O placar surpreendeu. Poucos imaginavam que seria esse. Diante dos movimentos da oposição, tentando livrar os super-ricos, as bets e os bancos de pagar um impostinho, era razoável esperar que votassem contra. Mas na política, quem tem campanha, tem medo. Quem tem voto em disputa, recua diante da pressão popular. E eles recuaram.
E a conquista é imensa. Estamos falando de 16 milhões de brasileiros e brasileiras beneficiados. Dez milhões que simplesmente deixarão de pagar o imposto de renda. Outros seis milhões que terão suas alíquotas reduzidas. É gente que finalmente verá no contracheque um alívio concreto. Justiça tributária acontecendo de fato, no bolso, na vida real. É preciso comemorar, sim. Bater bumbo. Espalhar alegria. Porque não se trata apenas de uma medida técnica. É a materialização de uma escolha política: a de que o peso do Estado não pode recair sempre sobre os mesmos ombros, enquanto os mais ricos seguem blindados.
Mas a vitória não é apenas sobre números. É também a vitória da política, da mobilização, das ruas e das redes. A prova de que quando centro-esquerda e esquerda puxam o debate com clareza, consistência e organização, conseguem influenciar os rumos do país. Não foi uma vitória isolada: foi a vitória da estratégia, da persistência, da capacidade de traduzir um tema árido em uma mensagem simples e justa. E foi também o empurrão que fez os extremistas se recolherem em silêncio covarde, incapazes de sustentar seu discurso vazio diante de uma proposta que dialoga com a maioria.
Não há dúvidas: a atuação firme de quem hoje se coloca ao lado do governo do presidente Lula foi decisiva. O debate ultrapassou o campo progressista, alcançou a mídia tradicional e ganhou a sociedade. A defesa da isenção até R$ 5 mil e da redução até R$ 7.350 mostrou força, legitimidade e justiça. Mostrou que não é um favor, mas um direito.
Cobrar dos super-ricos, das bets, dos bancos - que historicamente pagam quase nada - é um debate de classe, sim. Mas não precisou ser pesado ou abstrato. Quando apresentado de forma direta, acessível, esse debate se tornou parte da vida cotidiana. Cada trabalhador entende que não pode continuar financiando sozinho o funcionamento do Estado enquanto os maiores acumuladores de riqueza seguem intocados. A pedagogia política feita nesse processo foi tão importante quanto o resultado alcançado.
E a lição que fica é clara: o mito de que a direita detém o monopólio das redes e das ruas no Brasil não se sustenta. Não resistem ao menor contraponto quando encontram mobilização organizada, frequente e com conteúdo. Por isso, quanto mais o campo progressista ocupar as ruas e as redes, mais sua narrativa - que é simples, justa e majoritária - será espraiada e defendida. Essa vitória mostra que quando a centro esquerda e a esquerda falam com unidade, fala com o Brasil.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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