há 3 dias
João Barbiero

O tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu e feriu tantas famílias abriu uma fresta de luz no cenário político do Paraná. Em meio ao luto e à reconstrução urgente, a troca de mensagens entre o diretor-geral de Itaipu, Enio Verri, e o governador Ratinho Júnior mostrou algo simples e poderoso: quando a política se move pelo diálogo e pela cooperação, a sociedade inteira ganha.
O gesto foi direto. Enio Verri colocou Itaipu à disposição do governo estadual para ajudar na reconstrução do município. Ratinho respondeu com correção e rapidez: agradeceu, reconheceu a importância do apoio e sinalizou coordenação. Nada de pirotecnia, nada de briga por manchete. Apenas duas autoridades, de campos distintos, cumprindo o papel que a população espera - somar esforços para proteger vidas, recuperar a infraestrutura e devolver dignidade a quem perdeu tudo.
É disso que o Paraná precisa: de pontes, não de muros. Numa democracia madura, adversários não são inimigos; são partes de um mesmo pacto civilizatório. A disputa por visões de futuro é legítima e faz bem ao Estado - desde que não destrua a possibilidade de cooperar quando a realidade exige. O sofrimento das famílias de Rio Bonito do Iguaçu e de outras cidades não cabe em narrativas de “nós contra eles”. Cabe, isto sim, em respostas concretas, articuladas e rápidas.
Que essa cena sirva de lição. O Paraná é diverso: do Oeste produtivo às universidades do Norte, da indústria da Região Metropolitana às vocações turísticas do Litoral. Nada disso se sustenta com uma política feita de preconceitos, cancelamentos e tentativas de desumanizar o diferente. Quando tratamos quem pensa distinto como inimigo, diminuímos o espaço do bom senso, travamos soluções e empobrecemos a vida pública. Quando ouvimos, somamos capacidades e encurtamos o caminho entre problema e solução.
Abrir-se ao diálogo não é abdicar de princípios. É reconhecer que princípios se afirmam também pela capacidade de construir com quem discorda. Itaipu, o Governo do Estado, as prefeituras e o Governo Federal têm responsabilidades distintas e complementares. Funciona melhor quando cada um traz seu pedaço da solução: técnica, recursos, logística, presença social. E funciona melhor ainda quando as lideranças dão o exemplo de respeito, serenidade e foco no que importa: gente.
Por isso, um chamamento: que o povo do Paraná rompa preconceitos e topos de bolha. Que cada um de nós - no trabalho, na igreja, na universidade, no sindicato, na associação de bairro - faça o exercício de ouvir o outro com genuína curiosidade. Perguntar antes de atacar. Propor antes de negar. Lembrar que política não é ringue, é ferramenta de organização da vida comum. Política é um jogo de soma.
A reconstrução de Rio Bonito do Iguaçu será um teste. Se a cooperação prevalecer, a cidade se levantará mais rápido e com mais qualidade. Se o espírito de soma se espalhar, outras agendas avançarão: segurança, educação, saúde, desenvolvimento regional, transição energética. Tudo isso pede coordenação e maturidade. Não há solução fácil para problemas complexos - e muito menos solução solitária.
Que a atitude de Enio Verri e de Ratinho Júnior fiquem na memória como um roteiro simples para tempos difíceis: oferecer ajuda, aceitar ajuda, coordenar ações e trabalhar junto. O resto é barulho. O Paraná é maior que as nossas diferenças, e as famílias que choram hoje merecem um amanhã construído por mãos que, mesmo divergindo, sabem se apertar quando a vida pede união.
João Barbiero é empresário e analista político
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