Terça-feira, 20 de Maio de 2025

Artigo: ‘O Power Point do golpe’, por Oliveiros Marques

2025-05-20 às 10:35

Parece que os golpistas brasileiros têm uma arma preferida: o programa para apresentações gráficas produzido pela big tech Microsoft, o PowerPoint. E não importa se o golpista é civil ou militar — lá está o programa sendo utilizado, com o desprezo pela estética estampado em seus slides. Foi assim com os golpistas em Curitiba, e se repetiu agora, na tentativa de golpe em 2022/2023.

Fico imaginando a cena: caso Benjamin Constantent – então tenente-coronel – tivesse tido acesso a esse programa enquanto arquitetava o golpe militar que inauguraria a sequência de uso das patentes para derrubar regimes no Brasil. Na reunião no Clube Militar, enquanto a monarquia bailava na Ilha Fiscal, cumprimentando a princesa Isabel e o Conde d’Eu pelos 25 anos de casamento, Constant projetaria, na parede branca do clube, os caminhos a serem percorridos pelas tropas que se dirigiriam ao Campo de Santana, comandadas por um enfermo marechal Deodoro da Fonseca, para derrubar o governo do ministro Ouro Preto e de D. Pedro II. Teríamos hoje resolvidos vários problemas para interpretar o pensamento e os movimentos daqueles golpistas.

Mas, para nossa felicidade, a turma do golpista inelegível nos deixou o PowerPoint com tudo esquematizado: argumentos, movimentos, autoria. Sim, porque, embora o documento não tenha assinatura, basta procurar um pouco para encontrar as várias patas de quem o elaborou. O arquivo, salvo no celular do golpista delator Mauro Cid – e vejam só, também um tenente-coronel, como aquele tal Benjamin Constant -, é uma prova cabal da existência de um plano de atentado contra o Estado Democrático de Direito. Mais uma, aliás.

O documento, a princípio produzido por membros da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), apresenta falsos argumentos jurídicos para sustentar uma intervenção militar com o objetivo de derrubar o governo democraticamente eleito. É mais uma comprovação de que o 8 de janeiro – assim como os ataques de dezembro de 2022 – não foram movimentos espontâneos de uma horda descontrolada. As falsas tiazinhas e os tiozinhos do zap, ou a moçoila do batom, haviam sido, sim, convocados e estavam sob o comando de um projeto de golpe desenhado por civis e militares.

Por isso, a manutenção da mobilização pelo “Anistia Não” – que, sinceramente, eu preferiria que fosse “Anistia é o caralho” – é tão importante. Colocar essa gente no quadro dos criminosos golpistas é tarefa de todos os democratas, de esquerda ou não. Lá no golpe de 1889, os militares golpistas foram promovidos. Deram origem a essa gente que acredita e defende a existência de um Partido Militar e que julga poder tudo pelo uso da força. Para que não sigamos com novas gerações de golpistas, é preciso matar o mal pela raiz. E isso se fará com a punição exemplar de cada um: financiador, planejador, executor, beneficiado.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político