“Caros, conversei com o Fux mais uma vez, hoje. Reservado, é claro: o min. Fux disse quase espontaneamente que Teori fez queda de braço com Moro e viu que se queimou, e que o tom da resposta do Moro depois foi ótimo. Disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me para ir à casa dele rs. Mas os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos…”, teria escrito o representante do Ministério Público, Deltan Dallagnol, em um grupo de WhatsApp. “Excelente. In Fux we trust”, teria respondido o então juiz Sergio Moro.
Não me lembro de ter visto, naquela época, qualquer um dos personagens que hoje pedem o impeachment de ministros do STF levantar a voz. Pelo contrário: estavam todos na mesma arquibancada, aplaudindo o lawfare que corria solto a partir de Curitiba.
Assim como também não os vi – esses próceres do golpismo – erguerem a voz quando Lula, por determinação do próprio Supremo Tribunal Federal, foi impedido de tomar posse como ministro no governo Dilma; proibido de ir ao enterro do irmão; e silenciado, sem poder conceder entrevistas, por ordem do então ministro Luiz Fux.
Agora, a senadora Damares, em mais uma tentativa desesperada de livrar da condenação o líder de sua manada bolsonarista, declara que “a pauta do Senado será o impeachment do senhor Ministro do Supremo Tribunal, Alexandre de Moraes”. É mais uma demonstração de coação sobre o curso de um processo judicial – como também o é a articulação de Eduardo Bolsonaro nos EUA, que resultou no tarifaço contra o Brasil.
A senadora bolsonarista segue tentando colocar as instituições brasileiras de joelhos para defender uma única família. Quer fazer do Estado brasileiro um servo de uma horda que atentou contra o Estado Democrático de Direito, contra as famílias, contra a liberdade e contra a própria Pátria.
Aliás, essa mesma senhora – que foi ministra da Família no governo extremista – silenciou quando Jair Bolsonaro, ao justificar ter entrado na casa de uma adolescente que encontrara na rua de uma cidade satélite do DF, disse: “pintou um clima”.
A declaração da senadora, cercada de cúmplices a servirem de backdrop para a cena, deixa claro que a tentativa de golpe persiste. Coagem as instituições na busca de um estado autoritário sob medida, onde só valem as leis que beneficiam sua manada.
E uma curiosidade final: ao pedir ao ChatGPT a origem do nome Damares, uma das possibilidades é que venha do grego – e signifique “bezerra jovem”. Pode ser que, em parte, esteja certo.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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