRB afastado. Executivos sob medida em medidas cautelares. Quebra de sigilo aqui. Busca e apreensão ali. O tabuleiro começou a se mexer, e peças que juravam ser rainhas descobriram que eram peões.
E, como sempre, a narrativa oficial quer reduzir tudo a “casos isolados”. Não é. É método. É modelo de negócios. É a engenharia do jabuti: uma mão puxa, outra amarra, uma terceira finge que não viu. O novelo começou a soltar a primeira ponta. Há quem diga que vêm aí nomes de parlamentares em mandato, governadores, dirigentes partidários, ex-ministros do governo passado, doleiros de estimação, consultores “discretos”. E alguns lobistas com escritório que parece lobby de hotel.
Os próximos dias prometem. Planilhas ganham voz. E-mails ficam tagarelas. Mensagens ressurgem do arquivo eterno. A delação, como sempre, aprende a conjugar o verbo “colaborar”. E então, sim, os nomes descerão da árvore. Não por gravidade. Mas porque acabou a escada.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
*Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Portal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos termos e problemas brasileiros e mundiais que refletem as diversas tendências do pensamento