Quinta-feira, 07 de Agosto de 2025

Artigo: ‘O sequestro do Congresso’, por Oliveiros Marques

2025-08-07 às 11:35
Foto: Bruno Spada
A tomada de assalto do Plenário da Câmara dos Deputados por parlamentares bolsonaristas ultrapassou todos os limites – até mesmo os já conhecidos de suas manifestações mais tresloucadas. De dentro para fora, com um pouco menos de violência material, mas com uma carga simbólica milhões de vezes mais grave, esses parlamentares repetiram os gestos dos golpistas de 8 de janeiro de 2023, que destruíram as sedes dos três Poderes da República – símbolos do Estado Democrático de Direito.
E que fique claro: o objetivo é o mesmo. Defender um político que atentou contra a democracia, protagonista de um plano golpista que cogitava, inclusive, a eliminação de adversários políticos. Um projeto que pretendia implementar, na prática, o “vamos metralhar a petralhada”. Esses deputados e deputadas extremistas querem, simplesmente, livrar da condenação aquele que vem sendo apontado como o chefe de uma organização criminosa golpista.
Como fizeram com a articulação para que o presidente norte-americano implantasse um tarifaço colocando em risco empresas e os empregos aqui no Brasil, eles não se movem pelo Brasil ou pelo povo brasileiro. Movem-se por interesses próprios – mesquinhos, condenáveis e antidemocráticos.
A maioria, que inclui todos os democratas, da esquerda à direita, não pode permitir que o Parlamento seja sequestrado por essa turba. Há notícias de que Arthur Lira teria costurado um acordo para encerrar a invasão ao Plenário.
E aqui é importante destacar os termos desse possível acordo:
•A votação da PEC das Prerrogativas, que, na prática, busca restringir a prisão em flagrante de políticos;
•Uma proposta legislativa que exigiria autorização do Legislativo para o cumprimento de medidas judiciais contra deputados e senadores dentro do Congresso;
•E a mudança no foro privilegiado, para que parlamentares escapem do julgamento pelo STF e sejam julgados por instâncias inferiores – onde, não raramente, as influências políticas locais pesam mais do que a justiça.
Ou seja, o verdadeiro objetivo da bancada bolsonarista ao paralisar os trabalhos no Congresso – inclusive a votação que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais – é defender privilégios para si mesmos. Nada disso é por projetos ou por pautas populares. É, mais uma vez, um movimento para beneficiar políticos – e uma única família, em especial.
Líderes se deixarem seduzir por essa cantilena arriscam afundar ainda mais o Parlamento em uma espiral de desgaste e deslegitimação – em que todos ali perdem. Imagine se a base social do governo, Brasil afora, começar a dizer que deputados e senadores de certos partidos pararam os trabalhos para impedir a isenção do imposto de renda de quem ganha até R$ 5 mil, ou a redução para quem ganha até R$ 7 mil, apenas para defender os próprios interesses. Não tenho dúvida: isso teria um custo altíssimo para mais de 80% da atual oposição.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político

*Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Portal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos termos e problemas brasileiros e mundiais que refletem as diversas tendências do pensamento.