Pesquisa é uma fotografia do momento. Responde à metodologia e à qualidade do seu campo. Isso é uma absoluta verdade, como tenho repetido aos meus clientes nas décadas de trabalho com campanhas eleitorais. Contudo, elas são faróis que iluminam problemas a serem resolvidos e, principalmente, indicam tendências. Foi assim que recebi o DataFolha de ontem. E é sob esse prisma que imagino que todos, situação e oposição, devam se debruçar para analisá-lo.

Mas um alerta! É importante não tomar o DataFolha como uma verdade absoluta e incontestável. Comparar com outras pesquisas e obter outros dados é salutar. Como com o seu médico e o seu advogado, sempre é bom ter uma segunda opinião. Há números que mostram realidades diferentes, apesar de apontarem na mesma direção.

Um dos pontos que ganhou destaque no debate ao longo do dia de ontem foi sobre o que teria causado a grande queda na aprovação do governo Lula III. Dois fatores foram apontados como os principais culpados: o PIX e o aumento do preço dos alimentos.

E aqui reside a importância da leitura correta da pesquisa. Pois, ao realizá-la, encontra-se o vírus, o diagnóstico da doença é feito corretamente, e consegue-se aplicar a vacina e o medicamento adequados. O medicamento, porque a doença já existe; e a vacina, para que não se alastre e não ocorra em outro momento, pois já se identificou a força dela para destruir os anticorpos da aprovação do governo.

Penso que responsabilizar o PIX pela queda na aprovação do governo seja uma covardia com o próprio PIX e uma supervalorização da atuação da oposição em sua tara pela distribuição de fake news. Não, eu não acredito que a avaliação do governo tenha implodido por conta de uma cagada de um burocrata e algum problema na condução do processo de divulgação.

Acredito mais em um desabamento causado pelo aumento dos preços dos alimentos. Isso é sentido no bolso de todos aqueles que vão ao supermercado e verbalizado por eles. Da banana ao café, quem vai ao mercado toda semana já aproveita a fila do caixa para comentar com o vizinho logo atrás que os preços subiram desde a última vez que esteve ali.

Só o preço dos alimentos teria força suficiente para fazer os eleitores mais fiéis a Lula migrarem para a desaprovação. Para eles, o peso dos alimentos no orçamento é mais sentido. Esse é o dado que considero mais importante em toda a pesquisa.

O governo precisa ter cuidado — e acredito que esteja tendo — para não cair na armadilha dos analistas de ocasião, tampouco dos leitores de bolas de cristal digitais, que podem colocá-lo no caminho errado. A solução para reverter a tendência de queda está na política. E é para o preço dos alimentos que o olhar deve estar focado, como já mostrou estar o governo em reunião recente no Palácio do Planalto, com o presidente Lula e alguns ministros, em que a pauta foi, justamente, o preço dos alimentos.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político