Sábado, 28 de Junho de 2025

Artigo: ‘Lula III: o governo antissistema’, por Oliveiros Marques

2025-06-27 às 14:30

Tomando por verdade os resultados divulgados nesta semana por uma pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, realizada no estado do Pará, o segmento etário que pior avalia o governo do presidente Lula está concentrado, de maneira bastante significativa, na faixa entre 25 e 34 anos. Trata-se, evidentemente, de acordo com o mesmo estudo, do grupo menos propenso a votar por sua reeleição.

Esse segmento constitui parte expressiva do que se convencionou chamar de Geração Z — jovens-adultos que, segundo a obra Polarización, soledad y algoritmos – Una radiografía de las nuevas generaciones, de Antoni Gutiérrez-Rubí, se mostram infelizes, desencantados, pessimistas em relação ao futuro e em confronto com o sistema. Um verdadeiro potencial mobilizador, acredito.

Ao me deparar com a pesquisa e com o texto de Gutiérrez-Rubí, fiquei refletindo sobre o que pode estar levando o governo Lula — e o próprio presidente, enquanto liderança — a ter números tão ruins entre esses jovens. Que sinal trocado estaria sendo emitido? Ou que mensagem essencial não estaria chegando?

Entre as muitas possíveis respostas — que certamente estão sendo exploradas nas pesquisas qualitativas realizadas pelo governo —, uma ideia me ocorreu: para essa parcela da população, o terceiro mandato de Lula estaria sendo percebido como parte do establishment. O rosto visível, portanto, da frustração que os faz acreditar que terão uma vida adulta pior que a de seus pais. O responsável direto por sua dor, seu pessimismo e seu desencanto.

Talvez não baste dizer a esses jovens que o governo representa a ruptura com esse futuro sombrio que tanto os angustia. O ceticismo é grande demais para que apenas uma mensagem de esperança seja suficiente. Talvez seja necessário um movimento anterior: desfazer a imagem de que o governo Lula representa o status quo.

É aqui que entra um elemento importante da conjuntura: a recente votação no Congresso que derrubou o aumento do IOF — medida que recairia de maneira muito mais significativa sobre os mais ricos e instituições que, historicamente, pouco ou nada contribuem em impostos. A partir dessa votação, o governo e seu campo político, creio, tenha a oportunidade de se posicionar claramente como uma força antissistema, comprometida com rupturas reais e profundas com a ordem vigente — a mesma que, no fundo, é responsável pelo mal-estar generalizado que toma conta desses corações.

E o inimigo comum para dar sentido a esse debate parece bastante evidente. Está na hora de alguém dizer, não apenas a esses jovens, mas especialmente a eles, que tipo de banda toca a maioria dos parlamentares no Congresso Nacional. E colocar, com clareza, no RG político desses senhores e senhoras os parceiros ideológicos com os quais compartilham sua visão de mundo.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador

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