Quarta-feira, 19 de Fevereiro de 2025

Artigo: ‘O golfo das big techs’, por Oliveiros Marques

2025-02-13 às 08:33

Parece piada, mas não é. Google e Apple renomearam o Golfo do México como Golfo da América, atendendo aos caprichos de Donald Trump. Apesar de valer — por enquanto — apenas para quem acessa as plataformas a partir dos EUA, a medida é de uma violência e de um “capachismo” tão grande que é difícil de acreditar.

Agora, imagine a seguinte situação: o bilionário acorda na Casa Branca, em um dia frio em Washington, e, para aquecer seu dia, resolve atender à ignorância geográfica do povo americano. Então, baixa um decreto determinando que, a partir daquela data, a capital brasileira é o Rio de Janeiro, e não mais Brasília. Pronto, seus aliados nas big techs mudam a capital brasileira.

Já venho há algum tempo destacando o comportamento partidário dessas empresas. E, a cada dia que passa, elas nos dão mais argumentos a favor dessa tese. Isso é absolutamente grave. Não vou me repetir sobre a capacidade que elas têm de administrar o alcance dos conteúdos, mas preciso reafirmar: essa gente é a maior ameaça às democracias nos dias de hoje.

Por isso, a regulação da sua atuação não é apenas necessária. É imprescindível. No caso brasileiro, o Congresso Nacional precisa se mobilizar para aprovar as iniciativas legislativas que impõem regras claras à atuação dessas empresas em território nacional. O lobby das big techs nos corredores da Câmara e do Senado é grande e atuante — e tem sido exitoso em segurar a tramitação de alguns projetos importantes.

À parte a oposição ao atual governo brasileiro, que vive de fake news e de bajular Trump — até mesmo quando ele enfia a faca no fígado do Brasil com seus tarifaços e deportações —, é compreensível que siga em seus movimentos desprovidos de cognição. Contudo, aos demais parlamentares de oposição, um alerta: um dia, vocês serão vítimas.

Agora, aos governistas, penso que esse seja um bom combate. É preciso alertar a população sobre os riscos que ela, seus filhos e seus negócios correm diante de tanto poder concentrado e obscuro nas mãos dessas empresas. É importante, sim, dizer que, ao permitir poder absoluto às big techs, estamos colocando nossas crianças em risco de serem aliciadas para os mais absurdos objetivos. Que os idosos correm riscos de golpes. Que os evangélicos correm o risco de, um dia, os autodeclarados ateus Mark Zuckerberg e Elon Musk acordarem e decidirem que a “palavra” não poderá mais circular em suas redes. Os riscos são reais.

Impor regras às plataformas é uma boa briga para o momento. Que o medo de banimento das redes não limite os movimentos de quem defende uma sociedade livre e a democracia.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político