A denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República é gravíssima e mostra como a democracia brasileira esteve em perigo. Mais do que isso, demonstrou o modus operandi e a cronologia de uma facção golpista disposta, inclusive, a assassinar as figuras mais importantes do Brasil. Em um Estado Democrático de Direito, os denunciados devem ter amplo direito à defesa. Por outro lado, não há espaço para anistia ou perdão para aqueles que conspiraram contra os interesses nacionais. A tarefa de defender a democracia, independente do lado político, é de todos nós.
As 270 páginas apresentadas pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, são um resumo de farto conjunto investigatório e probatório obtido de forma isenta e rigorosa pela Polícia Federal. Sem pirotecnia, prisões arbitrárias ou show midiático, se buscou republicanamente os nomes, os motivos e a forma de atuação daqueles que queriam uma ruptura violenta do que há de mais precioso em uma democracia: o respeito ao voto dos eleitores.
É estarrecedor notar que se instalou no âmago de nossa nação uma verdadeira “Milícia Federal” formada por falsos patriotas. Esse grupelho tentou um golpe de estado e só não obteve êxito devido à solidez de nossas instituições e ao apreço à nossa constituição por parte das nossas Forças Armadas, em especial, do comando do Exército.
A denúncia, que lista 33 pessoas, demonstra claramente a atuação de uma organização criminosa constituída “desde pelo menos do dia 29 de junho de 2021 e operando até o dia 8 de janeiro de 2023”, segundo o próprio procurador. Uma turma que espalhou mentiras sobre as nossas urnas, sobre o nosso processo eleitoral e, ao ser derrotada, fez de tudo para não deixar “Lula subir a rampa”.
Gonet tem razão quando observa que “os denunciados tinham a obrigação de proteger a segurança coletiva, os poderes constitucionais e o patrimônio público”, mas, ao fim e ao cabo, usando brasileiros e brasileiras como massa de manobra até o dia em que estes invadiram a Praça dos Três Poderes e depredaram a República.
Por outro lado, além da estarrecedora intenção de implementar uma ditadura cívico-militar novamente em nosso país, chama atenção a audácia dos conspiradores liderados por Jair Bolsonaro (PL) a ponto de planejar o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
A denúncia é clara ao tratar da ciência do plano pelo, então, presidente da república, Jair Bolsonaro, e de sua anuência, que ficam evidentes através de diálogos posteriores e comprobatórios. O ex-capitão acompanhou a evolução do esquema e a possível data de sua execução integral.
Se esses “homens de bem” tivessem alcançado êxito nesta trama do mal, o Brasil seria jogado a anos obscuros de violência, perseguição, maus tratos e desaparecimentos. Realidade que muitos brasileiros vivenciaram de perto e até hoje assola famílias inteiras, como a mostrada no filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres.
Ainda bem que ainda estamos aqui para sermos testemunhas de que isso não aconteceu. E também para cobrar autoridades e lideranças de outros campos não progressistas de sua responsabilidade para com o Brasil e com a história. Devem esses deixar claro se o compromisso deles é com Jair Bolsonaro e seus golpistas, criando narrativas que tentam atenuar a responsabilidade do ex-capitão, ou se é com a pátria amada Brasil vem em primeiro e não tolera a sanha daqueles que colocam seus projetos pessoais à frente dos interesses do Brasil e dos brasileiros.
Arilson Chiorato é deputado estadual e presidente do PT-PR