O desemprego no Brasil está ficando fora de moda. Segundo dados do IBGE, o número de desempregados no país alcançou seu menor índice nos últimos 12 anos, chegando a 6,2%. Para termos uma ideia da importância desse dado, em 2019 a taxa de desemprego era de 11,8%, e em 2020 cresceu significativamente, atingindo 14,2%. Ou seja, de lá para cá, houve uma queda de mais de 40%.
Números que, com certeza, o governo deve comemorar. Eles mostram que as políticas adotadas estão gerando resultados concretos, estimulando a economia, a geração de empregos e ampliando oportunidades. Podemos dizer que vivemos uma situação de pleno emprego.
Contudo, do ponto de vista político, essa boa notícia deve acender um sinal de alerta em Brasília. Quando analisamos os dados do desemprego por estado, percebemos que a candidatura governista enfrenta maior dificuldade eleitoral justamente nas 10 unidades da federação com as menores taxas de desemprego.
Embora o senso comum nesses estados diga que os empregos são fruto do espírito empreendedor e do trabalho árduo de sua população, e apesar do discurso oportunista de alguns governadores que tentam capitalizar a instalação de novas empresas em seus territórios como mérito exclusivo de suas gestões, sabemos que o ambiente macroeconômico favorável e os estímulos ao pequeno negócio promovidos pelo governo central são determinantes para os números que vemos hoje. O exemplo do Paraná ilustra isso bem: em 2019 e 2020, os dois primeiros anos do governo anterior em Brasília, o desemprego no estado estava em dois dígitos. Devemos considerar a pandemia? Sim, devemos. Aquela mesma pandemia que o governo anterior demorou a enfrentar. Mas a curva do desemprego já era ascendente antes dela.
E por que a redução do desemprego pode representar um risco político-eleitoral para o governo federal? Se as pessoas acreditam que foram elas, e não as políticas econômicas, que garantiram seus postos de trabalho, esses eleitores terão dificuldade em reconhecer qual é a melhor alternativa para manter suas vidas nesse caminho de prosperidade. E com essa miopia – ou até mesmo cegueira –, há um risco real de depositarem seus votos em alguém que, uma vez no poder, os conduza de volta ao desemprego.
Por isso, o grande desafio do atual governo é disputar a narrativa, em todo o país, mas especialmente nesses estados onde os resultados das políticas macroeconômicas aparecem mais rapidamente. É fundamental comunicar de forma clara os impactos positivos e concretos da atuação federal na economia. Caso contrário, o governo corre o risco de, ironicamente, sofrer nas urnas justamente entre aqueles eleitores que mais se beneficiam da estabilidade e do bom ambiente econômico – que, vale lembrar, não favorece apenas os empresários.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político